POLUIÇÃO

Revitalização dos rios de São Luís é “quase utópica”, aponta especialista

Quase todos os rios da ilha estão poluídos, apesar de tentativas da Caema de tratar 70% do esgoto da cidade até 2018

Ao observar os rios da ilha de São Luís, em especial aqueles que correm entre as áreas urbanas, é difícil imaginar que há poucas décadas banhar naquelas águas era comum. Hoje, a maioria deles está tomada pela poluição causada pelo lançamento de esgoto, drenagem urbana e pelo descarte irregular de lixo, de forma direta ou indireta. Se você chegou a banhar nos rios que cortam a ilha enquanto estes ainda eram limpos, considere-se sortudo: especialistas afirmam ser quase utópica a revitalização dos cursos d’água.

Apesar das tentativas da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) de elevar os índices de esgoto tratado de 4% para 70% até o ano que vem, através do Programa Mais Saneamento, o químico e doutor em Geoquímica Ambiental, professor do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFMA, Odilon Teixeira, explica a dificuldade de revitalizar as águas. “A revitalização de um rio necessariamente vai precisar receber esgoto tratado com redução da demanda bioquímica de oxigênio em 90 […], redução significativa de resíduos sólidos, levados pela drenagem urbana e deixados nas praias e rios pelas atividades de lazer e recreação, limpeza permanente dos leitos dos rios para desobstrução de resíduos e do assoreamento e revegetação da margem”, enumera o doutor. Requisitos que estão longe da realidade hoje observada.

Há pouco mais de três décadas, a situação dos rios era outra. A professora de Comunicação Social da UFMA, Li-Chang Shuen, relembra os tempos em que morou no bairro do Barreto, aos seis anos de idade, e pôde aproveitar as águas límpidas de um dos afluentes do Rio Anil. “Quando eu nasci, não tinha água encanada nas casas, então minha mãe acordava e levava a gente pra tomar banho na bica do rio”, conta, trazendo à tona a memória da enchente de 1985, que levou a família a mudar de bairro. “Depois que eu cresci, passei a frequentar o estádio [Castelão]. Eu passei por lá no último jogo do Sampaio, e lá não é mais um rio, é um esgoto”, lamenta Li-Chang Shuen.

Mesmo após a crescente onda de poluição das águas, vez ou outra é possível observar quem banhe nos rios. O morador do bairro da Liberdade, Ian Prates, de 22 anos, conta que há não muito tempo, apesar da quantidade de lixo, o lazer no Rio Anil era comum. “Na época o grande número de palafitas na região dava acesso aos manguezais. Em nossa inocência ou falta de conhecimento sobre saneamento, não ligávamos muito pro quesito poluição”, conta, relembrando que as necessidades eram feitas no rio, e a quantidade de lixo acumulada era grande. “O pessoal pulava da Ponte Bandeira Tribuzzi. Era a diversão da época, não tínhamos eletrônicos, moleques da periferia, então todas as brincadeiras eram na rua e no ambiente em que vivemos”, comenta o estudante. Após as obras do PAC Rio Anil e da criação dos condomínios populares, Ian explica que a situação melhorou, mas que o rio continua sofrendo, já que “o projeto não incluiu a revitalização”.

Sistema de tratamento

Sobre o tratamento do esgoto, uma das principais causas da poluição dos rios, o professor Odilon Teixeira aponta que um sistema ideal possui etapas ou processos que não estão sendo seguidas na íntegra nas Estações de Tratamento de São Luís, dos bairros do Bacanga, Jaracati e Vinhais. “Um tratamento envolvendo todas as etapas [preliminar, primária, secundária, terciária e desinfecção] seria o ideal. Creio que no Brasil menos de 1% de todos os municípios possui um sistema de tratamento completo, porque isto é caro e demorado, e não é priorizado pelos nossos gestores públicos”, explica.

A Caema informou, por meio de nota, que desde 2015 o Programa Mais Saneamento é executado pela Companhia, e que a construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Anil está em fase avançada de obras. Além disso, foi informado que está prevista a instalação de 355 km de redes coletoras (destas, pelo menos 120 km já implantadas), construção de 35 novas elevatórias de esgoto e retiradas de pontos de esgoto de corpos hídricos da capital, a exemplo da Lagoa da Jansen (já entregue) e dos rios Pimenta, Calhau e Claro, em execução.

Não há previsão para que os rios Anil, Bacanga, Tibiri, Paciência, Maracanã, Calhau, Pimenta, Coqueiro e Cachorros, além de seus afluentes, deixem de sofrer com as marcas da poluição. Enquanto isso, moradores de dezenas de bairros da ilha continuam a ter como cenário águas turvas que, uma vez límpidas, já foram fonte de lazer e riqueza natural.

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