SAÚDE

Estudo prova que obesidade piora quadro de infectados

As análises mostraram que, entre os pacientes do primeiro grupo, cerca de metade tinha obesidade

Reprodução

Um estudo francês detalha como estar acima do peso pode ser impactante quando se tem covid-19. A pesquisa, divulgada ontem durante o Congresso Europeu e Internacional sobre Obesidade (ECOICO 2020), analisou um grupo de pacientes infectados pelo coronavírus tratados em um hospital do país. Dos doentes internados em unidades de tratamento intensivo (UTIs), cerca de metade era obesa, sendo que um quarto apresentava obesidade grave. A maioria dos pacientes restantes (cerca de 40%) estava com sobrepeso. O estudo também mostrou que grande parte dos atendidos que precisavam ser entubados também pesava além do recomendado.

No estudo, os autores explicam que, no início de abril, as internações em terapia geral e intensiva em razão da covid-19 começaram a aumentar drasticamente na França e em outros países europeus. Os pesquisadores resolveram analisar se o peso poderia interferir, de forma negativa, no tratamento dos infectados pelo coronavírus. “A análise optou por esse foco porque as informações sobre as características clínicas de pacientes que requerem cuidados intensivos são limitadas, e a relação entre obesidade e Sars-CoV-2 não é clara”, detalham.

Os cientistas analisaram 124 internações em UTIs em função da covid-19 e compararam com dados de 306 pacientes que haviam sido submetidos ao mesmo tratamento devido a outras complicações. As análises mostraram que, entre os pacientes do primeiro grupo, cerca de metade tinha obesidade (IMC acima de 30), com um quarto apresentando obesidade grave (IMC de 35 ou mais). A maioria dos pacientes restantes, cerca de 40%, estava com sobrepeso, e apenas 10% se encontrava na faixa de peso saudável (IMC 25 ou menos). Entre os pacientes da UTI sem a covid-19, outro perfil foi visto: 25% tinham obesidade ou obesidade grave, 25% estavam acima do peso e 50% estavam na faixa de peso considerada saudável.

Outro dado que chamou a atenção dos cientistas surgiu quando eles analisaram os pacientes com covid-19 que precisaram ser entubados. Quase todos os pacientes com covid-19 em UTI e com obesidade grave (87%) precisaram de um ventilador, caindo para 75% para obesidade regular (IMC 30-35), 60% para pacientes com sobrepeso, e 47% para aqueles na faixa de IMC saudável. “A necessidade de ventilação mecânica invasiva estava associada à obesidade grave e era independente de idade, sexo, diabetes e hipertensão”, explicaram os autores. Entre os 35 pacientes internados em UTI que não pioraram a ponto de precisar de ventilação mecânica, uma proporção bem menor tinha obesidade ou obesidade grave (menos de 25%), enquanto cerca de metade estava na categoria de sobrepeso e 25% dentro da faixa de peso normal.

Riscos claros

Segundo os autores, os dados vistos no trabalho mostram como a covid-19 pode ser mais difícil de ser enfrentada por pessoas com um peso considerado não saudável. “Vários meses após o início da pandemia, o aumento do risco representado por esse vírus para pessoas que vivem com obesidade não poderia ser mais claro. Nossos dados mostram que o risco de essa doença se tornar mais grave aumenta com o IMC, a ponto de quase todos os pacientes de terapia intensiva com covid-19 e obesidade grave precisarem de ventiladores”, enfatiza, em comunicado, François Pattou, professor de cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lille e principal autor do estudo.

Marcio Correa Mancini, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), destaca que os dados obtidos são similares ao que é observado pelos médicos brasileiros. “Conversando com os aqui de São Paulo, quando as internações estavam altas, nós ouvíamos exatamente isso. Eles atendiam mais pessoas com obesidade, e a maioria delas precisava ser entubada”, ilustra. “O mesmo foi mostrado em outros estudos. Temos pesquisas de Nova Iorque, da Califórnia, que só mudam os parâmetros de análise.”

Mancini ressalta que outro ponto que chama a atenção é a alta taxa de óbito de jovens obesos acometidos pela covid-19. “Isso não é comum. O normal, no caso de outras doenças, é que morram mais idosos obesos. Na covid-19, temos visto pessoas com até 60 anos que acabaram morrendo e tinham como comorbidade a obesidade”, diz. Para o médico, é importante ressaltar a importância desse fator quando informações relacionadas à doença forem divulgadas, pois isso auxilia pesquisadores e, ao mesmo tempo, alerta a população. “Muitas vezes, nem os médicos relatam a obesidade como um fator relacionado à morte dos pacientes. Geralmente, ocorre quando a obesidade é mais grave. Esse tipo de informação é importante justamente para que essas análises possam ser feitas”, justifica.

Açaí pode ajudar a tratar

Pesquisadores do Canadá estão estudando o fruto do açaí em busca de um tratamento para os sintomas mais graves do novo coronavírus, anunciou um deles nesta segunda-feira (31). “Os frutos do açaí são baratos e estão disponíveis para todos, são seguros, então vale a pena tentar”, disse Michael Farkouh, da Universidade de Toronto, à AFP.

Farkouh junto com sua colega Ana Andreazza, que há cinco anos examina o efeito do açaí sobre a resposta inflamatória, decidiu testar sua eficácia contra a covid-19. Pesquisas anteriores já mostraram que o extrato do fruto desta palmeira nativa da América Central e da América do Sul pode reduzir a inflamação.

À medida que a pandemia se espalha pelo mundo, os especialistas observam que o vírus pode causar inflamação aguda e levar a complicações de saúde.

Para o estudo, Farkouh e Andreazza recrutaram cerca de 580 pacientes com resultado positivo para o coronavírus no Canadá e no Brasil. Metade deles recebeu doses do medicamento experimental e a outra metade, um placebo.

A esperança é que a intervenção precoce com o extrato, se for eficaz, evite os sintomas mais prejudiciais associados a este vírus potencialmente fatal, segundo Farkouh. O estudo deve durar 30 dias e seus resultados serão divulgados até o final de 2020.

Remédio para artrite não tem efeito

O laboratório francês Sanofi anunciou nesta terça-feira que os testes clínicos internacionais de fase 3 sobre a eventual eficácia de seu medicamento Kevzara para o tratamento das formas severas de covid-19 não apresentaram resultados conclusivos.

O ensaio de fase 3, ou seja, a etapa de testes em larga escala, “não alcançou o critério de avaliação principal nem secundário, comparativamente ao placebo e, nos dois casos, além dos cuidados hospitalares habituais”, afirma o grupo francês em um comunicado.

No momento, a Sanofi e o laboratório americano Regeneron – parceiro no desenvolvimento do remédio, lançado em 2017, para tratar a artrite reumatoide – não pretendem organizar outros estudos clínicos com o Kevzara para o tratamento de covid-19.

O teste avaliava a eficácia do Kevzara (sarilumab) no tratamento de formas severas de covid-19 com 420 pacientes e foi organizado na Alemanha, Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Espanha, França, Israel, Japão e Rússia.

“Apesar de não ter apresentado os resultados que esperávamos, estamos orgulhosos do trabalho realizado pela equipe que ficou responsável por aprofundar nossos conhecimentos sobre a potencial utilização do Kevzara no tratamento da covid-19”, afirmou o doutor John Reed, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Sanofi, citado no comunicado.

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