CORONAVÍRUS

Vai ter São João no Maranhão?

Surtos de Coronavírus e H1N1 colocam em xeque a maior festa popular do Estado do Maranhão.

Reprodução

Adeus! Até para o ano, quando eu aqui voltar”. O trecho de Novilho Brasileiro, toada mais famosa do Maranhão e mais conhecida como “Urrou do Boi”, sempre deu significado para o término dos períodos juninos, já projetando os próximos.

A letra de Bartolomeu dos Santos, “o Coxinho”, dava a esperança aos saudosos pelo som inconfundível dos grupos de bumba-meu-boi de que, ao fim de 365 dias, toda a alegria colorida do período junino estaria de volta. 

No entanto, um personagem improvável, que não foi convidado para o Auto do Bumba-meu-boi e nem para o casamento da quadrilha, resolveu aparecer para ameaçar o São João. A pandemia do Coronavírus deixou o mundo em pânico e fez a rotina de todos mudar. Não há um lugar neste planeta que não se fale sobre a doença e suas consequências são sentidas em todas as áreas. 

Para complicar ainda mais, o Maranhão sofre com um possível surto da Influenza A (H1N1), que tem acometido, principalmente, jovens – logo a faixa que mais gosta de participar das brincadeiras, entrando no cordão. 

As primeiras consequências das duas doenças acontecem ainda no período de preparação. Diversos grupos, que já haviam começado os ensaios, pararam tudo para proteger a integridade dos seus brincantes e não ferir a determinação do Decreto Estadual que proíbe eventos que provoquem aglomeração de pessoas. Quase todos emitiram comunicados.

“Seguindo orientações de autoridades municipais, estaduais e federais, o Boi de Morros decide suspender as suas atividades com aglomeração de pessoas, adiando assim os ensaios da pré-temporada junina. Demais atividades que envolvam os profissionais e os serviços do grupo serão adaptados gradualmente e comunicados posteriormente”, diz nota no Instagram de um dos mais tradicionais grupos do sotaque de orquestra. 

Na mesma linha, seguiram os bois de Axixá e Nina Rodrigues. “O Bumba Meu Boi de Axixá, ciente de todo o ocorrido causado pela crise mundial relacionada ao COVID-19 (Corona vírus) vem a público se pronunciar, pedindo que as pessoas tomem as medidas de prevenção e de contingência da proliferação do vírus, recomendadas pela Organização Mundial de Saúde – OMS e pelo Ministério da Saúde. Por enquanto suspendemos nossas atividades com grandes aglomerações, como ensaios e seletivas”, diz o Boi de Axixá. 

“Diante do atual cenário mundial decorrente do vírus COVID-19 e prezando pelo perfeito estado de saúde dos seus brincantes, o Boi de Nina Rodrigues informa que as seleções, oficinas e ensaios para a temporada 2020 estão suspensas por tempo indeterminado”, emitiu, em nota, o Boi de Nina Rodrigues. 

O Boi de Maracanã, tradicional grupo do boi de matraca, ainda está em planejamento. Os ensaios só são feitos a partir de maio. Antes disso, apenas reuniões são feitas com representantes de comunidades que apoiam a brincadeira. Até lá, a diretoria do boi espera que o momento esteja melhor.

“Confiamos em Deus e São João Batista de que tudo vai estar resolvido até lá. Vamos sair para festejar. E, caso as coisas não mudem, o Boi de Maracanã sairá, nem que seja só no dia de São João, para saudá-lo”, nos revelou Maria José Soares, presidente do boi.

Duração 

“Nós estamos imaginando que nós vamos trabalhar com números ascendentes, espirais em abril, maio, junho. Nós vamos passar aí 60 a 90 dias de muito estresse para que quando chegarmos ao fim de junho, julho, a gente imagina que entra no platô. Agosto, setembro a gente deve estar voltando, desde que a gente construa a chamada imunidade de mais de 50% das pessoas”

O que dizem as autoridades no assunto

A reportagem de O Imparcial procurou as secretarias de Estado e Município da Cultura. Em nota, a SECMA informou que está reavaliando o calendário de eventos públicos. “Especificamente sobre o São João, a Secretaria informa que a decisão em caráter definitivo será tomada no mês de maio. A SECMA informa que, caso não seja possível realizar o evento nos moldes e nas datas tradicionais, haverá a adoção de medidas alternativas para a realização dos festejos juninos que são integrados à identidade maranhense e muito importantes para os grupos culturais do Estado”.

O secretário municipal da área, Marlon Botão, manteve a mesma linha, no entanto pareceu mais otimista, dizendo que nada mudou até o momento. 

“Considerando que o São João começa oficialmente na segunda quinzena de junho, nós mantemos os eventos. Acreditamos que, com as medidas que já estão sendo tomadas, nesse período de junho, já teremos o controle dos possíveis eventos desse problema”.

Segundo Marlon Botão, é preciso esperar as próximas semanas para saber como tudo pode acontecer. “O São João é um momento de fortalecimento de diversas identidades culturais que formam nossa identidade, nossos laços e nos apresenta muito enquanto cidade cultural. Mas é importante destacar que não iremos defender [as festas] se houver algum tipo de risco que fuja ao controle. É uma construção que vamos amadurecer nos próximos 30 dias”.

Turismo afetado

Qualquer mudança no cronograma do São João afeta diretamente uma das áreas que mais traz lucratividade ao Estado: o turismo. Só no ano passado, no mês das festas, a ocupação hoteleira em São Luís ficou em 70%, segundo o site do Governo do Estado. 

No mesmo período, Barreirinhas teve 85% das vagas preenchidas nos hotéis. Pelo Aeroporto de São Luís, passaram cerca de 150 mil turistas em junho – taxa 15% maior em relação ao mesmo mês do ano anterior.

A crise mundial do coronavírus pode provocar uma mudança drástica nos números. Apesar de que tudo depende de como a pandemia vai afetar o país, a ocupação hoteleira terá acentuada queda tendo em vista que os picos da doença estão previstos para abril e maio.

A Secretaria Estadual de Turismo (SETUR) já estava com ações promocionais do destino turístico iniciadas em feiras e na mídia local e nacional. 

A pandemia fez tudo ser suspenso. Resta, à secretaria, reavaliar constantemente o cenário e continuar propondo ações para minimizar os efeitos negativos no setor.

Para a presidente do Conselho das Entidades de Turismo junto a Confederação de Turismo, Liana Ribeiro, o momento demonstra preocupação. Segundo ela, as companhias aéreas estão evitando voos, porque as pessoas precisam respeitar as quarentenas. Isso compromete diretamente todo o planejamento para os meses de abril e maio. 

“A movimentação no Brasil deve cair bastante. E nós que estamos aqui na ponta, que fazemos as promoções do São João, temos que repensar as estratégias, até para garantir o que se tem hoje. Precisamos fazer uma análise para que não se tenha tantas perdas, principalmente a perda humana, que é a que nós temos que resgatar”.

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