A Lei do Bonde

Facção promete segurança e impõe punição a crimes

Facção distribui cartazes na região da Liberdade prometendo segurança à população e garantindo que crimes serão punidos severamente

Há vários dias alguns cartazes espalhados pelos bairros Liberdade, Camboa e adjacências, na capital vêm chamando a atenção de moradores da área. O motivo, são as mensagens de ordem que trazem esse material supostamente divulgado por uma facção criminosa presente na região. A polícia não havia tomado conhecimento  desta determinação da facção Bonde dos 40, que ameaça executar sumariamente quaisquer pessoas que cometam crimes de roubos ou furtos, na área que compreende o eixo Liberdade-Camboa. Duas pessoas já teriam sido mortas  por cometerem “erros”, na comunidade.
No texto, assinado pelo Bonde dos 40, a ordem é que nenhum morador da área deve se preocupar com assaltos, ou quaisquer outros crimes que poderiam ser cometidos dentro do bairro, pois, segundo eles, a segurança seria garantida pela própria facção, que visa uma convivência mais segura entre as pessoas do bairro, e se encarregará de punir e vistoriar o cumprimento da ordem.
É destacado também que outros casos de crimes já foram punidos de forma severa anteriormente, e que os moradores devem atentar para que isso não venha ocorrer novamente. Os casos citados em questão foram os supostos assassinatos de dois homens no último mês, mortos após tentar praticar assaltos no bairro.
A carta ainda enfatiza que os comerciantes devem ficar despreocupados quanto ao risco de assaltos em suas lojas e pontos comerciais e ainda sugere que os mesmos devam retirar as grades que protegem os estabelecimentos para que o clima de paz seja percebido por todos que passem pelo bairro. Além disso, pede que quem sofrer assalto de carros, motos ou qualquer outro bem, deve procurar o quadro disciplinar da facção e relatar sua queixa, que prontamente resolverá o problema.
Polícia
À reportagem de O Imparcial, o delegado Alessandro de Castro, titular da Oitava Delegacia Distrital (Liberdade), disse que desconhecia esta determinação vinda de criminosos e que iniciará uma investigação para apurar sua veracidade. “Brigas de grupos já se tornaram comuns nos bairros da cidade. Na área de circunscrição da 8ª DP, não é diferente, mas são somente casos de rixa e não se tem conhecimento de execuções de autores de furtos ou roubos. As mortes de que se tem conhecimento se deram por vingança ou mesmo por motivos relacionados às drogas”, afirmou o delegado Alessandro de Castro. O Imparcial tentou contato com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), que até o fechamento desta edição não se pronunciou sobre o caso.
População descrente
Domingos Santana, 32, mais conhecido como Santos, e dono de um salão de corte de cabelo na Camboa, conta que em sua opinião tudo não passa de histórias inventadas. Segundo ele, não dá para acreditar na suposta segurança oferecida, até porque ninguém sabe quem divulgou as cartas, que apareceram misteriosamente. “Rapaz, do dia pra noite estavam em tudo quanto era porta por aqui, mais isso aí não existe não, nem eu sei quem colocou”, afirma Domingos. Ele conta também que não se sente seguro para deixar seu estabelecimento sem proteção de grades, “Eu não tiraria minhas grades, não vou expor meu negócio sabendo o risco que posso correr de ser assaltado”.
O bairro da Liberdade tem sido alvo de constantes ações criminosas, tendo em maio deste ano inclusive, um ônibus que faz a linha da Liberdade incendiado. Operações de segurança no bairro que acontecem com frequência tentam conter a ação criminosa e confrontos de facções que existem no local.
O comerciante Junior Oliveira, 34, conta que percebeu uma diminuição significativa de roubos e crimes próximo ao seu estabelecimento, mas não sabe dizer de quem é a responsabilidade. “Eu sei que tinha um rapaz que era acostumado a roubar um comércio próximo daqui, e que teve um fim violento”, conta Junior, que diz que não pode afirmar se foi algum membro da facção que assassinou o rapaz, mas afirma que acredita que pode ser. Ele diz também que ninguém sabe quem realmente colou as cartas pelo bairro, e nem se realmente existe um quadro disciplinar da facção, “Se existe esse quadro disciplinar eu não sei onde é, mas tem pessoas por ai que devem saber. O certo é que eu não confio muito nisso, e na verdade nem sei se realmente essas medidas que prometem seriam cumpridas, vai que estão apenas blefando, não confio jamais”, explica Junior.
Um morador, que não quis ser identificado, diz que existe sim uma recomendação de que não se cometa crimes como roubo, furto ou semelhantes dentro do bairro, e que isso é devido ao grande número de assaltos que existiam anteriormente. Segundo ele, ainda existem pessoas que cometem esses crimes e que ficam apreensivas quando tais ordens são impostas. “Esses meninos que estão acostumados a roubar aqui ficam todos com medo, eles sabem que podem ‘dançar’ se vacilarem”, conta a testemunha.
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