2 DE FEVEREIRO

Uma grande festa a Iemanjá, Rainha dos Mares

É numa estreita rua de nome de santo, do Bairro Pão de Açúcar, que o Brasil sincretista se revela nas comemorações à Rainha do Mar

Altar para Iemanjá montado no terreiro da casa (Foto: Reprodução)

Em estreita rua de nome São João, a batida forte de cantada anciã ecoa. Para quem não conhece, aquela melodia africana passa despercebida devido à normalidade do local.  A imagem do Futebol das criança e grande templo católico completam o cenário de bairro periférico de São Luís. Porém, ao prestar um pouco de atenção, verá na casa de fachada vermelho e branco, de onde saem o cânticos, a manifestação mais clara de um Brasil Sincretista.

Foto: Petronilio Ferreira

Assim que entrei no singelo local, percebi que a Tenda Pai Oxalá Toya Verequete, como é conhecida, preparava grande festa: o aniversário de Iemanjá (Rainha do Mar). Logo fui recebido pela filha de santo, Daniele Pereira. Pela terceira vez, as obrigações para com a festa eram dela. “Há toda uma preparação”, explica a religiosa. “Tem que ter o tambor, para os vodus e caboclos que regem a casa. No dia da festa, nós damos comida, bebida, cortamos o bolo”, comenta.

Daniele lembra bem o dia que recebeu a missão de organizar a festa. “(Os vodus) Chegaram pra mim e tocaram meu coração”, diz com brilhos nos olhos sobre a primeira obrigação. “Eu fui tocada, assim soube que a festa seria entregue para mim. Só foi depois confirmada pelo meu pai de santo e os guias que desceram”, conta a filha.

Foto: Petronilio Ferreira

Durante a conversa, pude perceber nas paredes do pequeno terreiro que santos católicos se misturavam a orixás e caboclos. Essa é uma das características do Tambor de Mina, religião trazida por escravos que chegavam aos portos de Belém e São Luís. Foi aqui que se construíram terreiros importantes como a Casa das Minas e Casa Nagô.

“Costumo a dizer que a mina é saudação aos vodus, aos encantados e aos gentios (chefes)”, comenta o Chefe Religioso, Pai Nemesio.  Ele explica que os primeiros significam a natureza real de Olorum. Os segundos são os mensageiros dos vodus que não podem falar por eles mesmos.

Os mariscos para Iemanjá

Foto: Petronilio Ferreira

A festa para a Rainha do Mar é festa farta. Os preparativos começam dia antes. Tempero seco, corante, sal, pimenta do reino, alho, limão… ajudam a dar um toque especial a comida que será oferecida no almoço para o Orixá. “Como hoje é Iemanjá, preparamos mais é mariscos: peixe, camarão, sururu. Mas tem outras coisas, como carne, galinha”, conta uma das cozinheiras Miquelina dos Santos.

“A gente faz com amor”, fala a cozinheira Gonçala dos Anjos. Para ela, os convidados do banquete são guias de luz. Segundo a cozinheira, todo o seu trabalho é recompensado pelo orixá. “Nada que não faça com fé que não se tenha retorno”, afirma.

“Desde o momento que a gente entra na cozinha já é uma emoção grande”, afirma Gonçala dos Anjos. É o amor e a emoção que dão o tempero especial a comida servida durante a festa de Iemanjá.

Os pedidos à zeladora dos pescadores

Foto: Petronilio Ferreira

Aos poucos, fiéis de todos cantos do Pão de Açucar chegam com oferendas nas mãos. Silenciosos e demonstrando típica calmaria de Iemanjá, depositam no altar flores, cordões de metal, espumantes e principalmente pedidos. Com isso, buscam agradecer e renovar as solicitações para o Orixá.

Gonçala dos Anjos acredita que é grande a emoção da hora de deixar os pedidos no Mar. “Não é nem tanto por causa dos pedidos. Porque até em casa, sentado, orando ela nos atende. Mas sim, por causa das pessoas que legitimam nosso culto”, afirma a cozinheira.

Como grande mãe, Iemanjá recebe diversos pedidos diariamente. Durante conversas, pude ouvir a história interessante de uma mulher que a tempos pratica a religião. Solteira, não aguentava mais não ter com quem repartir bons momentos. Foi então que pediu à Rainha dos Mares um namorado. Dias depois, um homem apareceu em casa para cortar a luz. Assim que a viu, ficou encantado. Se cortou a luz? Não sei. Contam que no outro dia o apaixonado bateu novamente na porta, agora não mais para cortar luz, e sim entregar uma flor branca e conquistar a amada.

“Temos Iemanjá como mãe. Ela abraça seus filhos, dando amor e acalmando. É nessa luz que ela guia e ampara, unindo povos”, conclui Pai Nemesio.

 

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