Os sobreviventes da vida e do fogo
Moradores dos casebres instalados embaixo da Ponte José Sarney, mais conhecida como “Ponte do São Francisco”, contam sobre o momento do incêndio e relatam a precariedade do local.
Destruição, perdas, descaso, vidas e histórias. Estas palavras traduzem a realidade dos moradores dos casebres instalados embaixo da Ponte José Sarney, mais conhecida como “Ponte do São Francisco”, em São Luís. Estas pessoas, além de viverem de forma insalubre, sobreviveram à um incêndio durante a madrugada da última sexta-feira (5), onde saíram ilesas, sem nenhum ferimento físico, mas com muitos machucados emocionais.
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O que restou para a maioria dos cidadãos que habitavam nas 12 moradias incendiadas, foram apenas destroços de seus lares, que foram totalmente tomados pelo fogo. Edilane Sousa, de 22 anos, uma das moradoras atingidas pelo incêndio, conta, com muita tristeza, que o acidente aconteceu no começo da manhã, por volta das 5h, horário em que os moradores do local saem para buscar água diariamente.
A jovem, de 22 anos, agora, carrega um olhar baixo, sem esperança, e não sabe para onde vai com sua amiga, que mora junto com ela. Apesar do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ter oferecido um abrigo temporário para os moradores, Edilane e sua amiga preferem não ir.
“Ainda não sei para onde nós vamos, precisamos de um local para dormir de hoje para amanhã, e depois, não faço ideia para onde iremos”, relava a jovem.
Edilane e sua amiga estão desempregas. Quando questionadas sobre como se sustentam financeiramente, as jovens respondem: “do que aparecer, o que tiver que fazer gente faz”. Outros moradores do local vivem na mesma situação, não tem um emprego fixo, ganham dinheiro como podem, aproveitando as oportunidades que surgem. Um deles é Marcelo, que não revelou o sobrenome. Ele trabalha como pintor e tem 35 anos.
O casebre onde mora não foi atingido pelo incêndio, mas o medo e a insegurança estão presentes. Segundo o morador do insalubre local, o incêndio pode ter sido causado por um curto circuito, na única rede elétrica, instalada através de “gato” (famosa instalação elétrica que não passa por medição e aferição da concessionária responsável por distribuir energia elétrica ao estado ou município).
Como parte dos outros moradores que não tiveram seus casebres atingidos, não foi oferecido para Marcelo o abrigo temporário. A reclamação das pessoas que vão continuar no local, é que não será possível utilizar a energia elétrica por medo de um novo curto circuito, e terão que ficar sem utilizar os poucos eletrodomésticos que possuem, como por exemplo, um simples ventilador para não passar calor enquanto dormem.
Como parte dos outros moradores que não tiveram seus casebres atingidos, não foi oferecido para Marcelo o abrigo temporário. A reclamação das pessoas que vão continuar no local, é que não será possível utilizar a energia elétrica por medo de um novo curto circuito, e terão que ficar sem utilizar os poucos eletrodomésticos que possuem, como por exemplo, um simples ventilador para não passar calor enquanto dormem.
“E nós que vamos ficar aqui? Não temos para onde ir, se acontece de novo, nós vamos ser prejudicados. Precisamos de um parecer se vamos para outro lugar ou só os outros serão beneficiados”, questionou Marcelo.
63 casebres no local
A pequena vila, como os moradores denominam o local onde moram, contém 27 casebres, com dezenas de pessoas morando no local. No incêndio, 12 foram consumidos pelas chamas, e estas pessoas serão assistidas pelo aluguel social em São Luís.
DPE-MA no caso
A Defensoria Pública do Estado do Maranhão (DPE/MA) está atuando no caso das pessoas que tiveram os casebres queimados e se pronunciou através de nota. Confira na íntegra.
A Defensoria Pública do Estado do Maranhão (DPE/MA) está acompanhando, na manhã desta sexta-feira (5), as famílias que vivem em casebres debaixo da Ponte José Sarney, mais conhecida como Ponte do São Francisco.
As famílias foram surpreendidas nas primeiras horas da manhã por um incêndio. Apesar da magnitude das chamas que consumiram completamente os casebres feitos de PVC e madeira, não houve feridos.
As equipes do Núcleo de Moradia e Defesa Fundiária e do Núcleo de Direitos Humanos da DPE/MA se deslocaram até o local para ouvir as famílias e articular a adoção de providências por parte dos órgãos competentes estaduais e municipais.
Por meio do Núcleo de Moradia, a Defensoria já acompanha cerca de 60 famílias que vivem no local e vem requerendo ao Município a inclusão dessas pessoas em programas de aluguel social e uma solução definitiva, como o encaminhamento das pessoas a um programa habitacional.
No último dia 26, o defensor público Marcus Patrício Soares Monteiro participou de uma reunião com representantes da Secretaria Municipal de Urbanismo e Habitação (Semurh) para discutir a situação das famílias que vivem nos casebres. Na oportunidade, o Município se comprometeu a tentar incluir a área em um programa de revitalização e buscar soluções habitacionais.