Luto

Maranhão e umbanda perdem Bita do Barão

O estado de saúde do babalorixá era considerado gravíssimo pelos médicos, que já descartavam a hipótese de recuperação.

Morreu nesta quinta-feira, 18, aos 106 anos, o maranhense Wilson Nonato de Souza, mais conhecido como Bita do Barão. A filha do babalorixá, Janaína Nonato de Sousa, confirmou a morte do pai de santo no início da tarde.

Papai Infelizmente veio a falece aqui no hospital. Estamos cuidando para o corpo ir pro Codó onde acontecerá seu velório

Bita do Barão estava internado há 10 dias no Hospital São Paulo, em Teresina, e há 4 estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O estado de saúde do babalorixá era considerado gravíssimo pelos médicos, que já descartavam a hipótese de recuperação.

O Corpo deve ser levado ainda hoje, 18, para a cidade de Codó. O velório vai acontecer na residência do pai de santo na rua Rui Barbosa, no Centro de Codó, considerada a capital brasileira da Umbanda. Os familiares de Bita estavam informando o estado de saúde do pai de santo por meio das redes sociais. Várias caravanas inclusive, já se preparavam para encontrar o babalorixá ainda com vida.

A Federação de Umbanda e Culto Afro-brasileiro do Maranhão – FUCABMA emitiu uma nota de pesar sobre a morte de Bira.

Bita: o encantado Barão de Guaré

NOTA DE PESAR


A Federação de Umbanda e Culto Afro-brasileiro do Maranhão – FUCABMA lamenta profundamente a passagem para plano espiritual do Sr. Wilson Nonato de Souza, o Pai Bita do Barão de Guaré, ocorrida agora pouco na capital piauiense.

Bita do Barão iniciou sua sólida missão religiosa ainda na infância no Povoado de Santo Antônio dos Pretos, zona rural de Codó. Ao longo de muitas décadas, exerceu o ofício de liderança religiosa da Umbanda e Terecô à frente da Tenda Espírita de Umbanda Rainha Iemanjá. Dada sua grande projeção, foi considerado por muitos como o maior Babalorixá do País, atraindo milhares de pessoas de todas as partes do País e do mundo para atendimentos espirituais e acompanhamento das festividades rituais do terreiro, notadamente no mês de agosto quando se celebrava a Festa de Todos os Santos e Orixás.

Comendador da República desde o governo do Presidente José Sarney, na década de 80, Pai Bita do Barão foi vice-presidente da FUNCABMA e tema de inúmeros estudos por parte de pesquisadores e cineastas brasileiros e estrangeiros, sendo um grande expoente da salvaguarda e memória das religiões de matrizes africanas, uma vez que acolheu centenas, talvez milhares, de clientes, amigos, babalorixás e filhos-de-santo com os quais dividiu saberes e fazeres referentes à ancestralidade e resistência cultural do povo afro-maranhense.

Diante de sua esplendorosa trajetória espiritual no plano terrestre, pela qual expressamos gratidão pela honrosa oportunidade de aprendizado, temos a certeza que o Pai Bita do Barão terá lugar de destaque não apenas na memória do Povo de Santo como a de que também será bem recebido no Orum. Inspirados em sua história, seguimos na profissão de fé em busca da construção de um meio social mais humano, tolerante e amoroso que a Umbanda nos motiva.

Quem foi Bita do Barão?

Nascido em uma família pobre do povoado de São Antônio dos Pretos, onde se dançava o Terecô nas matas, por causa da repressão policial, a trajetória de Bita do Barão na religião afro-brasileira é regada a muitos mistérios. Na infância, Wilson Nonato era muito agitado, então ganhou dos pais o apelido de “Bita” que, na linguagem da cidade, quer dizer “bode”. Já a alcunha de “Barão” faz referência ao Barão de Guaré, que é a entidade que o pai de santo incorpora.

A descoberta de Bita do Barão como médium deu-se ainda na juventude, quando, incorporando Barão de Guaré, conseguiu desvendar o roubo de uma arma na cidade, dizendo o local e quem havia roubado o objeto.

A fama, além da dedicação aos cultos, deve-se às amizades com nomes influentes da política brasileira. Dentre as diversas histórias, conta a lenda que os tambores soaram dia e noite, por sete dias, nos idos de 1985, quando Tancredo Neves morreu e deixou a presidência da República ao então vice, José Sarney. Recentemente, boatos também indicam que semanas antes da votação do impeachment que derrubou Dilma Rousseff do poder, Michel Temer fez uma visita ao babalorixá. Outro que também já teria se consultado com Bita seria o ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Poderoso todos os anos, no mês agosto, a cidade de Codó parava durante uma semana inteira para celebrar o Festejo da Tenda Espírita em que Bita do Barão é mestre. Na ocasião, os 500 filhos e filhas de santo que o seguem dançam em louvação. Há distribuição de brinquedos a crianças e banquete à vontade.

Bita do Barão, em entrevista a Globo News, afirmou: “a umbanda é uma religião que está crescendo. Mudou muito. Graças a Deus”. E, em Codó, ela parece ter encontrado terreno fértil.

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