8 DE MARÇO

Mulheres de luta, mulheres que lutam

Hoje, para este Dia Internacional da Mulher conversamos com 4 mulheres cujos trabalhos são de orgulhar a classe.

Parece ser um dom natural. A mulher já nasce com um substantivo que a acompanha durante toda a vida: LUTA. E aprendeu com esse substantivo a conjugar o verbo LUTAR. Lutar para conquistar espaço, lutar para conquistar direitos, lutar para ocupar espaço na sociedade, lutar para ficar viva…. Lutar, lutar, lutar!

Diferente de outras décadas, a mulher cada vez mais conquista espaço, fugindo do lugar comum para o qual era criada, que era apenas de cuidar da casa e dos filhos. Hoje, para este Dia Internacional da Mulher conversamos com 4 mulheres cujos trabalhos são de orgulhar a classe. As lutas dessas mulheres para defender outras mulheres estão no campo da justiça, do trabalho, da política, do Direito, em todas as esferas. São mulheres que amam o que fazem porque sabem que ocupam cargos de representatividade. São mulheres que inspiram outras mulheres, outras lutas.

A delegada Viviane Fontenelle, do Departamento de Feminicídio, atua na Polícia Civil há 10 anos. Desde pequena, já se sentia atraída pela profissão de delegada.

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Quando começou a cursar a faculdade se identificou logo com o Direito Penal e não restou mais dúvidas: queria ser delegada de polícia. A família sempre respeitou a decisão dela e hoje, é só orgulho.

Depois que ingressou na Polícia em 2009, passou pela Delegacia da Mulher em Imperatriz, atuou em Barreirinhas, depois Viana e Itapecuru. Em São Luís está desde 2014, quando passou por vários distritos até assumir o Departamento de Feminicídio, em 2017, pertencente à Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa, e que alcançou, no ano passado, 100% de elucidação dos casos.  “O trabalho é desafiador, não só porque identificamos todas as mortes violentas de mulher, mas também porque a gente sempre procura fazer trabalhos preventivos, em parceria com a Delegacia da Mulher, outros órgãos de proteção fazendo campanhas preventivas. Porque na minha opinião, mais importante do que você prender o feminicida, é você evitar que o crime aconteça. Esse trabalho preventivo considero um dos mais importantes que tem. Então é um desafio, e é um trabalho que gosto. ”

Sobre o Dia Internacional da Mulher, ela diz que gostaria que fosse uma data menos romantizada e mais voltada para discussões sobre a posição da mulher dentro da sociedade. “Que fosse discutido o respeito que ela tem que ter, a ocupação da mulher nos cargos de poder, de decisão, incentivar as mulheres que elas podem fazer tudo, que elas não são menores que os homens, e que tem capacidade de seguir qualquer carreira. E o mais importante de tudo é ter o respeito”, disse ela.

Mulheres na política

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Presidente do Fórum Estadual da Mulher Parlamentar, a vereadora do município de São Domingos do Maranhão, Patrícia Lucena tem o trabalho de defender a mulher na política. Um dos principais objetivos do Fórum é capacitar e potencializar o instinto feminino na política do estado, e resgatar a força da mulher maranhense.

De acordo com dados do TSE as mulheres representam apenas 15% das duas Casas Legislativas, a porcentagem, ainda baixa, mantém o Brasil no rodapé de um ranking mundial de presença feminina.

Vereadora eleita em 2017, Patricia também é enfermeira e se considera uma mulher de luta por ter coragem de enfrentar o preconceito e mostrar com o trabalho que o lugar de mulher é onde ela quiser. “Objetivo continuar na vida pública e lutar por mais mulheres na política. Luto pelo espaço da quebradeira de coco da mulher do campo e pela saúde pública voltada para Mulher. Especialmente na política, a política precisa da força feminina, porque mulher pensa como mulher e sem a mulher no parlamento fica difícil defender os nossos espaços”, afirmou.

Para a parlamentar, o Dia Internacional da Mulher representa espaço conquistado, reconhecimento de quem sabe lutar de verdade. “Lutem como guerreiras que é o que verdadeiramente somos. Pois não basta só ser dona de casa, administradora do lar, mãe, profissionais. Precisamos ter coragem de seguir o exemplo de construção de espaço e poder conquistado por grandes mulheres até os nossos dias. Vamos à luta, encorajem se, vamos à luta do nosso espaço, muito ainda temos para conquistar”.

O desafio é diário

Nome: Valdelice de Jesus Almeida. Idade: 54 anos. Profissão: trabalhadora doméstica e enfermeira. Valdelice, mulher, negra (ela faz questão de enfatizar), nascida em Central do Maranhão, há 42 anos é trabalhadora doméstica.

