Planalto

Bolsonaro completa 100 dias de governo com algumas crises

A troca de comando no Palácio do Planalto em 1º de janeiro representou a chegada de um sem-número de novos personagens e de tentativas de guinadas de políticas públicas

Reprodução

Nesta quarta-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro completa o centésimo dia de um governo marcado por uma das mais profundas — e turbulentas — transições do mais recente período democrático. A troca de comando no Palácio do Planalto em 1º de janeiro representou a chegada de um sem-número de novos personagens e de tentativas de guinadas de políticas públicas.

Ao todo, no período, os principais atores governistas tiveram que voltar a atenção para 28 crises que se desenrolaram por 40 dias, consumindo tempo e energia, que poderiam ser direcionados a projetos mais urgentes. Na média, são duas polêmicas abertas por semana — com duas quedas de ministros: Ricardo Vélez Rodrigues (ministro da Educação) e Gustavo Bebianno (secretario geral da Presidência).

As crises estão intimamente ligadas aos grupos dentro do governo, que se dividem entre os técnico-econômicos — encabeçados pelos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sérgio Moro —, os associados às Forças Armadas e os folclóricos, ligados ao conservadorismo cultural. Não por acaso, a primeira controvérsia teve como protagonista Damares Alves, da pasta das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos. Três dias depois da posse de Bolsonaro, um vídeo em que Damares exalta a vitória do capitão reformado foi divulgado: “A nova era começou: agora, menino veste azul e menina veste rosa”. As imagens viralizaram nas redes sociais. Depois, Damares afirmou que se tratava de uma metáfora. No time dela, estão ainda os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente). Em comum, eles têm como guru o escritor Olavo de Carvalho, que abriu guerra com o grupo militar.

É possível afirmar que o próprio Bolsonaro estimulou tais declarações desde os discursos no primeiro dia de governo, quando afirmou: “Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores”. Especialistas apontam que ainda é um presidente preso à própria campanha, e, ao contrário do anunciado na posse, busca a divisão para reforçar a própria gestão. Uma questão é que, ao contrário do imaginado ao longo da campanha, nenhuma das turmas (folclórica, técnico-econômica e militar) conseguiu tutelar Bolsonaro. “Há uma disputa aberta de poder entre esses grupos, mas o que se vê é que o presidente tem independência, a ponto de não parecer se incomodar com os conflitos”, afirma Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB). “Bolsonaro decide pela própria cabeça, isso parece evidente.” Onde tal coisa vai dar, ainda é cedo para avaliar, mas uma marca destes 100 dias de governo é a desconfiança, que amplia incertezas sobre o sucesso.

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