DOMÍNIO DO CRACK

Mais de 100 Minicracolândias na Grande São Luís

Os bairros com maiores índices de tráfico de drogas na região metropolitana de São Luís são João Paulo, Turiúba, Vila Bom Viver e Maiobão

Droga

A Cracolândia, que vem da derivação de crack, é uma denominação popular para uma região onde, historicamente, se desenvolveu intenso tráfico de drogas. E na região metropolitana de São Luís tem sido bem visível aos moradores uma média de 101 cracolândias espalhadas pela área. A nossa reportagem percorreu alguns desses pontos traçados pela Organização Não Governamental (ONG) Rede Maranhão Antidrogas. No diagnóstico, constatamos que existem, em média, 101 pontos de vendas de drogas – mais conhecidos como minicracolândias – que têm tomado conta de ruas, avenidas, praças e bairros (confira a lista dos bairros identificados ao lado).

Joviano Furtado, delegado e supervisor do Centro Integrado de Defesa Social, que trabalha há anos com dependentes químicos, conta que os locais com maiores índices de uso das drogas, em São Luís, são os bairros João Paulo, Forquilha, Centro e São Francisco. Nos demais municípios que compõem a região metropolitana, segundo a Rede Antidrogas, são os bairros Maiobão, em Paço do Lumiar, Novo Horizonte e Turiúba, em São José de Ribamar, e Favela e Bom Viver, em Raposa. Essas são as comunidades com maior concentração e movimento de pessoas em busca de compra e uso dos entorpecentes.
Armas e drogas apreendidas na ação da Senarc

O delegado titular da Senarc, Carlos Alessandro, acredita que as drogas que foram apreendidas de janeiro a abril deste ano no interior do estado, como Imperatriz, Estreito, Buriticupu e Grajaú, seriam distribuídas na região metropolitana de São Luís. “A maior parte dessas drogas seria usada por integrantes de facções criminosas na região metropolitana. Muitos deles seriam os receptadores e distribuidores. Mas, com o nosso trabalho, conseguimos interceptá-los nas estradas, impedindo que chegassem aqui e fizessem a distribuição, no que abasteceria ainda mais esses pontos de drogas”, contou o delegado. Carlos Alessandro ainda afirmou que as drogas que foram apreendidas em São Luís estavam nos bairros Camboa, Liberdade, Cohatrac, Estiva, Pedrinhas e Anjo da Guarda na área Itaqui-Bacanga.

tabela
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tratamento
Foto: Honório Moreira/D.A Press.


Honório Moreira/D.A Press

Usuários de drogas estão espalhados por vários pontos de São Luís, Paço do Lumiar, Raposa e S. J. de Ribamar

Os especialistas dizem que os usuários que mais buscam por tratamento são do gênero masculino, pois a mulher ainda sofre com o estigma social, além das barreiras de não ter com quem deixar os filhos, pois tomam conta da casa enquanto se tratam. A faixa etária de quem busca os atendimentos, em média, está entre 18 e 30 anos. Em sua maioria, começou a fazer uso de drogas aos 12 anos em grande parte por influência dos amigos e curiosidade. Eles iniciam nas drogas mais leves conhecidas como lícitas: álcool, cigarro e maconha.

