Luto na advocacia

Pedro Leonel: do Direito à crônica refinada

A morte do advogado Pedro Leonel repercutiu na sociedade maranhense nesta segunda

Reprodução

São Luís é a terra do acolhimento. Assim como acolheu seu fundador Daniel de La Touche há 407 anos, vindo da França, também não recusou os portugueses, como Jerônimo de Albuquerque, além de africanos escravizados e carcamanos libaneses, fugidos das guerras em busca da paz para viver. Aqui se juntaram para construir, na mistura de línguas, no jeito de empreender, de produzir, de sofrer e de vencer, e fazer a histórica desta cidade. Tudo somado na exploração ou na colaboração deu-se a riqueza cultural que tornou a capital maranhense, patrimônio da humanidade.

Europeus, árabes, orientais, índios tupinambás e guaranis, libaneses, japoneses, brasileiros de todos os Estados se juntaram na maranhensidade. Vindos da Baixada, do Sul, do Sertão, das chapadas e de qualquer lugar, todos vieram para estudar, crescer e fazer a metrópole do Maranhão. Vieram para estudar, trabalhar, produzir e tornar o ludovicense uma espécie antropológica ainda por se decifrar. E meio a esse caldeirão cultural e social, muitos se destacaram na política, na literatura, no direito, nos negócios e nas artes.

Nesta segunda-feira (22), um desses nomes de destaque, filho de Viana, na Baixada, Pedro Leonel Pinto de Carvalho, deixou de luto a família; um vazio na área processual civil e a saudade pesarosa a todos que o conheceram, conviveram ou ouviram dele falar. O ás da advocacia, professor aposentado de Direito da Universidade Federal do Maranhão, radialista na juventude e jornalista por décadas, Pedro Leonel faleceu, aos 82 anos. Católico de postura conservadora, ele nunca se escondeu atrás de suas convicções, tanto nos artigos que escreveu por vários anos em O Imparcial, a convite deste jornalista, quanto na disposição de defender a justiça e advogar contra as injustiças.

Foram anos de colaboração de alto nível. Leonel escreveu textos claros, posição política marcante, linguagem cortante e vocabulário enriquecedor. Gramaticalmente cuidadoso ranzinzo com o texto final. Vez por outra ele mandava-me bilhetinhos em que reclamava qualquer descuido da revisão ou até do programa de paginação do jornal, em que trocava um travessão por um hifén, ou um expressão em itálico ou negro, por exemplo. Era o critério do articulista, junto com o respeito para com o leitor.

Eu e o dr. Pedro Leonel conversávamos muito. Aqui no jornal, quando ele tinha tempo de aparecer, ou por telefone. Discordávamos nas políticas, mas dentro do bom humor que ele cultivava, ora com serenidade, ora dando animadas gargalhadas. Por exemplo, quando discorria sobre as discrepâncias do comunismo e comunistas nos tempos atuais no Maranhão e no mundo.

Pedro Leonel escreveu um livro, somatório das crônicas publicadas em O Imparcial, cujo título já remete ao conteúdo: “Crônicas Entre Aprazíveis e Desprezíveis”. Em uma de suas crônicas, Leonel cuidou de descreve uma fotografia do Papa Bento XVI, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, em 2013, na qual a mão direita do pontífice mostrada ao mundo “com o péssimo estado em que se encontravam as unhas do pescador: mal cortadas, mal aparadas e sem qualquer simetria de tratamento. Uma lástima”. Parece um tema irrelevante, mas o cronista que conhece as filigranas desse gênero literário sabe extrair de fatos que aparentam irrelevância conteúdos surpreendentes. Pedro Leonel era mestre nessa arte. No entardecer de segunda-feira, ele foi sepultado no Parque da Saudade, no Vinhais.

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