DESCASO

Presença de animais na UFMA gera polêmica

Presença de animais no campus do Bacanga levanta um debate importante acerca do risco e a humanização que eles podem proporcionar ao ambiente

Foto: Honório Moreira

Eles andam pelos arredores do Restaurante Universitário. Caminham pelos prédios acadêmicos da Universidade Federal do Maranhão. São vistos atravessando, perigosamente, as avenidas do campus. Os cachorros já fazem parte do cenário da UFMA. Uma presença que gera opiniões diferentes entre a comunidade escolar.

O estudante de engenharia química, Lucas Figueiredo, acredita que os animais trazem riscos para os alunos e funcionários. “Eu vejo que muitos deles estão bem doentes, magros e sem cuidado. Mas acho que eles não deveriam andar principalmente por aqui, pela região do restaurante, por conta da higiene e do perigo à saúde”, conta.

Mas há quem discorde, crendo que a presença dos animais serve para humanizar o ambiente acadêmico. É o caso de Luana Martins, estudante de Psicologia. “Acho que nós estamos em um ambiente, muita vezes, tão cheio de pressões, tão carregado, que os cachorros são uma espécie de atenuante. Eles ajudam a humanizar esse lugar”, garante.

E foi pensando justamente nas histórias que cada animal carrega que Ana Monteiro, Mábia Teixeira, Jonas Goulart, Juliana Mendes, Isis Brito, Felipe Henrique, Kissia Matos e Mayara Máximo, estudantes de diferentes cursos da UFMA, se juntaram e formaram um grupo chamado Ampara Focinhos UFMA para dar alento aos bichinhos.

Em entrevista a O Imparcial, Mábia Teixeira, que faz parte do grupo, contou sobre as atividades realizadas, sobre as articulações para conseguir apoio, além de relatar situações controversas com relação aos animais. O trabalho do grupo consiste na verificação de possíveis animais doentes e maltratados, cuidados emergenciais e possível encaminhamento para tratamento.

“Nosso grupo começou movido pela vontade de dar cuidado e carinho para esses animais que já foram abandonados fora daqui. Eles vêm para cá e encontram um abrigo, um local para ficar. Mas acabam sofrendo maus-tratos aqui também. Por isso, nós recolhemos os animais feridos, machucados e doentes e levamos para o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, onde a gente tem um grupo que se esforça para tratar, alimentar e bem cuidar desses bichinhos”, relata.

O grupo é independente e não possui vínculo com nenhuma instituição. Para conseguir dinheiro suficiente para comprar materiais necessários para execução das atividades, o grupo conta com a colaboração e bondade de outros estudantes e alguns funcionários. Segundo Mábia, em casos graves, também são realizadas campanhas por meio das redes sociais, que trazem uma boa adesão. “Não temos uma fonte de renda específica e garantida para compra de material. A gente só conta com a boa vontade mesmo de alguns amigos, outros estudantes e também de funcionários bem-intencionados que abraçaram a causa e que nos ajudam bastante”, revela.

Situações curiosas

Foto: Honório Moreira

Durante nossa visita à universidade, entramos em contato também com outros estudantes e alguns funcionários para entender a situação dos animais dentro do campus. Um dos estudantes que acompanham de perto o trabalho do grupo, mas preferiu não se identificar, relatou que muitos animais aparecem, pela manhã, mortos. Envenenados, sem aparente motivação. “Vejo sempre alguns cachorros agonizando. Eu sei bem quando um animal está morrendo por conta de ter ingerido veneno. Mas, de onde vem esse veneno? Muitos cachorros morrem dessa forma, outros, ainda debilitados, desaparecem daqui e não entendemos a motivação”, disparou.

O que diz a OAB-MA

Nossa equipe também entrou em contato com a Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão (OAB-MA). Durante entrevista, a presidente da Comissão de Defesa e Proteção dos Animais, Camila Maia, se posicionou quanto à situação descrita, mencionando que o diálogo é sempre o melhor caminho para resolver conflitos.

“A principal causa dessa situação, de muitos animais nas instituições, tem tudo a ver com maus-tratos e abandono. Se não houvesse abandono de animais ou se houvesse um sistema de castração eficiente, o problema diminuiria consideravelmente. Mas aqui na cidade, apesar da existência de muitas ONGs, da OAB e de outras instituições que lutam pelas causas dos animais, a situação ainda é muito complicada”, pondera.

Sobre os animais na UFMA, Camila ressaltou que outras universidades federais pelo país passaram a adotar políticas de amparo aos animais e que essa é uma boa saída para resolver o problema. “A exemplo do que já foi feito em universidades federais de outros estados, é interessante que a UFMA pense na criação de uma comissão para discutir questões relacionadas a esses animais. Tudo que está dentro da universidade diz respeito à sua administração, por isso o problema dos animais é problemas da instituição também. Tudo se resolve através de diálogo, de conversa”, conclui.

Diálogo com a UFMA

Durante a conversa que tivemos com Mábia, chegamos a um ponto onde a pergunta inevitável veio à tona. “E quanto à universidade? Vocês já entraram em contato com ela para tentar fechar algum tipo de parceria?”. Ao que Mábia respondeu, dizendo que já foram feitas várias tentativas de diálogo entre o grupo e a universidade, mas todas foram malsucedidas.

“Nós já tentamos em várias reuniões esse contato, essa parceria. Pelo menos para criarem algum tipo de campanha contra o abandono, campanhas de vacinação. Algo que movesse certo debate dentro do campus, mas não tivemos êxito. A Universidade sempre diz que o lugar dos animais não é na universidade”, declara.

O Imparcial entrou em contato com a UFMA para obter um posicionamento sobre as declarações dadas anteriormente. Além disso, a forma como a instituição procede quanto à presença dos animais também foi questionada. Em nota, a universidade se limitou a dizer o seguinte:

“A Universidade Federal do Maranhão informa que uma equipe responsável conversará junto com o grupo de amparo e cuidado a animais em situações de abandono dentro do campus universitário da UFMA, a fim de discutir medidas que sejam adotadas de modo a não prejudicar estes animais, sabendo da importância que eles têm e o cuidado para com eles”.

A nota aqui transcrita foi enviada à redação na quarta-feira da semana passada, no dia 31 de janeiro. Nossa equipe entrou em contato com o grupo de amparo aos animais ao meio-dia de ontem (6) para saber o que ficou resolvido após a conversa que a UFMA afirmou que faria. Nenhum contato havia sido feito até o momento.

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