MARANHÃO RESISTENTE

Entenda porque o estado foi um dos últimos a dar ouvidos ao Grito do Ipiranga

Dividido em províncias, o Brasil estava longe de ser uma União indissolúvel, e o processo de Independência, como muitos outros, foi feito por partes, seguindo os interesses locais

Em 1822 o Brasil estava se separando oficialmente da metrópole europeia, Portugal, e se firmando como um Império na América, mas longe de um sentimento nacionalista, o Grito do Ipiranga foi motivado por interesses da elite política e intelectual que ansiava pelo controle econômico da antiga colônia de exploração.
Dividido em províncias, o Brasil estava longe de ser uma União indissolúvel, e o processo de Independência, como muitos outros, foi feito por partes, seguindo os interesses locais. O Maranhão, até 28 de julho de 1823 não tinha interesse em se separar de Portugal, como explica Yuri Costa, Professor de História na Universidade Federal do Maranhão.
O Mito da Última Província
O pesquisador aponta o “mito da adesão da última província” como uma espécie de romantização do processo de Independência do Brasil.
“Se alimenta uma espécie de mito que o Maranhão teria resistido muito. O mito da última província, como se chamava na época. Isso decorreu, entretanto de fatores bem peculiares da região no momento. Na década de 20 do século XIX, o Maranhão era uma província voltada muito mais às relações comerciais e políticas com Lisboa que com o centro-sul do país que estava se declarando independente. Até do ponto de vista geográfico era muito mais fácil o acesso, por mar, a Lisboa, que ter um acesso terrestre ao Rio de Janeiro, cidade que se tornaria a capital do Império , explicou.
Segundo o historiador a ideia de que o Maranhão foi o último a aderir tem de ser vista com cautela. “Após o Maranhão, muitas outras partes do Brasil continuaram em conflito, inclusive algumas em caráter separatista durante décadas. Depende muito do que se entende como adesão, algumas foram mais imediatas, outras negociadas e ainda outras tiveram conflitos armados que se estenderam para bem depois”.
Conversa de pé de ouvido
Com elites distantes e olhando para lados opostos, Dom Pedro I precisou de um mediador, é aí que entra a figura do Lord Cochrane, um escocês que mais tarde virou Marquês no Maranhão. “Ele (Cochrane) era um diplomata contratado por Dom Pedro para mediar a negociação com as elites maranhenses. Ele foi convocado para estabelecer essa conversa e muitos atribuem a ele a vitória dos interesses do Sul sobre o Norte”, comentou o Professor Yuri.
Feriado pra que?
Mitos e história se confundem no dia a dia da população maranhense, e a Adesão do Maranhão à Independência do Brasil virou feriado estadual que muitos não compreendem. A ideia parece ser lembrar sobre como a Colônia derrubou o poder da Metrópole além mar, com o povo guiado por um bravo príncipe no cavalo, mas em 2016 muita gente se lembra vagamente do que se passou em 1823.
A vendedora Deusilene Bastos, por exemplo, confundiu a adesão do estado com uma adesão da cidade de São Luís. “È o dia da Adesão de São Luís à Independência do Brasil, não é?”, confunde. Já a comerciante informal Silvana Trindade acertou de primeira o nome do feriado com o qual não concorda. “Eu sei sim, mas não gosto de feriado nenhum. Queria vir trabalhar, vender, mas não vai ter ninguém. Com a crise que estamos passando, vendendo pouco, feriado, mais um, só atrapalha”, adverte.
Quem também confundiu o feriado foi o senhor José Malheiros, que correndo apressado declarou ser “a adesão do Maranhão à República”. Malheiros estava tão apressado que a equipe não pôde lhe dizer que estava enganado. Já a secretária FULANA sabe que é um feriado sobre como o Maranhão se juntou a algo, mas não conseguia se lembrar dos termos. “É alguma coisa que o Maranhão fez com o Brasil, não é? Mas não lembro a palavra. Nossa, não sei o que quer dizer”, confessou.
Há ainda aqueles como administrador e servidor público Danilo Castro que sabem do que se trata o feriado, e questiona a demora do Maranhão em aderir ao ideal de nova nação. “Significa que o Maranhão foi o último a aderir à Independência. Até nisso somos os últimos. Deveríamos ter sido o primeiro, porque escravos desembarcaram aqui”, lamentou.
Novas metrópoles
O Imparcial

A falta de um sentimento nacionalista, muito comentado ainda hoje sobre o brasileiro, pode ter ecos em um país que não se tornou independente pela vontade de populares, mas por jogos de cartas entre as elites econômica e política no novo país, alimentadas por interesses comerciais de outros países da Europa. Yuri Costa conta que isso é explicado na historiografia desde 1940.

 “De fato, não havia um sentimento de nação organizada que motivaria uma independência, mas fatores que escapam ao amor pelo país, e entram em um contexto internacional de desgaste do sistema de colonização português e o aumento do interesse de outras nações no comércio com as Américas, principalmente a Inglaterra, quem mais pressionava pela queda do comércio exclusivo que o Brasil tinha com Portugal”, ressaltou.
A formalidade engatilhada pelo príncipe regente tem ecos até hoje na sociedade brasileira e, consequentemente, maranhense. “Nossa Independência foi um ato predominantemente formal, ela não foi seguida de uma transformação na economia e na sociedade brasileiras, mas sim uma quebra de vínculo que abriu espaço para os interesses de uma elite que queria um estado independente”.
O dia da Adesão é feriado em todo o estado do Maranhão, mas esse ano ele foi transferido no serviço público para a sexta-feira, 29, quanto todo o funcionamento de órgãos será paralisado, com exceção daqueles considerados essenciais. O comércio fechou as portas seguindo o calendário oficial.
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