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“Não faria sentido falar em 2022 agora”, afirma o senador Weverton Rocha

O senador também abordou pontos importantes sobre o fundo eleitoral, a postura do presidente e o adiamento das eleições de 2020

Reprodução

Considerado um dos parlamentares mais atuante no Senado Federal, Weverton Rocha (PDT), em entrevista a O Imparcial, revelou a motivação do seu partido ter entrado com o pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Também criticou o governo federal por ter desembolsado apenas R$ 5,4 bilhões, um valor que segundo ele, é irrisório, perto do que vem sendo investido em outros países do mundo, além de ter falado sobre o cenário para as eleições de 2020 e 2022.

Em 2018, foi eleito senador com 1.997,443 votos, o que lhe garantiu a maior votação para senador da história do Maranhão. Confira abaixo a reportagem na íntegra.

O IMPARCIAL – Como o senhor avalia a postura do presidente Jair Bolsonaro com relação ao seu comportamento junto à população brasileira neste momento da pandemia que o país atravessa?

WEVERTON ROCHA – A postura do presidente Bolsonaro tem sido lamentável. Uma mistura de descaso e negacionismo que não pode existir em um líder em momentos como o que estamos vivendo. Ele teve agora a oportunidade única de unir novamente o país para enfrentar a pandemia. Poderia estar de mãos dadas com governadores, prefeitos, Congresso, STF, tomando as medidas necessárias para conter o número de contaminações e mortes. No entanto, tem sido lento em dar respostas para a crise econômica que se estabelece junto com a de saúde, tem gerado crises políticas extemporâneas e absurdas, que só tiram o foco do que é necessário, e no campo da saúde foi na contramão de todos os líderes mundiais, cientistas e médicos, negando a gravidade da situação, exortando as pessoas a saírem às ruas, estimulando aglomerações e pedindo o fim do isolamento social. Infelizmente, estamos vendo os resultados dessa batalha que ele iniciou contra os governadores: as pessoas estão optando pela comodidade de circular livremente e os número de casos e mortes vêm crescendo. E ele nem sequer mostra empatia, solidariedade. Chega a ser chocante.

O presidente tentou interferir politicamente na Polícia Federal indicando Alexandre Ramagem como novo diretor. Quais as consequências que esta interferência pode trazer para instituição? 

A nomeação foi suspensa por uma decisão do STF, em resposta à uma ação do PDT, que não se baseou em julgamento do mérito profissional do indicado, mas na forma como o presidente fez essa nomeação, usando como critério a proximidade pessoal. Um dos princípios constitucionais é a impessoalidade da gestão pública. As denúncias de que o presidente Jair Bolsonaro tentou por diversas vezes interferir na Polícia Federal são gravíssimas, tanto por quebrar o princípio da impessoalidade, como por demonstrar um exercício de poder com arroubos autoritários, que confunde polícia de Estado com polícia de governante. A PF é uma instituição muito respeitada no Brasil, tenho certeza que não se submeterá a esse tipo de interferência.

O senhor afirmou “que não há um outro caminho a não ser o impeachment do presidente Bolsonaro”. O senhor acredita que esta é a melhor saída para o Brasil e por quê?

Sempre disse que remédio para governo ruim é voto. E mesmo achando o governo de Bolsonaro péssimo, sempre defendi, até agora, que ele deveria ir até o final, para que em 2022 a população escolhesse seu caminho. Mas há limite para isso e o limite é a lei. Não é possível aceitar a continuidade de um governo que vem cometendo crimes reiteradamente, inclusive crime de responsabilidade. Em um curtíssimo espaço de tempo o presidente desrespeitou a Constituição, atentou contra o estado democrático de direito, tentou intervir ilegalmente na Polícia Federal, além dos vários gestos contra a saúde pública. Não vejo outro caminho. Precisamos parar o presidente, antes que ele acabe com o Brasil e com os brasileiros.

Caso o pedido de impeachment venha ser aprovado, o vice-presidente Hamilton Morão deve assumir o cargo. Essa mudança vai impactar de que forma nos projetos políticos que são determinantes para o desenvolvimento econômico do país? 

O general Hamilton Mourão é o vice-presidente eleito do Brasil. Foi eleito na mesma chapa de Jair Bolsonaro, defendendo as mesmas plataformas de governo. Não creio que haverá mudanças nos projetos políticos e econômicos. Mas creio que haverá mais equilíbrio e espero que haja mais diálogo.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o governo ainda não sabe quais serão as fontes de recursos que custearão o pagamento do auxílio emergencial para os trabalhadores que vivem na informalidade e que foram impactados pela covid-19.  Como está vendo essa situação? 

