ECONOMIA

Pequenos empresários lutam para pagar as contas durante pandemia

Muitos empreendimentos precisaram fechar as portas durante a pandemia do novo coronavírus

Reprodução

A crise sanitária que se abateu sobre o mundo com a pandemia da Covid-19 mudou tudo. Mudou o modo de viver, de agir, de pensar e também o modo como a economia se move. Para frear o avanço da doença, que já vitimou milhares de pessoas ao redor do mundo, muitos empreendimentos precisaram fechar as portas. Assim, pequenos e médios empresários se viram à frente de um dilema: fechar o negócio ou contrair dívidas para arcar com as despesas que terão durante a quarentena.

Para a empresária Socorro Santos, a saída foi fechar temporariamente a loja de aluguel de roupas de festas, a Casar Noivas e Festas, que possui no bairro do Renascença. O setor de festas foi o primeiro a ser fechado quando a Organização Mundial da Saúde declarou a Covid-19 como pandemia e os governos estaduais editaram decretos suspendendo eventos e festas geradores de grandes aglomerações. E talvez seja o último a ser liberado, quando essa crise passar.

Assim, com a loja fechada desde o dia 15 de março, Socorro se viu quase que de volta ao começo. Socorro agora voltou a usar a máquina de costura para produzir e conseguir pagar as dívidas. Os dois funcionários que tem ela incluiu no programa do governo, e paga parte do salário deles (a outra parte o governo federal paga) até que tudo se normalize e ela volte a abrir a loja.

Dona de duas unidades, uma no Renascença e outra no Vinhais, ela já havia fechado a loja do Vinhais, por conta da crise econômica que já se abatia no país mesmo antes da pandemia. Mas há dois meses a situação piorou. Com quatro décadas no ramo, Socorro perdeu, mas não se abateu com a crise que chegou.

Já estabelecida no mercado e com a vida financeira toda organizada, ela teve que se reinventar. “Eu me vi com contas a pagar, com alimentação para comprar, então tinha minhas máquinas e voltei a costurar. Primeiro fui fazer máscaras, que na época estava tendo boa saída e depois, como tenho clientes muito antigas, passei a costurar para elas, a fazer roupas utilitárias para profissionais da saúde, pijamas e roupas para dormir, visto que as pessoas estão mais tempo em casa”, conta Socorro.

Eu me vi com contas a pagar, com alimentação para comprar, então tinha minhas máquinas e voltei a costurar. Primeiro fui fazer máscaras, que na época estava tendo boa saída e depois, como tenho clientes muito antigas, passei a costurar para elas

Quando puder reabrir o seu empreendimento, ela planeja fechar de vez a loja do Renascença para reabri-la novamente no Vinhais, local onde também mora e onde tudo começou. “Na verdade, esse setor de festas já vinha sendo afetado desde 2016 com sucessivas crises, agora só agravou tudo. A pandemia deu cheque mate. Eu não fiquei sem trabalho até hoje, mas tem colegas meus que estão passando necessidade, e que viviam exclusivamente do segmento de festas.  Vamos precisar de muito tempo para nos recuperar”, lamenta.

A Casar Noivas e Festas foi fundada em 2005, mas antes de terá loja ela já tinha um ateliê em casa. Ela costura desde os 11 anos, e com seu trabalho, mesmo depois de ter o ateliê ela costurava nas casas de pessoas que a chamavam. “Agora me vejo voltando ao início, com a minha loja, mas costurando para fora. Costuro de dia, e à noite eu entrego, faço delivery. Mas está tudo tranquilo. A gente tem é que levantar toda vez que cai”, ensina.

A empresária, que também é psicóloga, se vira como pode. Mas ainda assim, dos pacientes que tinha ficou com apenas 2. Passou também a utilizar seus conhecimentos médicos para ajudar voluntariamente outras pessoas que passam por dificuldades emocionais nesse período. Ela participa de dois grupos que dão suporte para pessoas que estão perdendo parentes, amigos nessa pandemia.

“É o que falo para as pessoas que estou atendendo, não tem uma receita certa para a gente passar por isso. Temos que aprender a lidar com essa doença, saber que o que está acontecendo não é só com uma ou outra pessoa. Na parte financeira, veja, eu perdi a loja que eu tinha, eu era uma empresária e hoje estou costureira. Mas para mim não é um bicho de sete cabeças. Tudo vai se arrumar”, acredita.

“Não desisti do meu restaurante”

É com otimismo que o microempresário Augusto César do Vale, 33 anos, empreendedor no ramo de alimentação espera que a crise passe. Há 2 anos ele realizou o sonho de abrir um restaurante, o Rapacoco, na Cohama, e há 2 meses ele viu isso se transformar em um pesadelo.  Ele não se desfez do seu restaurante, mas admite que mesmo que saia a permissão de reabertura, no momento não tem capital para reabrir. Para driblar a crise e pagar as contas que se apresentam, ele está vendendo máscaras. “Abri um restaurante mirando no público trabalhador, sempre com foco em qualidade e preços populares.

Como a maioria de todos os microempreendedores brasileiros, sempre trabalhamos com pouco capital de giro, o famoso ‘vendendo o almoço para comprar a janta’.  Antes de sermos surpreendidos pela pandemia, estávamos finalmente nos recuperando da crise financeira que nosso setor enfrentou ao final do ano de 2019, com aumento abusivo do valor das carnes e alimentos em geral”, contou o empresário.

Abri um restaurante mirando no público trabalhador, sempre com foco em qualidade e preços populares. Como a maioria de todos os microempreendedores brasileiros, sempre trabalhamos com pouco capital de giro, o famoso ‘vendendo o almoço para comprar a janta

Quando pensava que ia retomar a economia do negócio, veio a pandemia. Ao contrário de outros estabelecimentos do ramo, Augusto não apostou na venda por delivery. “Passados hoje exatamente 2 meses do nosso fechamento total, pois trabalhávamos exclusivamente com self-service e não prestávamos o serviço de delivery, mesmo com a reabertura do comércio não temos condições de reabrir”, disse Augusto.

Como estratégia para reduzir os danos, junto com a mãe dele, que também é empreendedora atuando no ramo de confecção, começou a produção de máscaras de tecido e desde então, estão vendendo em frente ao estabelecimento dele. “Porém, os ganhos não superam os custos de manter um ponto comercial alugado com equipe e contas que já estavam a vencer e seriam pagas com um faturamento futuro que não tivemos oportunidade de ter. Agora esperamos por um milagre, que se não vier resultará no fechamento total de um negócio que garantia 100% da renda de 7 famílias (ele possui 7 empregados), gerando também a perca de todo capital investido em equipamentos, reforma e adaptações do ponto”, lamenta o empreendedor.

Sabendo que infelizmente essa é a realidade que afeta muitos pequenos empresários mundo afora, Augusto demonstra tristeza em ver a situação que o país chegou por causa da crise sanitária da pandemia. “Me entristece saber que essa realidade é igual para todos meus companheiros microempreendedores brasileiros, que assumem um papel na economia nacional, que garantem a maior parte dos empregos das classes mais necessitadas e que não podem contar com o apoio necessário do nosso governo. Espero que quando tudo isso passar, possamos, juntos, de pé, recomeçar”, acredita.

Espero que quando tudo isso passar, possamos, juntos, de pé, recomeçar

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