O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps Ad) é a única unidade de saúde especializada em atender aos dependentes de álcool e drogas na capital, dentro das diretrizes determinadas pelo Ministério da Saúde, que têm por base o tratamento do paciente em liberdade, buscando sua reinserção social.
Em 2013, o Caps Ad atendeu 80 dependentes químicos de São José de Ribamar, 52 de Paço do Lumiar e 428 de São Luís. Em 2014, houve 720 novos casos de usuários de drogas. Durante todo o ano, 5.652 pessoas foram atendidas. No ano de 2015, de janeiro a dezembro, foram feitos 6.015 acolhimentos. A maioria dos dependentes é dos bairros João Paulo, Coroadinho, Barreto, Liberdade, Cidade Operária e Centro.
No ano de 2016, até o fechamento desta matéria, já foram realizados 620 atendimentos a pessoas com problemas decorrente do uso de drogas, 85% usuários de crack, 10% usuários de álcool e 5% usuário de outras drogas – cocaína, maconha, benzodiazepínicos. A maioria dos pacientes são provenientes dos bairros Barreto, Cidade operária, Liberdade e João Paulo. Sendo que 90% são provenientes da capital e 10% dos interiores e municípios que compõe a Grande São Luís.
Comunidades Terapêuticas
São Instituições privadas, sem fins lucrativos e financiadas, em parte, pelo poder público. Oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de drogas. São instituições abertas, de adesão exclusivamente voluntária, voltadas a pessoas que desejam e necessitam de um espaço protegido, em ambiente residencial, para auxiliar na recuperação da dependência à droga. Na região metropolitana de São Luís, existem 18 projetos de prevenção contra as drogas. No município de São José de Ribamar, centenas de dependentes frequentam as oito Comunidades Terapêuticas da cidade. Já em Raposa, existe apenas uma casa. Em Paço do Lumiar, 12 instituições, e em São Luís existem 11 locais para tratamento. Todos registrados. Cada comunidade tem, em média, 20 internos que realizam o tratamento antidrogas. De acordo com Erisson Souza, ex-dependente químico e coordenador-geral da Rede Maranhão Antidrogas, para manter 20 dependentes em uma casa, custa em média R$ 9 mil. E cada dependente precisa pagar um valor em média de R$ 500. “Muitas vezes, o valor não cabe no bolso da família e o diretor da unidade se comove e interna o paciente, aceitando o que o familiar pode contribuir. Infelizmente, em média, 30% dos internos pagam a Comunidade Terapêutica”, disse Erisson. Erisson ainda conta como saiu do mundo da dependência química. “Eu vivia em casarões abandonados no Centro Histórico. Minha mãe e minha irmã foram me buscar; eu estava em uma rede onde estava deitado e as ouvi me chamando. De lá, fui para uma Comunidade Terapêutica. Passei 13 anos sendo usuário, hoje, faz quase seis anos que não uso mais e nem tive alguma recaída”, contou Erisson.
Para o ex-dependente, a desobediência é a pior causa que leva uma pessoa ser dependente química.  “A maldição da desobediência é o que mais leva a muitos entrarem no mundo das drogas. Os pais dizem para os filhos não fazerem, e eles fazem, se eu tivesse ouvido os meus pais, não teria entrado neste mundo”, explicou Erisson Souza.
Os valores investidos são para pagar as despesas como água, luz e alimentação. Muitas vezes as comunidades recebem ajuda de vários órgãos, como Ministério Público e Vara de Execuções Penais.
Resultados
– 25% destes usuários atendidos no Caps Ad se encontram em recuperação sem fazer uso de substâncias psicoativas, correspondente à taxa de recuperação.
– 60% diminuíram o uso, apresentando recaídas esporádicas, e continuam em tratamento com melhoras clínicas significativas;
– 15% abandonaram o tratamento na primeira semana; 
O diretor do Caps Ad, Marcelo Costa, explica como o dependente pode fazer o tratamento. “O tratamento que disponibilizamos é de forma diária onde o paciente entra às 7h30 e sai às 18h, quando no início na modalidade intensiva. Durante o período, ele participa de oficinas terapêuticas, como artesanato, música (coral), educação física (futebol), pintura, grupos terapêuticos, atividades religiosa de fundo espiritual com parcerias com a comunidade. Também fazem uso de medicações com intuito de reduzir sintomas da abstinência, como ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos, estabilizadores de humor e outros, assim como também tratar possíveis doenças mentais que acompanhem o quadro de dependência, o que chamamos de comorbidades psiquiátricas”, explicou o diretor.
Fora o Caps Ad, ainda existe a UA Estadual (Unidade de Acolhimento do Estado) que funciona na Cohab ao lado da Igreja Nossa Senhora Perpétuo Socorro, onde tem 15 leitos para internação em regime integral onde o paciente pode ficar de um mês a seis meses, feita para casos mais graves. E ainda existem as fazendas “Esperança” (comunidade terapêutica, que tem tratamento de fundo religioso, onde o paciente passa 12 meses.
As três conveniadas, Coroatá, Caxias e Balsas, funcionam sem custo algum para as famílias, quando o dependente é encaminhado através do caps. 
VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Mais Notícias