SÃO JOSÉ DE RIBAMAR

Sem estrutura em maternidades, gestantes são amparadas por parteira

Dona Maria José, parteira há 33 anos, já ajudou mais de mil crianças a virem ao mundo. A maternidade local não teria estrutura suficiente para atender as grávidas

Maria José se tornou uma referência. Ela fez muitos partos das crianças que moram próximo a sua residência

Por conta da falta de estrutura da Maternidade Municipal de São José de Ribamar, muitas mulheres recorrem à parteira que reside no município, dona Maria José, de 49 anos. Nos últimos cinco anos, a parteira já realizou mais de 1.000 partos.

No ano de 2015, os meses com mais partos realizados foram outubro, novembro e dezembro. Às vezes, ela chega a despachar muitas mulheres por conta da demanda e também por conta da situação e risco do parto, ou simplesmente, o fato de ter tempo da mãe se deslocar até uma maternidade em São Luís. Quando não há mais tempo, o parto tem de ser realizado lá mesmo. “Há mulheres que tenho de despachar, pois muitas vezes há tempo de se deslocarem até a maternidade. Já houve casos em que o bebê chegou saindo da barriga, a ponto de eu segurar pelo pé para não cair no chão. Quando eu digo que não dá pra fazer, muitas já vêm no ponto. Aí não tem jeito, tem que fazer”, explicou a parteira. No bairro onde Maria José mora, Sarnambi, a maioria das crianças nasceram por suas mãos. Ela conta que, durante esses 33 anos que realiza partos, já perdeu até as contas do número de vidas que ajudou a nascer.
Foto: Honório Moreira/OImp/D.A Press.


Honório Moreira/OImp/D.A Press

O trabalho de dona Maria José, de 49 anos, é trazer ao mundo as pessoas pelas mãos. Para o ofício, a parteira usa somente a sua experiência de vida

O cenário não é de um leito de hospital, é um quarto simples, mas que se torna muito agradável para muitas mulheres. Dona Maria José doa sua cama, onde dorme com o seu esposo, para as suas pacientes. A gestante Josilene dos Anjos, de 28 anos, já está no terceiro mês de gravidez, e sempre vai se consultar com Maria José, pois, segundo ela, se sente mais segura e muito confortável com a parteira. “Eu sempre venho aqui me consultar, desde o meu primeiro filho que nasceu morto, por conta dos meus problemas. Às vezes é melhor você vir aqui do que ir à maternidade, em que você fica muitas horas esperando e não vem ninguém atender você”, disse a gestante.

Alvo de denúncias

Maria José, 49 anos, partira em São José de Ribamar

A parteira conta que teve uma época na qual foram tantas mulheres, que chegou a ter medo e entrou em desespero. “Eu entrei em desespero! Teve uma época em que as mulheres chegavam e queriam ter os seus bebês comigo, outras já chegavam com o bebê já saindo da barriga, e eu não ia negar ajuda. Aí muitas vezes era o jeito. Teve um dia, que vieram cerca de 15 mulheres pra eu fazer o parto, cheguei a despachar algumas e colocar dentro de uma van e sair às pressas para São Luís, pois eu não tinha como fazer. É complicado”, revelou a parteira.

Dona Maria é alvo de muitas críticas por parte dos profissionais da saúde de São José de Ribamar, pois, de acordo com eles, ela não deveria fazer esse tipo de trabalho. Até alvo de ameaças de denúncias já foi. “Alguns profissionais me difamam dizendo que meu trabalho é ilegal, mas, se for pensar bem, eu ajudo muitas mulheres e quando elas chegam tendo o bebê, eu não posso me negar a ajudar. E elas são assim, se sabem onde tem uma parteira, elas vão mesmo, nem pensam duas vezes. Eu não vou à casa de nenhuma das mães, nem precisa, elas vem até mim”, explicou a parteira.
A parteira não recebe nenhum valor e nem materiais para a realização dos partos por parte da prefeitura, ela alega que a instituição não ajuda de forma alguma. Ela se utiliza de poucos materiais para fazer os partos, muitos desses, até de higiene, são doados pelos próprios pacientes. “A prefeitura nunca me ajudou em nada, mas sabem do meu trabalho, o Ministério da Saúde me ajudou com uma tesoura para cortar o cordão umbilical, e a Secretaria de Saúde que deu um curso para as parteiras e me chamou para participar. Eu achei muito bom”, revelou a parteira.
Para registrar as crianças, dona Maria teve muitas dificuldades. Muitas vezes, o cartório se recusava a registrar sem que tivesse uma declaração médica. Os enfermeiros também se negavam a dar a declaração de “nascido vivo”, para que os registros acontecessem. “Já tive muitos problemas quando o assunto era registrar as crianças. Os médicos e enfermeiros não queriam me dar à declaração para que elas fossem registradas no cartório. Muitos profissionais não gostam mesmo do meu trabalho e não ajudam mesmo”. Agora, dona Maria já tem a permissão do Ministério da Saúde para registrar as crianças que nascem em sua casa.
Consciência do seu papel

