Amamentação

Desafios e a beleza da maternidade

“No início todo mundo está aprendendo. Eu aprendendo como amamentar e a Júlïa como ser amamentada”, conta a jornalista Kelly Abu Hanna.

A programação segue durante toda a semana em diversos municípios do Maranhão.

O Agosto Dourado é um mês de incentivo à pratica da amamentação. (Foto: Reprodução)

Para além do momento mágico da maternidade, sabemos que por “n” motivos, muitas mulheres não conseguem ou não podem exercer essa etapa importante de ser mãe. Mas para aquelas que amamentam seus filhos, a relação é indescritível.

No início, como tudo que é novo, para algumas há percalços, ter uma rede de apoio é muito importante, e muitas não conseguem tê-la, mas depois tudo se ajeita.

Neste mês de agosto, chamado de Agosto Dourado, organizações de saúde incentivam a prática da amamentação, destacando os vínculos entre amamentação e boa nutrição, segurança alimentar e redução das desigualdades.

Sylmara Durans, estudante. (Foto: Paloma Barros)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida, seguido de amamentação continuada, com alimentos complementares adequados, por até 2 anos ou mais.

A OMS também recomenda o contato pele a pele precoce e ininterrupto, alojamento conjunto e cuidados “mãe canguru” que melhoram significativamente a sobrevida neonatal e reduzem a morbidade.

O Dr. Antônio Leonardo Rosa, chefe da Unidade de Obstetrícia do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), falou sobre os benefícios da amamentação para mãe e bebê. “Para ser ter uma ideia, os benefícios conhecidos para o bebê são: criar uma conexão maior do recém-nascido com a sua mãe; diminuir cólicas do bebê, já que a digestão melhora com o leite materno; estimular a inteligência do bebê, diminuir os riscos de desenvolvimento de doenças alérgicas; diminuir as chances de desenvolver algumas infecções; e além disso, estimula e fortalece a arcada dentária do bebê, previne diarreias e também problemas fonoaudiológicos, respiratórios, auditivos, e psicomotores devido à sucção. Para a mãe, reduz o sangramento após o parto, intensifica a perda de peso, ajuda a evitar a osteoporose, protege contra doenças cardiovasculares e diminui a incidência de câncer de mama, de ovário, e do endométrio. Portanto é importante o alimento porque ele é um facilitador da saúde, tanto da mulher, quanto do bebê”, destaca.

Conversamos com mães que estão em fases diferentes com suas filhas e falamos sobre como foi esse período, como está sendo, e como elas lidam ou lidaram com a amamentação, uma fase linda, mas que exige da mulher esforço, persistência, ajuda, força para passar por uma fase nada romântica, mas sobretudo, exalar muito, muito amor. Confira as histórias que selecionamos.

“O início, como para qualquer mãe, é muito difícil”

A jornalista Kelly Abu Hanna, mãe de primeira viagem de Júlia Abu Hanna, de 9 meses, diz que a  amamentação é um momento de conexão, mas confessa que o início foi difícil, e que chegou a nem querer ter alta logo do hospital, para que pudesse continuar tendo apoio das enfermeiras. “No início todo mundo está aprendendo. Eu aprendendo como amamentar e a Júlïa como ser amamentada. Lembro que nem queria ter alta da maternidade para ter o apoio das enfermeiras. Elas me ajudavam a como ter a ‘pega’ correta. Mas com três dias de nascida eu fui para casa, aí o bicho pegou”, contou.

Ela continua relatando que a apojadura foi o momento mais tenso. Por causa da grande produção de leite, ela procurou um banco de leite humano onde passou a compartilhar o leite dela, assim ajudando bebês recém-nascidos que precisavam do alimento. 

Kelly Abu Hanna, jornalista. (Foto: Arquivo Pessoal)

“No meu caso, a produção do leite foi muito superior à demanda da Júlia. O peito começou a empedrar e nesse momento bate o desespero e muita dor. Chamei uma consultora de amamentação e percebi que iria precisar de mais apoio. Como não dava para pagar por cada visita, recorri ao banco de leite. E lá, no banco de leite, fui acolhida, orientada e pude compartilhar meu leite com outras mães que não tem uma produção suficiente para manter seus bebês. Lá no banco de leite, meu marido também foi orientado sobre como me ajudar, como massagear… tudo isso de forma prática com a própria Júlïa”, contou.

Kelly disse que uma das coisas que a ajudou com esse momento foi não criar expectativas, mas que uma rede de apoio, pessoas (parentes/amigos) e profissionais, em quem possa confiar é importante. “Porque a jornada é pesada, mas quando temos alguém para compartilhar, ela fica um pouquinho mais leve. Acho que o período da gestação, essas 40 semanas, é uma ótima oportunidade de mergulhamos neste mundo. Sempre quis amamentar e pretendo continuar. Amamentar é vida, é amor, é saudável. Eu sei que algumas pessoas tem dificuldade, afinal cada corpo é um corpo e cada gestação é uma gestação. Temos que levar isso em conta. Mas se a mãe puder e se sente bem eu recomendaria: ‘amamente’”.

