DIA DOS PAIS

Uma relação que a distância não pode separar

Seja pelo trabalho, readequações familiares ou por condições de vida melhor, os filhos, às vezes, moram longe dos pais

Hoje, Dia dos Pais, nem todos podem dizer que passarão ao lado daquele que, para muitos, é mais que um amigo, um exemplo ou com quem compartilha grandes momentos de sua criação.
Entre realidades distintas, a sociedade atual leva a separação física entre pais e seus filhos que em muitas oportunidades não deixam essa barreira encerrar as relações afetivas, mantendo o contato mesmo que intáctil e se estreitando em períodos festivos.
Seja por trabalho, estudo ou porque a relação matrimonial não existe mais, as famílias, ocasionalmente, se adaptam a situações em que seja possível não deixar os laços fraternos ascenderem à proporção da distância que o momento impôs.
Porém, estar perto do pai tem um papel de importância extremamente relevante na vida de qualquer filho. Estudos da Universidade Federal de São Paulo revelam que a presença física dos pais na vida dos filhos é um elemento organizador dos vínculos que devem ser construídos ao longo da vida, portanto deve ser respeitada sempre se observando que a frequente distância entre pais e filhos omite a vivência de determinadas situações que são primordiais na relação afetiva e hierárquica necessária entre eles.
Para os filhos
Lúcia Pinheiro, 38, sabe bem que crescer distante do pai não significa romper relações. Ela e as irmãs Sandra e Ana Cristina viram ainda muito jovens os pais se divorciarem o que levou o pai Lúcio da Silva à cidade de Pinheiro, Região da Baixada do estado. Ela conta que o contato acontecia sempre por visitas do pai, assim como férias, feriados e datas comemorativas em que ela e as irmãs viajavam para casa dele, o que, segundo ela, acontecia com mais frequência que as vindas dele à capital. “No começo, a gente sentiu muita a falta e se questionava, mas enquanto crianças vivemos a parte lúdica da relação, sempre que ele vinha a cidade saíamos para brincar, passear proporcionando o não acontecer o distanciamento da relação”, lembrou Lúcia Pinheiro.
Ela também conta como se sentia em momentos comemorativos. “Na infância é complicado, porque você vê todo aquele movimento em escola, mas a gente foi crescendo e entendendo, sempre que possível se ligava, enviava presentes. O sentimento naquela época era de frustração, porque você tinha que fazer o presente do pai, que era curricular e aí não tinha como entregar, mas a mão sempre apoiava a fazer”. Ainda assim, nem todos os momentos tipicamente relacionados ao pai puderam ser vivenciados por seu Lúcio em relação às filhas, um exemplo é o tão comum ciúme de pai quando os homônimos femininos começam a agir e o interesse no sexo oposto surge. “Nesse ponto quem tomava partido era a mãe, tanto que tem uma frase perfeita dele, que certa vez nos recebeu com namorados em sua casa e disse que confiava plenamente no que a mãe decidia para as nós, e eu vi que ele tinha total confiança na criação dada por ela”. O pai que nem sempre pôde estar próximo das filhas se tornou um avô primoroso no contato com os netos. “É uma relação muito boa do avô, os meninos vão sempre pra casa dele, ele é um avô mais presente e a relação dos meus filhos com ele é muito boa”. Depois de muitos anos passando o dia dos pais separados, esse ano promete ser especial para a família que tenta se organizar para que o seu Lúcio esteja aqui na capital celebrando com os filhos, resta apenas esperar e torcer para que tudo dê certo.
Para o pai
Ricardo Figueredo, pai

O ditado que diz “a gente cria os filhos para o mundo” caiu como uma luva para o tecnólogo de informação e pai do Rodrigo, Ricardo Figueiredo que viu em um dia de emoções distintas no ano de 2007 o filho mais velho seguir seu próprio caminho e sair de casa. Rodrigo Primeiro queria estudar produção fonográfica, um curso superior que não é oferecido no estado, portanto decidiu que deveria se mudar para o Rio de Janeiro para concretizar esse sonho tomando a madura atitude de deixar o ninho. Ricardo, seu pai, conta que aceitar a partida não foi uma tarefa fácil no início. “Contra minha vontade na época, a mãe dava total apoio inicialmente. Já eu não queria quebrar o laço, e, na época em que ele alegou não ter o curso aqui, eu tentei dar outras opções, outros cursos que ele poderia fazer por aqui como publicidade, além de amizades que ele já tinha aqui e que poderiam ser positivas no ramo de trabalho que ele queria. Mas ele resolveu no fim que o melhor seria lá no Rio de Jabeiro mesmo”, revelou Ricardo.

Como pai zeloso a preocupação com a segurança e bem estar de Rodrigo foi o primeiro ponto a ser discutido, Ricardo conta que a transição foi tranquila e que, apesar da distância, foi possível acompanhar todo o processo de adaptação do filho no novo lar. “A gente combinou inicialmente de a cada 3 ou 4 meses ou irmos até lá visitá-lo ou ele vir até aqui, acabou que tivemos que ir mesmo para ajudar na organização do local de moradia, e ficamos nessa ou nós vamos lá ou ele vem aqui, quando a saudade aperta”. A família Figueiredo acredita que se manter sempre conectado é um dos segredos para diminuir a ausência que a separação trouxe “A gente se comunica por todos os meios de mídias sociais, é Facebook, é Messenger, Whatsapp. Hoje em dia com esse monte de mídia que existe aí, a distancia é só física mesmo, mas a comunicação é permanente” reforça Ricardo. Sobre a saudade que aparece no dia dos pais, Ricardo é enfático ao lembrar que mesmo que exista a saudade pela presença física, outro sentimento é mais forte nesse período. “Quando eu olho para trás, eu sinto falta dos momentos que eu não vivi com os meus filhos, porque, quando somos mais novos e estamos correndo atrás de trabalhar e produzir, acaba negligenciando o convívio com os filhos que são crianças. Ainda hoje eu sonho com eles pequenininhos, e acho que é saudade daquilo que a gente não viveu”. No dia dos pais desse ano, Ricardo diz que falará com o Rodrigo através das redes sociais, além de ficar próximo dos dois outros filhos que estão na capital, e lembra “o importante é a presença espiritual ser mais forte que a física”.
A hora de ser independente
A professora-adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Dra. Julia M. Soares Vasques, comenta que os fatores que levam os filhos a se distanciar dos pais são muito singulares. “Não há uma idade cronológica para esse sentimento. Tem adolescentes capazes de se separar dos pais por um período longo como adultos que não se sentem seguros com essa distância. O importante, além da base na infância que o pediatra e psicanalista inglês D. Winnicott chama de a capacidade de estar só, é que, na relação entre pais e filhos, a dívida simbólica não pese tanto. Em outras palavras, que o investimento dos pais nos filhos não cobre um pagamento para cima, de volta, mas que os filhos paguem isso que chamamos de dívida simbólica na geração seguinte”, afirmo Julia Vasques. Para manter a força da relação ignorando qualquer distância física, é necessário o esforço de ambas as partes e, claro, ajuda da tecnologia que favorece cada vez mais o encurtamento de distâncias. Whatsapp, Skype, Imo, Facebook são apenas algumas ferramentas entre várias outras que podem ser utilizadas como recurso de comunicação entre pai e filho, e, mesmo para pais “não-tecnológicos”, o bom e velho telefone permite que se mantenha o contato frequente entre os dois.
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