Durante todos esses anos de parteira, já tiveram nascimentos que não deram muito certo, e a paciente teve de ser encaminhada até ao hospital para terminar o trabalho de parto. “Houve um caso em que eu fui tirar o bebê e já estava morto, porque foi até a maternidade e não foi atendida. Quando chegou, eu não podia mais fazer nada. Eu fiz a denúncia, não para arranjar problemas, mas para não pegar uma culpa que não era minha.”
Ela conta que vai continuar com o trabalho, pois acaba sendo uma ajuda para muitas mulheres. Muitas vezes, se não fosse o seu trabalho, a maternidade não iria suprir toda essa demanda.

Dona Maria José tem 49 anos e há 33 anos realiza os trabalhos de parto.
Maternidade fechada
Com a falta de estrutura da Maternidade do Município de São José de Ribamar, e a falta dela em Paço do Lumiar, as mulheres em trabalho de parto têm que recorrer às maternidades em São Luís, na maioria das vezes, à Maternidade Marly Sarney, no bairro da Cohab Anil 3. A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que, em 2015, 378 mulheres em trabalho de parto de Paço do Lumiar foram atendidas na Maternidade Estadual Marly Sarney, sendo 238 partos normais e 140 cesarianas. A SES informa ainda que 619 mulheres em trabalho de parto de São José de Ribamar foram atendidas na referida maternidade, sendo 340 partos normais e 279 cesarianas.
Em junho de 2015, o Hospital e a Maternidade de São José de Ribamar estiveram fechados. Os funcionários alegaram que o motivo era a falta de pagamento, e a empresa Pró Saúde, que administra o hospital, resolveu parar suas atividades. O município, na época, teria chegado a decretar estado de emergência nas duas unidades de saúde por 90 dias. A Prefeitura de São José de Ribamar reassumiu, na mesma semana, o gerenciamento do Hospital Municipal e Maternidade Municipal, ambos localizados na sede da cidade e que continuam funcionando normalmente.
Falta de estrutura e maternidade

De acordo com a assessoria de comunicação da Prefeitura de Ribamar, a maternidade no momento está funcionando, mas, em muitas situações, não tem estrutura, e as mulheres em trabalho de parto têm de ser transferidas para a Maternidade Marly Sarney, ou para outros hospitais que podem atender à demanda em São Luís. Atualmente, por ausência do profissional médico anestesista no mercado, a maternidade não está fazendo procedimento de parto cesariano, entretanto, acolhe, realiza os procedimentos necessários e encaminha, em ambulância, à maternidade de referência mais próxima. Já no município de Paço do Lumiar, não há maternidade, o que existe no local é somente uma unidade mista para emergências. A assessoria da Prefeitura de Paço do Lumiar informou que o prefeito Josemar Sobreiro acompanhou o vice-governador, quando esteve no cargo de governador em exercício, Carlos Brandão, no último dia 10 deste mês, até a obra da Secretaria de Saúde de Paço do Lumiar, antigo CSU Maiobão, e na obra paralisada da Unidade Mista. Segundo informações, ficou decidido fazer a reforma na unidade mista, transformando-a, assim, na primeira maternidade de Paço do Lumiar. O projeto pretende beneficiar 12 bairros, entre eles, Maiobão, Paranã, Tambaú, Residencial Carlos Augusto, Sítio Natureza, Conjunto Novo Horizonte, Conjunto Araguaia, Vila Nova Canaã, Conjunto Roseana Sarney, Sede de Paço do Lumiar, Maioba de Mocajituba, MA-204 (entrada do Vassoural) e Conjunto Jaguarema. No momento, o prazo para a construção, ainda não foi definido.
A equipe de reportagem entrou em contato com as prefeituras de São José de Ribamar e Paço do Lumiar para mais informações, mas até o fechamento desta matéria não obteve êxito.

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