A Júlia começou a introdução alimentar com 6 meses. Hoje, segundo Kelly, o peito é mais um mimo, um aconchego. “Exclusivamente eu amamentei até seis meses. Mas pretendo continuar enquanto estiver bom para mim e bom para ela. Hoje não me incomodo, se ela pede eu dou mesmo”, finaliza.

“Amamentar é uma tecnologia ancestral de altíssima complexidade” 

Tal como Júlia, filha de Kelly, Flora, que hoje tem 3 anos e 11 meses, mamou exclusivamente até os 6 meses, e só desmamou após 3 anos e meios de amamentação.  “Escolhi amamentar de forma prolongada por considerar todos os benefícios que poderiam ser proporcionados a ela”, disse a mãe de Flora, a estudante Sylmara Durans.

Sylmara é bem consciente do que representa a amamentação e dos desafios que ela impõe, bem como a tudo que se relaciona com esse período importante da maternidade. “A amamentação representa muitas coisas para mim, dentre elas, vínculo, conexão, resistência, cura, transformação, transgressão, saúde, e claro nutrição… É uma experiência muito complexa e desafiadora. No que se refere aos desafios, tem vários, de ordem física como as dores causadas pelo empedramento do leite, os vazamentos constantes, sobretudo nos primeiros meses, as feridas nos mamilos causadas pela sucção… de ordem emocional, o medo de não conseguir produzir o suficiente, as muitas doses de culpa ou por não conseguir produzir, ou até mesmo pelo cansaço… E de ordem social, há uma indústria muito interessada na construção de mitos como o do ‘leite fraco’, que faz com que toda a sociedade coloque o tempo todo a amamentação das mulheres em questão. Basta um pequeno choro ou desconforto da criança para colocar em cheque o leite materno e sugestão de formas ‘alternativas’ de alimentação, como fórmulas e cereais açucarados para crianças. Isso é claro tá relacionado com questões de gênero, machismo e misoginia… É uma conversa bem longa….”

A estudante fala da fase difícil que foi a amamentação, tanto na parte física, quanto na parte emocional, e os questionamentos que vez por outra apareciam. “Não foi fácil, passava horas amamentando, meus seios vazavam muito, eu não tinha noites inteiras de sono, então tinha muito cansaço acumulado. Também sentia medo, angústia, culpa, ansiedade… Além das questões que envolvem a sexualidade. Desde a gestação nós passamos por um processo de transformação corporal muito complexo e é difícil se situar em tão pouco tempo no nosso corpo que agora parece tão estranho. É como uma roupa que você vestia sempre e adorava até pouco tempo e de repente já não serve mais. Essa transformação tem um impacto muito grande na nossa subjetividade. E perguntas como ‘quem sou eu’ são muito recorrentes, bem como certo estranhamento de si”, relatou.

Fato que nenhuma gestação é igual à outra e que cada maternidade é única. Por isso, Sylmara diz que é preciso se informar, pesquisar sobre o assunto e se preparar. “É uma jornada difícil, sobretudo porque ao amamentar nossas crias nadamos contra a corrente. Amamentar é uma tecnologia ancestral de altíssima complexidade, insuperável eu diria. Pediria ainda que confiassem na sua intuição e silenciassem as vozes que nos despotencializam a ponto de colocar em questão a nossa maternidade, a nossa capacidade de amamentar e a suficiência do nosso leite. É claro que há muitos contextos, e é importante respeitar a singularidade de cada um. Há mulheres que não conseguem amamentar, ou até mesmo não querem e elas precisam ser respeitadas em suas escolhas e possibilidades”, finaliza.

Covid-19 não é impeditiva para a amamentação

O Dr. Antônio alerta sobre um ponto que ainda causa preocupação na mulher e na família, que é a possibilidade de transmissão de doenças durante a amamentação. “Sabe-se que hoje essa é uma possibilidade mínima restringindo-se a poucas situações, em pouquíssimas doenças infectocontagiosas, e somente nesses casos, os médicos fazem a restrição ao aleitamento direto das mães portadoras dessas doenças, aos seus bebês. Geralmente os médicos obstetras e pediatras, sabem informar sobre esses casos, mas em casos de dúvidas, os profissionais de saúde dos bancos de leite humano podem ser procurados que estarão aptos a darem as devidas orientações e respostas”, orienta.

Sobre dúvidas em relação à Covid-19, o médico diz que não é impeditivo para o aleitamento materno desde que as mães estejam em condições clínicas de amamentar e que tenha os cuidados que os profissionais de saúde saberão orientar para evitar a contaminação por essa doença infecciosa.

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