DRAMA DOS REFUGIADOS DA VENEZUELA

Um feliz recomeço para “seu Joel”

Há oito meses no Brasil e há um mês em São Luís e morando na casa de uma pessoa que se disponibilizou a ajudar, agora ele está empregado formalmente em uma lanchonete

Reprodução

Você já deve ter reparado essa situação. Nos sinais, terminais de ônibus, retornos, canteiros de várias avenidas e locais da cidade, crianças, jovens e adultos seguram cartazes pedindo moradia, dinheiro, água, comida. No mês de maio, O Imparcial publicou reportagem falando sobre a chegada de um grupo de 55 venezuelanos que desembarcou em São Luís, fugindo do país vizinho em busca de oportunidade de uma vida melhor.  Pois bem, sonhar, acreditar que é possível, perseverar e contar com a ajuda do próximo fez a diferença para uma dessas pessoas que chegou ao Brasil com a esperança de conseguir recomeçar a vida.

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Joel Jesus Mendes, refugiado político, 52 anos, teve essa chance. Há oito meses no Brasil e há um mês em São Luís e morando na casa de uma pessoa que se disponibilizou a ajudar, agora ele está empregado formalmente em uma lanchonete. Mas foram semanas de sufoco, marcando ponto todos os dias (foram 15 dias) na rotatória do São Francisco, até conseguir chamar a atenção de uma pessoa em especial. “Eu passei por uma situação muito difícil no exterior, que, graças a um russo, um anjo que se colocou diante de mim, eu pude solucionar. Desde então, eu carrego comigo a vontade de ajudar um estrangeiro, alguém que precisa, porque eu me coloco no lugar dele. Você precisa se colocar no lugar do outro que está em uma terra estranha, falando uma língua diferente, lidando com pessoas diferentes”, conta a jornalista e sócia da InterMídia Comunicação Integrada, Adriana Vieira.

Ela disse que já tinha visto vários desses estrangeiros nos mais variados locais com cartazes pedindo comida e dinheiro, mas o que chamou atenção no grande cartaz que Joel carregava era que ele queria emprego. No cartaz, do moço que vestia uma camisa do Brasil, dizia que era chef de cozinha e queria um trabalho. “Foi isso que me tocou. E vi no rosto dele uma pessoa calma, serena, com uma energia boa. Como eu tenho clientes e amigos que têm restaurantes, lojas, achei que eu podia ajudar com a minha rede de contatos.  Iniciei a campanha na internet e foi aí que descobri, pelas pessoas que queriam ajudar, que ele tinha anotado o telefone errado. Voltei lá à tarde para corrigir o número, mas ele não estava, então voltei no dia seguinte de manhã e consegui. Achei interessante a estratégia dele de ficar todos os dias no mesmo local e horário. Acho que ele persistiu e pensou que não ia sair dali até conseguir um emprego”, falou Adriana.

E deu certo. O tempo passou desde o último contato com Joel e nada acontecia, mesmo com a campanha. Foi aí que durante uma reunião com um cliente, ela contou a história e perguntou se não tinha como ele ajudar. Prontamente, ele ligou para uma empresária do ramo de lanchonetes que topou ajudar. Foram quase duas semanas de esforço para que tudo se concretizasse, para que ele fizesse os testes na cozinha, apresentasse documentação e, finalmente, está empregado.

Joel veio para o Brasil sozinho, mas sonha em trazer a família para cá.  “Ele foi muito bem recebido na empresa e agora tem novos sonhos e projetos, pois um homem com trabalho é um homem que pode sonhar e conquistar! Eu sabia quando o vi no retorno, que deveria ajudar, era minha forma de viver na prática o que prega a minha religião. Acredito na oração, mas mais ainda na ação! E agradeço a Deus pela rede de contatos e as pessoas do bem que cruzam o meu caminho. Que meu coração sempre se compadeça de quem precisa e que eu acredite mais e mais que posso ajudar a transformar outras vidas!”, comemorou Adriana Vieira.

A história de Joel

Joel deixou a Venezuela por conta da crise no país e veio para o Brasil em busca de oportunidade. Na Venezuela estão a mãe e o irmão, que vivem da ajuda que ele manda. Depois que um amigo disse que viesse para São Luís porque aqui conseguiria emprego, ele resolveu vir para a capital maranhense. Documentação de refugiado na mão, morando na rua, dias depois, ele foi trabalhar no mesmo restaurante que o amigo trabalhava.

Mas lá, tanto ele quanto o amigo eram maltratados. Até que um dia o amigo dele não aguentou e pediu para sair. O chefe, em seguida, demitiu Joel também. Sem dinheiro, emprego, nem ter para onde ir, uma cozinheira do restaurante, compadecida com a história dele, entregou a chave de uma casa para ele ficar, para que não fosse para a rua.

Quem me contou essa história foi Karol Barros, empresária, que deu emprego a Joel e ainda se emociona quando conta desse encontro. “Quando vi aquele senhor, lembrei logo do meu pai, do jeito dele. Todos nós sabemos a situação triste em que se encontra a Venezuela, de muitos que já saíram do seu país procurando abrigo e que o sofrimento é enorme. Nos últimos dias, temos visto muitos deles, pedindo esmola, comida, mas o Joel me chamou atenção pelo pedido. Ele não queria esmola, ele queria emprego. E mais especial ainda, de chef de cozinha. Não que ele não aceitasse qualquer outro emprego, mas porque ama a sua profissão. Me emociono quando falo disso”, disse a empresária.

Seu Joel já está enturmado no emprego e conquistou a simpatia de todos. Segundo a empresária, uma de suas funcionárias fez uma mercearia para ele, quando soube que ele mora de favor. “Ao informá-lo que foi contratado (ele tem documentação de refugiado), vi um menino com os olhos brilhando como se dissesse: ‘agora tudo vai dar certo’. Ele não está lá por pena, sabe cozinhar, fez todos os testes, como qualquer um que fosse entrar para a empresa faria, e foi aprovado. Ele estava precisando de ajuda e eu podia ajudar. Claro que de início dá um medo, mas alguma coisa me dizia que eu estava fazendo o que precisava fazer”, constatou a empresária.

Governo atende 69 venezuelanos

Em nota, o Governo do Estado informou, por meio da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (SEDIHPOP), que mantém o esforço conjunto com a Prefeitura de São Luís na prestação de serviços de apoio para os refugiados venezuelanos que se encontram no Maranhão, através da SEDIHPOP, além das secretarias de Estado da Saúde, de Desenvolvimento Social (SEDES) e da Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (SEMCAS). “Contabilizamos 69 venezuelanos indígenas, da etnia Warao, atendidos em São Luís. Para garantir o cumprimento, principalmente, da legislação protetiva de crianças e adolescentes, os serviços oferecidos são: moradia; alimentação; atenção básica à saúde; e acesso à educação. Nesse sentido, Governo e Prefeitura trabalham alinhados também com os conselhos tutelares, Ministério Público e Promotoria da Infância. Vale destacar que o número de atendimentos não revela a quantidade exata de venezuelanos na capital em decorrência da continuidade do movimento migratório em direção a outros estados do Brasil e também pela chegada de novas famílias que ainda não buscaram atendimento”, diz a nota. Para os refugiados que necessitarem dos serviços, são disponibilizados os canais de atendimento: SEMCAS: (98) 3235-2360/ (98) 988262364 ; Sedihpop: (98) 99244-1886.

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