FINADOS

O Cemitério do Gavião na semana de homenagem aos falecidos

Parentes e amigos de falecidos se antecipam ao Dia de Finados para prestar homenagens, deixando flores ou fazendo a limpeza ao redor das sepulturas

Quando chegamos ao Cemitério do Gavião, o mais antigo e mais movimentado da Ilha, encontramos várias pessoas carregando flores ou rezando perto das sepulturas de seus entes queridos, mas um casal em especial chamou a nossa atenção. Essas pessoas não estavam lá por nenhum falecido em especial, mas por todos. Por todos os mortos que precisam de oração.

“Quando alguém esquece o nosso aniversário, nós não ficamos tristes, magoados? Pois assim é com os mortos. Eles ficam tristes e a gente está aqui para fazer essa homenagem pra eles. Porque a gente sabe que muita gente aqui fica esquecida. Estamos orando, deixando flores e pedindo desculpas pelas pessoas que deveriam estar aqui por eles, mas não estão”, diz a missionária Ozana Cruz, da Igreja Messiânica.

Acompanhada de outro membro da igreja, seu João Batista, eles depositavam água e flores em um monumento que fica em um dos corredores do Cemitério do Gavião.

“Todos os anos a gente faz isso antes do Dia de Finados, trazemos água e a flor de luz, que é uma planta que representa luz para eles. Já no dia 2, nós fazemos nossas orações e homenagens na Igreja mesmo, durante o culto”, completa Ozana.

A aposentada Emília Carvalho também optou por levar flores para seus pais no dia de ontem. Segundo ela, é um momento mais tranquilo para fazer suas orações. “O dia é simbólico. O importante é a gente estar sempre presente, vindo aqui, mandando limpar a sepultura, porque no Dia de Finados vem muitas pessoas, e a gente acaba não tendo a calma que precisa para fazer as orações”, explica.

No Dia de Finados, a aglomeração no Cemitério do Gavião também é maior por conta das missas que são celebradas durante todo o dia, às 7h, 9h e às 17h. Esta última, geralmente celebrada pelo bispo Dom Belisário. As missas são organizadas pela Legião de Maria.

Pequenos trabalhos, grandes lucros

Ao mesmo tempo em que visitantes faziam suas orações e depositavam flores e velas, outra parte estava lá para observar a limpeza da morada de seus entes queridos. Em geral, nos dias que antecedem ao Finados, muita gente aproveita para mandar pintar ou limpar o túmulo, até mesmo prevendo que o dia 2 será inviável para fazer isso. Quem lucra com isso são os trabalhadores informais, prestadores de pequenos serviços. Munidos de vassouras, pás, baldes e pincéis, eles aproveitam para ganhar um dinheiro a mais. Como seu José Carlos Silva, pedreiro, e que, contratado por particulares para fazer a limpeza, costuma cuidar de até 10 túmulos por dia nesse período. “A gente precisa aproveitar a ocasião. E graças a Deus já tenho muito tempo trabalhando aqui. Todo ano, já têm as pessoas fixas que me contratam. Serviço nunca falta”, alega. Segundo as pessoas que fazem esses serviços, uma limpeza completa pode custar R$ 100 por túmulo. E são muitos os que oferecem. Muitos deles são profissionais conhecidos da área.

“A gente precisa aproveitar a ocasião. E graças a Deus já tenho muito tempo trabalhando aqui. Todo ano, já têm as pessoas fixas que me contratam. Serviço nunca falta” José Carlos Silva, pedreiro

É o caso de dona Luciana Nogueira, que ganha a vida com as limpezas do cemitério. Desde os 6 anos, limpar túmulos faz parte dela. “Eu vinha com meu pai, que também trabalhava aqui. Daí, eu fui ajudando ele e acabei ficando nesse trabalho. Com ele, criei meus filhos, tenho minha vida. Aqui faço de tudo, subo onde tem que subir, limpo o que tem que limpar”, garante.

O contraste

O Gavião possui túmulos que ostentam riqueza e outros que carecem de muitos reparos. Enquanto muitas sepulturas já estavam sendo cuidadas, lavadas, pintadas e capinadas, outras pareciam grandes montes de pedras abandonadas. Encontramos uma que, além de estar bem cuidada, ainda possuía recados recentes e carinhosos de parentes, com dizeres como: “muitas saudades”, “eu te amo”, entre outras declarações. Outras, lamentavelmente, não apresentavam mais nem a lápide. Em algumas, a administração do cemitério deixou bilhetes para que os responsáveis pelos túmulos a procurassem.
Segundo Maria Helena Damous Estrela, administradora do Cemitério do Gavião, cerca de 40 por cento dos túmulos do local estão abandonados ou depredados. Ao todo, o cemitério possui 17 mil sepulturas.

“Eu vinha com meu pai que também trabalhava aqui. Daí, eu fui ajudando ele e acabei ficando nesse trabalho. Com ele, criei meus filhos, tenho minha vida. Aqui faço de tudo, subo onde tem que subir, limpo o que tem que limpar” Luciana Nogueira, serviços gerais

“Os responsáveis por esses locais precisam procurar a administração, precisam cuidar dos túmulos de seus entes, pois estão cada vez mais abandonados”, pede a administradora. Maria Helena Damous Estrela aproveita para fazer um apelo, para que as pessoas não consumam ou contratem serviços oferecidos por crianças, ou menores de 18 anos. Segundo ela, o cemitério recebeu uma visita do Ministério do Trabalho. “O que a gente mais percebe é que nesse período o cemitério fica cheio de crianças e adolescentes vendendo coisas, oferecendo serviços de pintura, lavagem, limpeza. Nós somos contra isso e queremos pedir que as pessoas tambem evitem contratar, pois isso configura como trabalho infantil e nós podemos ser multados, sendo que nós não temos controle de quem entra no local nesse dia, porque é muita gente. Nós contamos com a consciência da população, até mesmo porque nesse dia pode haver fiscalização do órgão aqui”, pede dona Maria Helena. Pelo menos 20 mil pessoas devem passar pelo cemitério no dia 2, Dia de Finados.

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