RUMO À CAPELA

Primeiro a fé, depois a festa: conheça a história da procissão de São Pedro

Sob os pés da Capela de São Pedro, a união dos bumba-bois leva milhares de boieiros e brincantes ao largo na Madre Deus, que viram a noite ao som de tambores e matracas

Reprodução

Emocionado, rejuvenescido, grato, curado. É assim que se sente o ourives e relojoeiro Alexandrino Catarino Cabral Filho, mais conhecido como Seu Dino, de 76 anos, ao participar de mais uma procissão de São Pedro, realizada pela Capela de São Pedro, na Madre Deus. Desde os 15 anos, ele marca presença como devoto do santo e faz questão de levar o andor.  Nesses 61 anos em que faz sua devoção ao santo, ele deixou de participar apenas uma única vez porque estava fora de São Luís. “Tudo começou depois que fui acometido por uma enfermidade e na medicina não encontrei resultado. Sendo admirador da procissão, eu fiz a promessa que todo ano levaria o andor de São Pedro se ficasse bom. E eu me considero curado. E honro a promessa todo ano na procissão terrestre, e sempre perto da imagem, na marítima”, contou o ourives.

Seu Dino é um dentre os milhares de personagens que tem alguma história com a festa de São Pedro. Devotos, brincantes, público, sempre há algo para contar nesses 79 anos de festa. O jornalista, escritor e pesquisador Herbert de Jesus Santos fez um amplo trabalho sobre o festejo, o largo e tudo que o cerca, tendo em vista ter nascido atrás da primeira capela, e ser filho e sobrinho de alguns dos pescadores, que originaram o festejo, e ainda neto da primeira zeladora da igrejinha.

Em um dos seus trabalhos ele diz que as atividades religiosas da igreja começaram em 1940, antes da primeira capela de alvenaria, edificada embaixo, em 1949. “Havia, inclusive, atrações que não temos hoje, quanto leilão de prendas, queima de fogos mais bonitos, quanto os da imagem de São Pedro, e a ronqueira, um artefato de madeira e um pequeno canhão, que detonava bucha e pólvora para o Rio Bacanga, e batizados”, contou.

Em uma de suas fontes ele cita O Imparcial, datado de 28 de junho de 1949, quando havia um convite para inauguração da capela. “O presidente e o tesoureiro da Colônia dos Pescadores Z-1 Almirante Barroso, Severino Godofredo dos Santos e Gregório Tito de Sena, respectivamente, convidam São Luís para a sua inauguração, no dia 29, com missa solene, e a procissão marítima da Madre de Deus, indo na frente da Igreja dos Remédios até à Ponta d’Areia, e dali regressando, e agradecem o apoio do industrial e político César Aboud”.

No entanto, a festa se originou, em 1939, no Desterro. Em 1940 se mudou para a Madre Deus, visto lá ter mais pescadores.  Apenas em 1949 foi erguida a Capela de alvenaria, com o apoio do político e industrial Cesar Aboud, dono da Fábrica Santa Isabel, de tecelagem.

Já a comissão organizadora, segundo Herbert, só foi criada em 1945. “Assim, a festa ganhou os noitantes (homenageados em todas as noites de junho, de pescadores a donas de casas, etc.), leilão de prendas, procissões terrestre e marítima, além da louvação de bumba-bois, com os de zabumba, depois, os de matraca, no encontro, atualmente, com grupos de todos os sotaques. A capela foi reformada três vezes, duas delas pela Prefeitura de São Luís, em 1973 e 1996. A arquitetura atual data de 1997 e foi feita pelo Governo do Estado, na primeira gestão da governadora Roseana Sarney”.

Resistência

No ano passado a Capela inaugurou o novo altar para a imagem original do padroeiro, na abertura da novena. A igreja passou por uma obra que contemplou colocação de azulejos dentro e fora, além  de nova pintura. A imagem também passou por processo de limpeza operado pela curadora do museu dos capuchinhos, Iraci Soares, recuperando seu tom de pele e cores originais.

Foto: Micael Carvalho

Em 2017, logo após o festejo, a Praça São Pedro, ao lado da Capela foi isolada após desabamento de parte da estrutura das paredes da praça. Depois de investigação para descobrir a causa do desmoronamento, o Governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra), iniciou uma intervenção emergencial para recuperação da praça, que foi concluída, assim como seu entorno. Reforma também foi feita no interior da Capela. Em junho de 2013, às vésperas dos festejos juninos uma vistoria dos Bombeiros apontou a possibilidade de interdição do local por causa de problemas estruturais. Após uma segunda vistoria, o Corpo de Bombeiros liberou no dia 27 de junho, um dia antes do encontro dos bois, após reparos na estrutura metálica que estaria enferrujada.

Primeiro a fé, depois a festa

Foto: Jonas Sakamoto/SobreOTatame.com

As festividades de São Pedro começaram com uma programação religiosa organizada pela comunidade católica da Madre Deus. As orações e cantos ao Santo foram o prelúdio para a procissão que viria mais tarde, e que seria acompanhada por dezenas de barcos.

Procissão dos barcos. Foto: SECMA

Paralelamente à programação religiosa, batuques, tambores e matracas invadiram o largo. Grupos da capital e interior adentravam a capela, e, com o colorido das indumentárias a voz grave dos cantadores, a festa já se iniciava antes mesmo de descerem para o largo. Sob os pés de São Pedro era possível ver e ouvir a união dos bumba-bois que, mesmo cansados das apresentações nos arraiais da cidade, ainda tinham pique para levantar o público que aguardava no largo para acompanhar as matracadas ao som das toadas.

2019: Boieiros, população e homenagens

Foto: Divulgação/SECMA

Desde a noite da última sexta-feira (28), os brincantes de bois, devotos de São Pedro e quem só queria curtir a noite, se aglomeraram no Largo de São Pedro e ficaram durante toda a manhã de ontem, sábado (29). A programação do festejo de São Pedro encerrou após a procissão marítima, no fim da tarde, com uma missa campal, na capela.

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