EDITORIAL

Certezas e incertezas

Pouca coisa faz mais mal à economia do que a incerteza. Por isso mesmo, é mais do que urgente que o governo consiga definir que tipo de política econômica pretende seguir no segundo mandato da presidente Dilma e, até mesmo, quem vai comandar a equipe econômica. Boa parte das turbulências que marcaram a economia brasileira […]

Pouca coisa faz mais mal à economia do que a incerteza. Por isso mesmo, é mais do que urgente que o governo consiga definir que tipo de política econômica pretende seguir no segundo mandato da presidente Dilma e, até mesmo, quem vai comandar a equipe econômica.
Boa parte das turbulências que marcaram a economia brasileira esta semana foram provocadas pelas idas e vindas da presidente em relação ao ajuste fiscal e seus reflexos na proposta orçamentária para 2016. A incapacidade de cortar gastos ante a certeza da perda de receitas provocada pela recessão da atividade econômica levou o governo ao risco político de testar a aceitação da volta da CPMF. Ouviu um sonoro não da população e dos agentes econômicos.
Com isso, o governo não viu alternativa para cobrir um rombo de mais de R$ 30 bilhões no orçamento para 2016 e tentou transferir o desgaste para o Legislativo. Enquanto isso, surgiriam toda sorte de boatos e manobras nos bastidores do poder político com a clara intenção de desidratar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e afrouxar o ajuste fiscal por ele proposto. O partido da presidente não esconde a rejeição ao ministro e à pretensão dele de devolver racionalidade à gestão do Tesouro Nacional.
A certa altura da semana, a saída de Levy era dada como certa, confirmando, assim, o fracasso do ajuste fiscal. A reação dos mercados foi de desconfiança. O dólar disparou para cotações que há muito não ocorriam. Menos visíveis aos que não são profissionais do ramo, mas decisivas para definir vários preços na economia, inclusive o dos títulos públicos, as taxas dos juros futuros chegaram superar a barreira dos 15% ao ano na quinta-feira, o que levou o Tesouro a cancelar seu leilão de títulos prefixados para não acrescentar pressão ao mercado já em ebulição.
Foi preciso que vozes da iniciativa privada, principalmente do mercado financeiro, levassem a presidente a perceber o tiro no pé que o governo daria com a armação. A essa altura, a troca de ministros e de política econômica jogaria no chão a expectativa de que o país tenha retomado a sanidade da gestão do dinheiro público. A perda do grau de investimento, cada dia mais próxima, poderia ser até antecipada.
A presidente e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercante, tiveram de vir a público garantir que Levy fica e que o ajuste não foi abandonado. Quase ninguém acreditou sem guardar um naco de desconfiança. Afinal, Dilma e seus ministros mais próximos já mudaram de postura e de opinião várias vezes em apenas oito meses do atual governo. Eles parecem sem rumo e, por isso mesmo, influenciáveis por alas do PT descontentes com a política de austeridade, à qual teimam em atribuir a causa da recessão.
Em meio a essa perigosa caminhada sobre o terreno movediço da política, foi bem-vinda a decisão sensata do Banco Central (BC) de manter a taxa Selic em 14,25% ao ano, depois de sete aumentos seguidos. É certo que, sem o ajuste fiscal prometido no início do ano e com o dólar em alta, o BC ficou sozinho na briga contra a inflação. Mesmo que o BC não diga, não há como não adiar para 2017 o cumprimento da meta de 4,5%. Também é adequado perceber que a recessão veio mais forte do que o esperado e que a demanda vai pressionar menos os preços. Decisões assim, capazes de ser compreendidas e aceitas pela maioria, não pioram o que já está mal. Mas estão em falta no governo.
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