ENTREVISTA

O plano para combater a pobreza no Maranhão

Em conversa com O Imparcial, José Reinaldo Tavares detalha projeto sobre elevação da produtividade e de inclusão, para o Maranhão.

"Essa é a única maneira que vai igualar, diminuir a desigualdade social e a pobreza do Maranhão" - José Reinaldo Tavares. (Foto: Reprodução)

Investir nas crianças pobres, de zero a 6 anos, muda o país”. A frase do prêmio Nobel de Economia 2000, James Heckman, da Universidade de Chicago (EUA), ouvida há alguns anos em uma palestra pelo secretário de estado de Desenvolvimento Econômico e Projetos Estratégicos, José Reinaldo Tavares, está sendo resgatada agora na prática em um projeto balizado no axioma de que é a educação que transforma.

Esta semana o secretário José Reinaldo Tavares recebe a presidente da Fundação Todos pela Educação, Priscila Cruz, para tratar sobre um projeto transformador que vai buscar a raiz da pobreza e desigualdade no Maranhão.

Apesar de lastreado na educação,  a interdisciplinaridade é sua maior estratégia para vingar. Ex-governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, aponta a descontinuidade como uma das principais falhas na gestão pública.

Entusiasmado com o projeto que tem foco na elevação da produtividade e na inclusão de camadas da população confinadas na pobreza,  Tavares detalha as estratégias para obtenção de êxito. Em  conversa com O Imparcial e a Central de Notícias no início desta semana, confira a entrevista: 

Qual é a principal causa da pobreza persistente da população do Maranhão?

José Reinaldo Tavares: As famílias das crianças pobres são muito pobres e não têm condições de preparar as crianças para o ensino fundamental. Daí vem a desigualdade básica, que impera pelo resto da vida e que faz a diferença. Como estas crianças vão chegar no ensino fundamental sem saber nada, sem estar preparadas para nada, enquanto as crianças da classe média chegam preparadas, sabendo o que é um computador, leram livros… levam uma vantagem extraordinária. Isso cria uma corrente de pobreza que se mantém e que não vai ser quebrada se não se fizermos investimento nas crianças pobres.

Como então o Governo do Estado tomar para si o ensino fundamental, se esta é de competência do município?

José Reinaldo Tavares: Temos que fazer da maneira como nós achamos. Os prefeitos todos vão querer. Independe das prefeituras. O professor da Universidade de Chicago (EUA) e ganhador do prêmio Nobel, James Hacksman, preconiza que cuidar da mãe desde o pré –Natal. Se uma criança pobre não teve um pré-natal que sirva, ela nascerá fraca, será doente e vai dar trabalho para o resto da vida. O professor diz que a família não pode ficar longe da criança nessa preparação. Principalmente a mãe tem de participar. Se a criança passa o dia na creche, quando chega em casa é outra realidade, desmanchando tudo que foi feito. Tem que haver integração.

As famílias das crianças pobres são muito pobres e não têm condições de preparar as crianças para o ensino fundamental. Daí vem a desigualdade básica, que impera pelo resto da vida e que faz a diferença.

Como se dá essa integração?

José Reinaldo Tavares: A maneira mais fácil de fazer isso é criar uma creche especial, onde primeiro; cuide do pré-natal da mãe, sendo alimentada, pois assim fortalecerá a criança . Isso vai ser muito importante para o futuro da criança.  Segundo; a criança tem que ser preparada até os 6 anos. A cada ano é diferente, pois é quando o cérebro está se formando, se expandindo. Ela aprende tudo que for colocado para ela. É a época da formação da personalidade que ela carregará o resto da vida. Se isso não for feito, a pessoa tem a desvantagem. Não quer dizer que ele não chegue ao curso superior, mas são muito raros.  

Esse modelo existe na prática em algum lugar?

José Reinaldo Tavares: Esse é um modelo que não está implantado no Maranhão.  Mas consegui colocar esse modelo no programa de governo do Geraldo Alckman quando disputou a Presidência do Brasil.  Ele falou  isso no programa de televisão. Mas como ele perdeu a eleição, ficou perdido.