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Casada, 2 filhos, presidente do Sindoméstico do Maranhão há 6 anos e Diretora da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD), há 3, é mulher que se orgulha da luta diária e de ter a profissão que representa grande parte dos trabalhadores domésticos deste país, em especial do Maranhão. Uma categoria que luta para ter direitos reconhecidos. Segundo ela, estão registrados pelo menos 642 profissionais,

Mas antes de lutar pela categoria, Valdelice precisou lutar na vida. Com 12 anos de idade saiu de Central para “ajudar” uma tia do meu pai que trabalhava como doméstica. O trato era que viesse para estudar e “ajudasse” quando desse. Só que não foi bem assim. Ela passou a fazer todo o trabalho da casa e tinha que estudar a noite. “Consegui terminar os estudos com muita luta, mas continuei na profissão. É dela que tiro o meu sustento, e com o tempo construí família, ajudo meu marido com as despesas da casa. É uma profissão que gosto, que foi da minha avó, da minha mãe e que eu sigo honrando e lutando. Me formei em Enfermagem, mas não cheguei a exercer a profissão”, disse ela.

À frente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos, Valdelice continua uma luta que já conta mais de 80 anos de reconhecimento do trabalho doméstico como profissão, de acordo com a Constituição de 1988, e lei complementar 150/2015. “Agora estamos lutando pela convenção 189 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que garante direitos iguais para todas da nossa categoria. O desafio é grande por ser uma sindicato que tem a maioria de mulheres e negras e não temos a liberação para estar na luta. Representa uma luta para outras meninas para que não venham a trabalhar como minha mãe, que tinha folga só a cada 15 dias, sendo um domingo pela tarde. Nossa luta é para esclarecer que elas tem seus direitos. Até hoje tem umas que chegam ao sindicato sem saber disso”, disse Valdelice.

Para ela a trabalhadora, o Dia Internacional da Mulher é mais um dia de luta não só para as trabalhadoras domésticas, pela garantia de direitos já conquistados, mas pelo que ainda falta. “Precisamos conseguir políticas públicas para todos, direitos à saúde, moradia, educação, creche e isso é uma luta nacional de todas as classes trabalhadoras”, lembrou.

Mulher de enfrentamento

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A advogada Ananda Farias, tem 15 anos de experiência em Direito de Família e Empresarial. Sócia do escritório Ananda Farias Advogados Associados, já ocupou vários cargos na OAB/MA (Ordem dos Advogados do Brasil) e atualmente é a mulher que ocupa o cargo mais alto na instituição, como Secretária Geral.

Conhecida por se dedicar com afinco ao trabalho e à defesa de seus clientes, hoje a sua luta e torcida é para que as mulheres advogadas deem passos mais largos com maiores inserções políticas institucionais a dimensionar na OAB, pois assim elas contribuirão para um coletivo mais consciente e consistente.

“Em 2019 o Conselho Federal da OAB aprovou uma resolução que obriga as chapas a terem 30% dos cargos ocupados por mulheres. Sendo que tal resolução só será obrigatória ano que vem. Mas o então candidato à Presidência da OAB, achou por bem já montar uma chapa atendendo aos anseios das mulheres de participarem mais efetivamente. Pois bem, através do que conhecia do meu trabalho e pessoa, o mesmo me convidou para concorrer ao cargo. Felizmente saímos vitoriosos”, contou a advogada.

Em defesa da mulher, ela contextualiza que apenas 50% das mulheres em idade de trabalhar estão representadas na população economicamente ativa no mundo e que sua luta é sobretudo, para que todas sejam respeitadas em suas escolhas e opiniões. “Os dados mostram que quanto mais desigualdade de gênero, mais violência de gênero. O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres. Para diminuir a violência, temos que diminuir a desigualdade. Só existe democracia com a participação efetiva das mulheres. O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países”, apontou.

Neste dia 8, Ananda lembra que para as mulheres ocuparem seu espaço, é preciso coragem e ousadia e apoio na luta da outra. “Ninguém vai, por altruísmo ou compreensão do necessário resgate histórico, lhe dar o lugar nos Conselhos, nas diretorias ou nos espaços de poder. Será preciso ocuparmos esses lugares, com engenho, inteligência e competência que não nos falta!! É preciso coragem, ousadia, e, o mais importante, ação integrada, em rede, onde uma apoie a luta da outra! Toquem no assunto, incomodem, apresentem seus nomes”, recomenda.

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