AMBULANTE

Vida pesada, mas aliviada pelo sorriso

Hoje, O Imparcial vai contar a história do ‘seu’ João Ferreira, um vendedor que caminha dezenas de quilômetros com seu produto sempre com o largo sorriso no rosto

Reprodução

Como Chico Xavier disse certa vez: “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas qualquer um pode começar hoje e fazer um novo final”. Cada um pode fazer o seu o destino. Mas o destino não muda as pessoas, porque são elas as donas de cada passo que der hoje e amanhã. ‘Seu’ João Ferreira é um caso típico de cidadão corajoso, alegre e simples, que resolveu traçar o seu caminho – um caminho longo e sem o ponto final.

Cearense trabalhador
Ele nasceu no Ceará e tem 59 anos. Sem terra para trabalhar e sem chuva para colher, desde 1992 ‘seu’ João Ferreira saiu de sua terra natal em busca de um destino. Andou por Minas Gerais, trabalhou pesado até atravessar o Nordeste e desembarcar no interior do Pará. Depois foi para Belém e há alguns anos chegou a São Luís.

Estudei só o segundo anozim. Aquele do tempo da Carta de ABC. O senhor deve se lembrar, não?

Sem trabalho formal, sem profissão definida e sem instrução escolar, seu João encontrou um jeito de sobreviver na cidade grande. Qual o seu grau de estudo? – Perguntei-lhe. – “Bem pouquim”. – Até que série o senhor estudou? – Insistir. – “Estudei só o segundo anozim. Aquele do tempo da Carta de ABC. O senhor deve se lembrar, não?”.

E quem é seu João Ferreira? Ele é um vendedor ambulante diferente dos camelôs que se fixam em algum ponto da cidade e expõem o que vende. ‘Seu’ João é um anônimo trabalhador que não anda de ônibus para o trabalho, não conhece os terminais de integração, não tem carteira assinada, nem salário fixo, nem paga imposto, nem tem direito algum de cidadão. Mas é um trabalhador feliz. Sabe o quanto custa cada passo que dá em suas andanças e cada gota de suor que derrama para sobreviver.

Até 30 km por dia de caminhada com orgulho

Ele mora no Cohatrac, um bairro que nasceu de um conjunto habitacional de cooperativados do Comércio e hoje é um núcleo comercial, com vigor de tornar-se uma cidade dentro da capital maranhense.

Do Cohatrac, ‘seu’ João sai cedo para trabalhar. Ele arruma sua carrocinha de ferro, instala o material de sua venda – cadeirinhas, banquetas e mesinhas de Ratan sintético e cadeira de embalo – tudo trançado em estruturas de ferro.

Às 6h, em ponto seu João sai de casa, na própria distribuidora do material, onde mora de favor, e põe-se a puxar sua ferramenta de trabalho.

Anda pelos bairros ou povoados. Iguaiba (zona rural de Paço do Lumiar), Farol do Araçagi e adjacências são rotas de suas andanças puxando a carrocinha de ferro. Com as mãos calejadas, ele alivia o atrito com o ferro usando uma espécie de rodilha para forrar. Quando o negócio anda fraco por aquela região, ele vem para a Cohab, Anil, Cohama, Vinhais e Recanto do Vinhais.

Sempre com um sorriso largo, sem reclamar de nada, seu João diz que gosta do que faz. “Trabalhar não envergonha ninguém. Meu pai me ensinou a trabalhar desde menino – por isso não estudei – e agora faço isso com gosto”, diz conformado.

Pergunta para ‘seu’ João
– E quantos quilômetros o senhor acha que anda por dia, puxando esse peso todo? Já conferiu?

Entre uns 25 e 30 quilômetros – saio às 6 horas e só volto para casa entre seis e seis e meia, já quase a noitinha. Mas é assim mesmo. Enquanto Deus me der saúde, vou trabalhar com isso. As pessoas gostam do que vendo e eu fico satisfeito. É muito pesado, mas é o meu ganha-pão, que faço com honestidade. – E me dê licença que já vou indo.

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