Comportamento

Relações perigosas e como identificá-las

Segundo a psicóloga Fernanda Zeidan, em grande parte dos casos, é difícil observar sinais de abuso no início de uma relação.

Abusos psicológicos são mais difíceis de detectar, mas também deixam sequelas nas vítimas. (Foto: Reprodução/Internet)

Uma chantagem, uma ameaça, uso de expressões como: “isso não pode”, “não quero que você vá”, “não quero que use isso”, e que podem evoluir para um grito, uma batida na mesa, um dedo na cara, um aperto mais forte no braço… situações de violência psicológica que podem ocorrer entre um casal ainda na fase do namoro, mas que em muitos casos, podem evoluir para uma violência física maior e em último caso, até em morte. Um relacionamento abusivo nem sempre é percebido por quem está dentro da relação e quando descoberto, pode ser tarde demais. O amor, a paixão e o envolvimento podem dificultar a identificação do tipo de relação que a pessoa está vivendo.

Quem pensa que os casos de violência doméstica começam quando o casal passa a viver junto, pode estar enganado. Muitos dos relacionamentos abusivos começam ainda no namoro. De acordo com dados extraídos pela 2ª Vara Especial de Violência doméstica e Familiar contra a Mulher de São Luís, em pesquisa divulgada no ano 2019, 43% das vítimas de algum tipo de agressão são mulheres solteiras, sendo que no total, 54,02% tem entre 18 a 34 anos. “Partindo da premissa de que viver sem violência é direito de toda mulher, tem-se a reflexão sobre relacionamentos abusivos enfrentados pelos jovens, que às vezes se mostram em atos de ciúmes, decorrente de um machismo estrutural”, disse a juiza titular da 2ª Vara Especial de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de São Luís, Lúcia Barros Heluy.

Partindo da premissa de que viver sem violência é direito de toda mulher, tem-se a reflexão sobre relacionamentos abusivos enfrentados pelos jovens, que às vezes se mostram em atos de ciúmes, decorrente de um machismo estrutural

Segundo a psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras São Luís, Fernanda Zeidan, em grande parte dos casos, é difícil observar sinais de abuso no início de uma relação, que começam de forma discreta, em falas com pequenas críticas ou piadas sobre aspectos pessoais, além de um vitimismo disfarçado.

Muitas vezes as consequências de um relacionamento abusivo não deixam marcas físicas – as sequelas são psicológicas. “A vítima, por medo ou vergonha, silencia sobre as atitudes. A violência psicológica é toda e qualquer prática que viola os direitos de ser quem se é em termos de identidade (autoconceito e autoestima). Isso é muito comum em relações abusivas em todos os sentidos”, pontua Zeidan.

Controle não é saudável

Em todos os casos, porém, há sempre um fato incomum. “Uma relação não é saudável quando as coisas não vão bem ou quando um dos companheiros está controlando demais o outro. Mas a vítima, que está envolvida na relação, não consegue enxergar com frieza o suficiente para constatar que está em um relacionamento abusivo. Por isso, pode ser mais fácil alguém de fora identificar a situação”, alerta.

A estudante do curso de Administração S.P.S (a estudante preferiu não se identificar), de 22 anos. “S” começou a namorar com M.R. quando ambos tinham 20 anos. Era o segundo namorado dela. O ciúme dele a deixava envaidecida, achava que era amor, cuidado. Mas com o tempo ela percebeu que algo estava errado. E admite ter dado graças a Deus por ter descoberto cedo. “Ele falava comigo 24h por dia. No dia que a gente não se via, o que era raro, queria saber todos os meus passos. Quando a gente completou 3 meses de namoro eu comecei a ficar incomodada. Ia me buscar no colégio (ela estudava à noite) todo dia, queria saber quem era fulano, quem era beltrano. Nos finais de semana era lá em casa o tempo todo, começou a implicar com minhas roupas e queria ficar vendo meu celular. Foi a gota d’água”, disse.

Ele falava comigo 24h por dia. No dia que a gente não se via, o que era raro, queria saber todos os meus passos. Quando a gente completou 3 meses de namoro eu comecei a ficar incomodada

Ela “pediu um tempo” para M.R. E ele, inconformado, não parava de mandar mensagens, ligar, fazer ameaças, e até mesmo ir para a frente da escola. “Eu bloqueei ele em tudo, ele até me pareceu meio violento, e precisei pedir para meu pai ir me buscar. Com o tempo ele foi deixando. Mas fiquei com medo e sempre quando vejo algum caso de violência eu lembro do que me livrei, e agradeço a Deus”, disse.

Eu bloqueei ele em tudo, ele até me pareceu meio violento, e precisei pedir para meu pai ir me buscar

Alguns sinais de relacionamento abusivo

Ciúme excessivo

Com a justificava de “amar demais” o ciúme vira justificativa para o controle. É normal que uma pessoa sinta medo de perder quem ama. Mas quando isso passa a virar argumento para controlar a tomada de decisão do outro, agressões, ofensas ou invasão de privacidade, é excessivo.

Afastamento de outras pessoas

As justificativas podem ser muitas: os amigos são má influência ou dão em cima do companheiro. O abusador também pode alegar não gostar de determinadas pessoas por não “o tratarem bem”. O fato é que vai exigindo que o outro se afaste das pessoas mais próximas.

Destruição da autoestima

Se no começo da relação a pessoa era incrível para a outra, aos poucos isso vai mudando. A mudança começa com “críticas construtivas”, que vão se tornando cada vez mais comuns e pesadas. Sem perceber, a vítima vai perdendo a autoestima até o ponto de achar que é alguém tão ruim que nenhuma outra pessoa irá amá-la se a relação terminar.

Superproteção

No início pode parecer um cuidado bonito, generoso, algo que reflete carinho e preocupação. Mas com o tempo a superproteção serve para mostrar como a vítima pode ser dependente do abusador. Como ele passa a ser fundamental para cada ação, esvaziando a autonomia de decisão da vítima e tiram a liberdade de expressão.

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