Belas, do lar e armadas

Atualmente, 46 delegadas atuam em São Luís

O Imparcial realizou uma entrevista exclusiva com algumas delegadas que têm ganhado destaque na segurança pública em São Luís

Na foto, da esquerda para a direita: Kazumi Tanaka, coordenadoradas Delegacias de Atendimento e Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Codevim); Adriana Amarantes, delegada Geral Adjunta da Polícia Civil; e Maria Eunice Ruben, delegada Titular da Delegacia do Maiobão

Num momento histórico em que as políticas de gênero estão na pauta de discussões dos governos e sociedade, o objetivo é subsidiar a formulação de projetos e políticas pautadas pelo respeito à diversidade de gênero, reconhecendo que a igualdade não se constrói ao se apagar as diferenças biológicas, sociais e culturais entre homens e mulheres. Mas, sobretudo, com sua devida valorização e abordagem que permita corrigir a desigualdade histórica que tem contribuído para limitar o exercício de direitos pelas mulheres.

O Imparcial realizou uma entrevista exclusiva com algumas delegadas que têm ganhado destaque na segurança pública em São Luís, mostrando que batom, bolsa, salto e segurança são papéis das mulheres em qualquer lugar. Cada uma com sua trajetória para exercer essa patente. Segundo levantamentos feitos por O Imparcial junto com a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA), atualmente, só em são Luís e região metropolitana da capital, 46 mulheres assumem o cargo de delegadas.

Adriana Amarantes, delegada-geral adjunta da Polícia Civil, conta que desde pequena falava que ia fazer Direito pra ser delegada. “Desde criança eu fui influenciada vendo meu bisavô que era delegado e aos poucos fui me identificando com a profissão dele. Logo se tornou um sonho de infância ser uma delegada. Na época que fazia faculdade, não era uma profissão tão em alta como é hoje. Sem falar que era mais velada e de cara masculina”, conta a delegada Adriana.

Delegada titular da Delegacia do Maiobão, região metropolitana da capital, Maria Eunice Ruben foi para função pela necessidade da época. “Eu venho de família bem humilde, antes de me formar eu casei, então tive a necessidade de dar o melhor para meus fi lhos. O máximo que eu almejava seria ser uma professora, diante das minhas condições. Surgiu, então, o concurso, não era aquilo que eu queria, porque não queria nada que envolvesse polícia, contudo necessitava de um trabalho. Fiz o concurso e passei. Hoje, sou completamente apaixonada pela polícia e não quero sair de jeito nenhum, mesmo meus fi lhos pedindo. Eu amo o que faço”, disse a delegada.

A delegada Kazumi Tanaka, coordenadora das Delegacias de Atendimento e Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Codevim), conta que sempre teve influências a seguir à área jurídica, uma vez que sua mãe é procuradora. “E mesmo com as influências do Direito, escolher ser delegada foi uma oportunidade. Assim que eu formei, saiu logo o concurso, então resolvi encarar. Podendo exercer uma profissão em uma área jurídica e também ser muito útil pra carreira que eu escolhi de fato, é muito gratificante. Todo dia uma rotina diferente, todo dia uma situação nova. E o melhor é ver o reconhecimento das pessoas pelo empenho que tivemos”, disse.

“E mesmo com as influências do Direito, escolher ser delegada foi uma oportunidade. Assim que eu formei, saiu logo o concurso, então resolvi encarar, disse Kazumi Tanaka.

O Machismo

Segundo a delegada Adriana, antigamente a Polícia Civil, Militar ou todas as forças de segurança sempre foi rotulada pela fi gura a masculina, mesmo tendo algumas mulheres, que ainda era minoria. “E foi há 19 anos, quando nós três fi zemos o concurso, que esse cenário vem mudando. Foi a partir daí que vimos muitas mulheres entrando na polícia. Acho que hoje em dia está quase igual em comparação dos gêneros. Mas, isso ainda não se desmistificou por completo. A partir de quando uma mulher assume uma patente na segurança, nós sentimos que as pessoas ficam esperando pra ver como vai ser, se a mulher vai dar conta do recado, querendo desacreditar do nosso trabalho. Mas, estamos provando que não precisamos ir ao grito pra mostrar nosso trabalho e valer nossa autoridade, por isso estamos sendo cada vez mais reconhecidas”. “Pelo o que eu tenho observado é que a cada dia estão busca-se a fi gura feminina na segurança pública. Acredito que seja pela própria natureza feminina. Nós temos a vertente de resolução, de administração e da nossa própria delicadeza, onde vamos resolver sempre da forma mais pacífica”, conclui a delegada Adriana.

Para a delegada Kazumi, o machismo é construído desde um discurso dentro de casa. “A gente recebe algum caso de uma mulher agredida, por exemplo, e perguntamos o que você faz? Ela diz: Ah, só sou dona de casa. A doméstica que é uma trabalhadora não se sente reconhecida, pelo discurso criado de quem é dona de casa não trabalha. Temos que descontruir alguns discursos e alguns atos e aprender que o companheiro pode fazer as mesmas coisas que a gente”, disse Kazumi.

Ameaças

Para a delegada Kazumi, é meio que inevitável não sofrer ameaças, uma vez que elas atuam contra transgressores da lei. “Nós não nos lembramos de quem prendemos, mas quem é preso por nós nunca esquece a gente. Uma situação de violência doméstica familiar, por exemplo, onde o homem altamente machista vê uma mulher determinando sua prisão ele se sente desafi ado, pois lá quem sempre esteve sob o controle foi ele, o ‘Homem’. Nem que seja pelo um olhar ele tenta ameaçar a gente, mas não conseguem, somos detentoras da lei”, contou a delegada.

Fatos marcantes

Para a delegada Maria Eunice, é muito difícil elencar vários casos ou um caso específi co, porém crimes contra crianças é o que mais a espanta no momento. “Vemos muitas barbaridades, mortes, assaltos, agressões, mas nada é mais doloroso que você ver uma criança violentada. Eu nunca vou me acostumar com esse tipo de caso. E casos como esses na região que trabalho é muito frequente. Recentemente, pedi a prisão de um pai abusava de sua fi – lha desde os nove anos de idade, hoje a menor está com 11 anos e passou esse tempo todo sendo abusada pelo genitor”, relatou a delegada.

Bandido bom é bandido morto?

Para a delegada Adriana, é uma frase incoerente. Segundo ela, ninguém é justiceiro ou algo tipo. “Essa frase não é aceita por delegadas de polícia. Existem confrontos entre polícia e bandidos, se somos aplicadoras da lei do direito, somos a força do estado para conter a criminalidade e nós somos ameaçadas ou corremos o risco de ser mortos, nós vamos reagir e revidar. E aí sim a polícia não vai atirar pra errar, nós treinamos é com um alvo, protegendo nossa vida ou dos nossos companheiros de trabalho. Então, bandido bom morto, só se for por morte natural ou por alguma coisa que ele venha a fazer, mas não morto pela polícia de forma a fazer justiça”, disse a delegada.

 

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