Planalto

Bolsonaro completa 100 dias de governo com algumas crises

A troca de comando no Palácio do Planalto em 1º de janeiro representou a chegada de um sem-número de novos personagens e de tentativas de guinadas de políticas públicas

Reprodução

Olavetes

Uma das principais tensões dentro do governo Bolsonaro está entre os militares e os olavetes, como são chamados os discípulos de Olavo de Carvalho. Em Washington, em meados de março, um dia antes da chegada do presidente aos Estados Unidos, o professor — pelo menos para parte da equipe da Esplanada — desancou o vice, Hamilton Mourão: “Um cidadão que não tem os direitos humanos elementares está na maior impotência. E essa é a situação do nosso presidente. Ele não tem o direito de se defender na Justiça quando atribuem crimes a ele. É horrível o que estão fazendo com ele. É ditadura. É opressão. É um homem sozinho. Não pode confiar naqueles que o cercam e nem na mídia”, disse Olavo, para completar: “Essa concepção, que é a do Mourão, é uma concepção golpista. Onde isso vai dar, não sei, não estou em Brasília. Mas é grave, é claro que é grave. Estou com c… na mão pelo Brasil, não por mim”. A ala militar, que não vê a menor importância em Olavo, acompanha os ataques. Mas, se há alguma razão nas palavras do professor, é a tal da desconfiança entre os grupos.

“A baixa confiança e os interesses conflitantes dos grupos são problemas que se agravam com a falta de senso de urgência do próprio governo Bolsonaro”, diz Thiago Vidal, gerente de análise política da Prospectiva. “Havia uma certa esperança de que os militares e os economistas fossem protagonistas”. Falta ao governo coesão e uma maior atenção a Paulo Guedes, dada a importância da reforma da Previdência para a estabilidade econômica do país. “A reforma não tem sequer um relatório. Nessa altura do campeonato, um parecer já poderia ser discutido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)”, afirma Vidal. Bolsonaro, com tantas crises enfrentadas, atua mais com um bombeiro para apagar o fogo do que como um estrategista. Vide o Ministério da Educação, onde há conflitos que impedem o avanço de políticas públicas — apenas crescem as controvérsias. Quando o quadro se amplia para a articulação parlamentar, tudo piora.

O caso de Guedes tendo de se defender praticamente sozinho na CCJ, na última quarta-feira, é um exemplo acabado da falta de estratégia parlamentar do Planalto. É bom lembrar que o ministro é o principal fiador do governo junto ao mercado e aos empresários. “A mudança nas regras de aposentadoria e o pacote anticrime precisam de um plano eficiente de articulação política, caso contrário devem atrasar, atrapalhando o governo”, afirma Vidal. Para o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO), foram três meses de apenas boas intenções. “São 100 dias de boas intenções, mas o que vale são as realizações. De boas intenções o povo está cheio há muito tempo”, critica. O partido é um dos que se reunirá com Bolsonaro na próxima semana, no novo processo de diálogo com o Congresso. Bolsonaro será cobrado a governar e a propor uma agenda econômica e social de melhoria ao povo. “Nada chegou de concreto ainda”, critica Nelto. “Tem a luta ainda estudada com Rodrigo Maia (presidente da Câmara), que tenta levar o Parlamento a um protagonismo maior”, explica Paulo Calmon, da UnB.

« Anterior Próxima »2 / 3
VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Mais Notícias