BACABEIRA

Investimento em siderurgia é visto com pouca esperança e muita cautela

O anúncio de grandes investimentos contrasta com outros grandes projetos previstos para a região, mas que nunca saíram do papel

O investimento de grupos chineses em siderurgia anunciado esta semana para o Maranhão ainda está longe de ser uma fonte de emprego e renda aos maranhenses, há somente um protocolo de intenções para sua implantação futura.
Os investimentos – na ordem de R$ 9 bilhões – foram divulgados com pompa pela comitiva do presidente Michel Temer, mas o governo do estado ainda trata com bastante cautela o assunto.
Em conversa com a reportagem de O Imparcial, o secretário de Indústria e comércio do Maranhão, Simplício Araújo, demonstrou cautela ao falar sobre o possível polo de siderurgia, deixando claro que o andamento das negociações é lento e que o governo do estado busca evitar alardes ou grandes anúncios, sob pena de incutir nos mesmos erros de gestões anteriores, quando grandes projetos foram anunciados, mas nunca concluídos.
“É preciso agir com cautela e segurança ao realizar estes anúncios. O projeto tem viabilidade e as negociações têm sido realizadas pelo governo do estado passo a passo, no sentido de obtermos êxito nesta empreitada”, explicou Simplício.
Sobre a capacidade produtiva, Simplício Araújo explicou que a intenção informada é que o polo de siderurgia produza aço plano para os mercados interno e externo, e em uma outra fase, também produza vergalhões para construção civil.
Segundo o secretário, o próximo passo no cronograma de ações é uma nova visita dos chineses para oficialização da empresa no Brasil. “Foi acordado que a empresa, até o ano que vem, fará sua legalização no Brasil, com a criação de uma divisão nacional. Após isso, serão regularizadas as questões relacionadas à vinda de equipamentos e equipe técnica para dar continuidade às negociações”.
Simplício explica que ainda será definido o local que receberá o polo. “A cidade de Bacabeira foi definida como prioridade do grupo empresarial por questões logísticas, devido à proximidade com terminais portuários, as ferrovias de Carajás e Norte-Sul, bem como às linhas de transmissão da Eletrobrás e capacidade de captação de água na área. O local específico deverá atender a estas demandas”, destacou.
Ainda segundo o secretário, no atual estágio das negociações, não é possível realizar um prognóstico do número de empregos que serão gerados direta e indiretamente pela empresa, nem estabelecer um cronograma específico de quando o polo siderúrgico entrará em funcionamento. “Evitamos especulações para não pairar dúvidas sobre o processo. Cada estágio do processo será anunciado quando concretizado, dando segurança dos atos à população”.
Histórico das negociações
Desde o ano passado, o Governo do Maranhão vem negociando com empresas chinesas em um trabalho intersetorial de várias secretarias de Estado, sob coordenação do vice-governador Carlos Brandão. Segundo informações da Secretaria de Comunicação Social e Assuntos Políticos (Secap), foi reafirmado pelo grupo de investidores à delegação do novo presidente Michel Temer o interesse no investimento de R$ 9,75 bilhões para instalação de um polo de siderurgia no estado.
As tratativas para instalação do empreendimento no Maranhão tiveram início ainda no primeiro semestre de 2015, quando o governador Flávio Dino e o vice-governador Carlos Brandão receberam a visita do cônsul da China para o Nordeste, Wang Xian, e dos vice-cônsules, Zhang Xiangyan e Zhang Re, para diálogo sobre as oportunidades de investimentos no estado.
Em agosto do ano passado, o Governo do Maranhão assinou protocolo de intenções com Zhang Shengsheng, CEO da CBSteel, empresa chinesa constituída para investimentos no Brasil. Segundo nota da época do governo estadual, os investidores tinham interesse no programa de incentivo maranhense que prevê isenção fiscal de até 85 por cento nos impostos estaduais por até 15 anos.
Segundo o vice-governador do estado, Carlos Brandão (PSDB), a tratativa para a instalação de investimentos no Maranhão tem sido uma prioridade do Governo do Estado, que amplia diálogos e firma parcerias de cooperação técnico-científica que facilitam a troca de informações para instalação de empreendimentos no estado.
Para o vice-governador, “todas as negociações traçadas com o governo da China confirmam o compromisso do Governo do Maranhão em trazer para o nosso estado emprego e renda para os maranhenses”. Carlos Brandão ainda ressaltou a relevância dos investimentos no contexto econômico atual. “É um projeto de governo que reúne as condições necessárias para que o ramo da siderurgia se instale de forma positiva, atendendo aos critérios dos governos federal e estadual”, finalizou.
Em março deste ano, mais uma delegação de empresários chineses retornou ao Maranhão para encontro com o governador Flávio Dino e o secretário estadual de Indústria e Comércio, Simplício Araújo. Em visita ao Palácio dos Leões, a comitiva alinhou investimentos em setores como energia, siderurgia e tecnologia, que culminaram na assinatura do protocolo de intenções junto à comitiva brasileira enviada pelo governo federal.
Investimento em meio à crise
Segundo informações do Instituto Aço Brasil (IABr), que representa os maiores produtores da liga no país, o setor siderúrgico brasileiro vive um quadro de excesso de capacidade, em meio à forte queda na demanda interna gerada pela recessão, que derrubou o consumo de veículos, máquinas e equipamentos e no setor de construção civil. A utilização da capacidade instalada do setor atingiu em julho o menor nível da série histórica, cerca de 77 por cento. O setor acumula queda de 12 por cento na produção de janeiro a julho, enquanto as vendas têm baixa de 14 por cento.
Sobre os investimentos
A China Brazil Xinnenghuan International Investment (CBStell) oficializou um acordo de US$ 3 bilhões (R$ 9,75 bilhões) para investimentos em siderurgia no Maranhão, e a China Communications Construction Company (CCCC) informou um aporte de US$ 460 milhões (R$ 1,5 bilhão) em um terminal multicargas em São Luís.
Em comunicado distribuído pela comitiva brasileira que participou do Seminário Empresarial de Alto Nível Brasil-China, evento que reuniu cerca de 100 empresários brasileiros e 250 chineses em Xangai, e faz parte das atividades realizadas pela comitiva que acompanha o presidente Michel Temer durante a primeira viagem internacional para participar de reunião de cúpula do G20 na China.
O investimento informado terá como foco a viabilização de projetos siderúrgicos na cidade de Bacabeira, que, se implantados, terá capacidade produtiva, apenas em sua primeira fase, de 3 milhões de toneladas de aço plano, com possibilidade de expansão para produção de vergalhões.
Se confirmado o investimento em Bacabeira, a usina só terá suas atividades iniciais após a abertura, neste ano, da Companhia Siderúrgica do Pecém, no Ceará. O projeto de 3 milhões de toneladas e iniciado em 2007 contou com investimento de 5,4 bilhões de dólares e tem a mineradora Vale como um dos principais acionistas ao lado das sul-coreanas Dongkuk e Posco.
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