DEBANDADA

Poucos políticos no velório de Bita do Barão

Quase não foi registrada a presença de políticos do estado durante o velório do pai de santo Bita do Barão de Guaré, que morreu na última quinta-feira (18), em Teresina-PI

Reprodução

O número foi escasso. Popularizado como guru dos políticos, sendo o mais ilustre destes o clã Sarney, o pai de santo Bita do Barão de Guaré, que morreu na quinta-feira (18), em Teresina (PI), não reuniu o que era tão esperado da classe na cerimônia de despedida no Palácio de Iansã, na Rua Rui Barbosa, em Codó.  O ex-presidente José Sarney manteve a descrição peculiar, enviando uma coroa de flores em nome da família.

Modesta entre uma dúzia de peças póstumas em homenagem ao líder espiritual, a coroa em nome da família se perfilava com as de políticos paroquiais, como Zito Rolim, e do empresariado nativo, como o Grupo Carvalho. Nem mesmo reluzia para os presentes, a maioria populares de comunidades distantes ou próximas a terreiro.

Na penúltima noite do velório de Bita na Tenda Espírita Rainha de Iemanjá, um dos endereços mais famosos de Codó, a especulação entre os presentes é que a ex-governadora Roseana Sarney veio pessoalmente dar as condolências à herdeira do legado do mestre da Umbanda, Janaína Nonato. Não veio. Entre terços de orações puxadas por pais, filhos e mães de santos, os comentários sobre uma improvável vinda do próprio Sarney era o café pequeno.  O político optou pelo terreno espiritual.

A transversalidade da história política de Sarney e Bita do Barão é notória.  Consta que Sarney recorria à Bita como conselheiro.  Entre a classe política existe a crença bastante difundida de que a causalidade que colocou o político maranhense no comando do Palácio do Planalto teve um empurrãozinho espiritual do pai de santo. São conversas que saíram dos bastidores para ocupar o repertório lendário da política brasileira.

“Me disseram que ela está descansando na casa da Janaína”, disse em tom confessional, se referindo à ex-governadora Roseana, o funcionário Francisco da Silva, 20 anos convivendo de perto com o mestre da Tenda Rainha Iemanjá. No terreno das especulações outros nomes emergiram. O do ex-deputado estadual Ricardo Murad foi um destes. Se esteve presente, não deixou registro, uma total novidade na postura do político, cunhado da ex-governadora, de estirpe Murad espalhafatosa.

Roseana é madrinha de batismo católico de Janaína Nonato. Ela é mãe pequena, preparada pelo pai para sucedê-lo na hierarquia da casa. Mas, a transferência de poder não se dá de forma tão simples como ocorre na política maranhense e brasileira, com mandatos passando de pai pra filho. Obedecerá a uma decisão colegiada, retirada da reunião logo após o enterro do corpo de Wilson Nonato de Sousa, nome de batismo de Bita do Barão.

Embora suas preferências políticas fossem públicas, o Mestre Bita do Barão costumava alardear exercer posição conciliatória entre antagônicos.  Atribuía a seu poder espiritual superar as escaramuças políticas domésticas. No velório, Zito Rolim, deputado estadual, e o Biné Figueiredo, da ala adversária, escolheram horários diferentes para não se cruzarem no salão. Rolim decretou luto de três dias no município. Coincidente com a Semana Santa a medida foi soterrada, alimentando especulações.

Codó se despede de Bita do Barão

A população de Codó foi às ruas se despedir do Mestre Bita do Barão. Às 17h30 de sábado (20) o corpo de Wilson Nonato da Silva deixou para trás a Tenda Espirita Rainha de Iemanjá, na rua Rui Barbosa, 290, para nunca mais voltar. Entre cânticos e lágrimas, dezenas de pais, filhos, netos e bisnetos de Santo se despediram do pai de Santo mais famoso do Brasil. A grande maioria, pessoas pobres de comunidades descendentes de quilombolas de Codó, de outros municípios maranhenses e fies da umbanda.

“Que Olorum o receba”, disse Biné , presidente da Federação de Umbanda e Culto Afro-Brasileiro do Maranhão. Em clima acima de 40 graus, pais de santos disputavam o espaço no interior da Tenda onde ocorreu o Tambor de Choro, ritual de despedida para o Pai de Santo, dois dias depois do velório realizado no Palácio de Iansã.

No interior da casa prevaleceu o tom branco das roupas e a tez dos descendentes de quilombolas, gratos aos trabalhos recebidos nas consultas grátis das quartas-feiras, quando Mestre Bita abria as portas aos pobres. São esses os crentes ao pai, de Santo. A ausência dos poderosos da política estadual e da apresentadora de tevê Xuxa Meneghel foi o assunto que dividiu as conversas durante todo o velório.

Políticos codoenses aproveitavam a brecha para a contumaz caça aos votos. O prefeito da cidade Francisco Nagib, filho do poderoso empresário FC Oliveira, ofereceu a Brigada de Incêndio da empresa para fazer o translado do corpo até o Cemitério Central. Não deu certo, mas expôs a marca da empresa decorada com as coroas fúnebres e abrindo caminho com estridente sirene. Nem precisava, durante o percurso a população aguardava para finalmente crer que Bita Morreu. Biné Figueiredo, ex-prefeito que luta para retomar o poder na cidade, dava a mão ao mundo.

Sucessão

“O que é sagrado não se revela”, filosofava o pai de santo piauiense Antonio Cruz ou Antônio do Ogum. Autodenominado liderança das comunidades do terreiros, desde 15 anos de idade entrou em contato com o mestre. A impaciência do pai de santo é sobre o questionamento de como se dará a sucessão.

Será decidida por um conselho, formado por pessoas diretamente ligadas ao Terreiro. Entre as conjecturas predominantes, a filha Janaína Nonato, mãe pequena da Tenda comandada por décadas por Bita do Barão, seria o nome mais apropriado para sucedê-lo. Mas há muito mais mistérios na sucessão do império do Mestre Bita do Barão de Guaré que as vãs filosofias.

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