Uma mistura de má-fé e má-vontade. Ainda em 20 de março, portanto há mais de um mês, aprovamos no Congresso, em tempo recorde, o projeto de decreto de calamidade pública no Brasil em função da pandemia do coronavírus. Fui o relator do projeto e sou testemunha que, naquele momento, todos os partidos da Casa foram unânimes em se dispor a ajudar para que o governo tivesse condições para agir com rapidez contra a pandemia. Logo depois, na semana seguinte, aprovamos o auxílio emergencial, cuja proposta do governo era de R$ 200,00 e fizemos chegar a R$ 600,00. Um mês depois só o que andou nesse governo foram as crises. O ministro Paulo Guedes tem carta branca para remanejar os recursos necessários, mas não aceita mexer nos juros da dívida, nem nas vantagens dos grandes investidores. Está paralisado não por falta de instrumentos, mas por não querer aceitar o que o mundo inteiro, até os Estados Unidos, berço do capitalismo, já aceitou: não é hora do Estado mínimo liberal, o Estado precisa estar presente para garantir a saúde e socorrer a economia, principalmente para os mais vulneráveis.

O senhor é a favor do uso do fundo eleitoral para o combate da covid-19?

O governo tem carta branca para remanejar os recursos que forem necessários para o combate ao Covid-19, garantimos isso no decreto de calamidade. No entanto, o que vimos até agora foi um governo paralisado, que não atuou em socorro aos estados e municípios. O governo anunciou que faria investimentos de R$ 256 bilhões, mas efetivamente só desembolsou 25% disso até agora, sendo que para a saúde foram apenas R$ 5,4 bilhões, um valor irrisório, perto do que vem sendo investido em outros países do mundo. No Congresso, existem várias propostas para taxar grandes fortunas e eu apresentei projeto de lei para aumentar a Contribuição Social do Lucro Líquido de bancos de 20% para 50%. Mas disso, o governo não quer nem ouvir falar.  Então falar em uso do fundo eleitoral é muito mais uma forma de desviar a atenção da população do que não está sendo feito, usando um discurso de fácil apelo popular, mas sem base alguma, já que o governo não gastou nem o que tem para gastar.

Na sua opinião as eleições de 2020 serão adiadas por causa da Covid-19?

Acredito que a paciência para ver como ficarão as coisas é o melhor caminho. Claro que esperamos que até outubro as coisas tenham evoluído positivamente. Mas se for preciso, podemos adiar para dezembro.  De qualquer modo, concordo com a posição do TSE, de aguardar até junho para decidir, pois só em junho começarão a vencer alguns prazos que exigem ações incompatíveis com o atual estado de isolamento social.

Atualmente, prefeitos, governadores e o presidente da República podem ser eleitos para dois mandatos consecutivos, cada um deles de quatro anos. O senhor é a favor dessa unificação?

Acredito que não é viável. Primeiro porque a população escolheu os prefeitos para um mandato de quatro anos, a prorrogação por mais dois atropelaria a vontade popular, sem consulta prévia. Além disso, as eleições municipais tem particularidades muito diferentes das eleições para governos e presidência. Enquanto nestas há um debate mais concentrado na macroeconomia e em políticas públicas mais amplas, nas eleições municipais o debate é mais pragmático, pois é nas cidades que as pessoas vivem. Misturar os dois momentos enfraqueceria ambos os debates.

Apesar de estarmos distante das eleições de 2022, as articulações já começaram. O senhor pretende concorrer ao governo do estado? 

Meu nome tem aparecido naturalmente em muitas conversas e, obviamente, meu partido está pronto para apresentar um candidato ao governo. Ficaria sim muito honrado em contribuir com o meu estado.  Mas sou uma pessoa de grupo e tenho certeza que na hora certa nosso grupo discutirá e decidirá o melhor caminho para as eleições de governador em 2022.

O senhor já conversou com o governador Flávio Dino sobre um possível apoio para que este projeto se consolide? 

Não faria sentido ter essa conversa agora. O momento é de o governador Flávio Dino governar, o que ele tem feito muito bem. E da minha parte, tenho feito tudo a meu alcance para, em Brasília, ajudar o governador Flávio Dino e o Maranhão. Nossas conversas hoje são sobre como podemos otimizar o apoio ao Estado.

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