O que já existe de concreto quanto a esse programa?

José Reinaldo Tavares: Não tínhamos dinheiro para fazer as creches especiais. Então fomos ao BNDES e expus o projeto que ele prontamente se despuseram a financiar. Mas o Maranhão não tem codições de pedir empréstimo, não tem capacidade de endividamento. A solução veio da seguinte proposta: o banco financiará as creches para as empresas privadas  e alugam para o estado. Essa é uma mecânica utilizada pelos supermercados.

Qual  a receptividade do empresariado para o projeto?

José Reinaldo Tavares: O Sinduscon  (Sindicato da Indústria da Construção Civil) aceito de pronto. Resolvido esse problema convidamos o Todos pela Educação pela defesa que eles fazem desse modelo. A Priscila Cruz o defende em vários artigos.

Temos quadros preparados para trabalhar neste modelo?

José Reinaldo Tavares: Isso não pode ser chute. Tem que ser especializado. Será o Todos pela Educação que indicará o tipo de preparação que daremos aos profissionais que vão trabalhar no projeto para poder dar certo.  Tenho dito que, essa é uma ideia fantástica e não podemos falhar. Não podemos fazer uma coisa que não vai funcionar, porque assim vai quebrar a ideia.

Essa é a única maneira que vai igualar, diminuir a desigualdade social e a pobreza do Maranhão.

Isso é uma coisa dificílima de fazer. Isso vai ser geração a geração.  Futuramente, as famílias dessas crianças já não irão precisar da creche.

Será então na prática o axioma sobre o combate à pobreza pela educação?

José Reinaldo Tavares: No Maranhão o analfabetismo é brutal. Muitas dessas famílias pobres, pai e mão são analfabetos. Eles não têm o que ensinar para as crianças que vivem na rua.  Daí lembrando o economista que disse: cada dólar investido em uma criança pobre, o retorno é de 17 centavos de dólar por cada ano que ele viver. É o maior investimento, o maior retorno que vc pode ter. Maior que qualquer  bolsa de Nova York, qualquer mercado de capital.  Por que diminui o custo da criminalidade; a necessidade de policial, custo da saúde, etc. Essa é a essência do projeto. É um projeto complexo.

Quando se iniciará efetivamente este projeto?

José Reinaldo Tavares: Fomos surpreendidos por esse corte do ICMS que consequentemente deu um corte, um déficit no governo. Não temos mais o dinheiro disponível que contávamos. Por isso mesmo, nós vamos fazer isso com a iniciativa privada que construirá as creches. A preparação das equipes será discutida com as secretarias de educação, assistência social, saúde, enfim, como todas as secretarias. Vamos ouvir a orientação do Todos pela Educação. Tem que dar certo, não podemos tergiversar com esse tipo de assunto, porque o fracasso desanima e não termos outra oportunidade.

Que garantia de continuidade um projeto dessa natureza possui?

José Reinaldo Tavares: O problema do Brasil é que os projetos não têm continuidade. Na parte do ensino médio o Maranhão está consolidado. Mas, por exemplo, fizemos aqui um programa fantástico que era o Saúde na Escola.  Cuidava da saúde das crianças. O resultado foi impressionante; crianças que não enxergavam direito e eram considerados maus alunos; que não ouviam direito e tinham outros problemas de saúde.  Fizemos tudo isso. O depoimento que tenho é a coisa mais linda. Mas o governo seguinte ao meu não deu continuidade. Isso acaba com tudo. Um projeto como esse que envolve as mães e todos, dificilmente alguém vai ter coragem de mexer com ele, principalmente se der resultado.

“Temos aqui 57% das famílias na extrema pobreza. É um dado avassalador. Essas famílias e essa desigualdade faz com que nossa produtividade seja baixíssima. 

Por que menos da metade produzindo e, mais da metade não produz, trabalha pelo salário mínimo, bico e tal. Essas pessoas que não conseguem ir para escola, se desenvolverem e crescerem são fadas a salários baixos. A produtividade do estado é baixíssima. Esse projeto aumenta a produtividade do estado.  Coloca mais gente no sistema produtivo.” finalizou o secretario.

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