SUS

Pandemia do novo coronavírus expõe as deficiências da saúde pública

O Sistema Único de Saúde (SUS) prevê cobertura universal. É inspirado no NHS britânico

Foto: Reprodução

Se funcionasse corretamente, o sistema de saúde pública brasileiro poderia ter sido muito mais eficaz no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus, que já matou quase 100 mil pessoas no país. Mas a crise sanitária expôs tragicamente sua falta de recursos e má gestão.

O Sistema Único de Saúde (SUS) prevê cobertura universal. É inspirado no NHS britânico e é um dos poucos da América Latina a funcionar com este modelo, que teoricamente permite o acesso de toda a população a um atendimento médico gratuito.

Foi criado na Constituição de 1988, três anos depois do retorno do Brasil à democracia, que no artigo 196 estabelece que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”.

“O SUS é perfeito como sistema, é um sistema muito bem arquitetado, mas na prática, temos muitos problemas”, diz à AFP AFP Fred Nicacio, clínico geral em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Bauru, no interior de São Paulo.

“Um dos maiores problemas do SUS há muito tempo é a diversidade de medicamento, com um sistema operacional que dê vazão, além de mais equipes, que são pequenas, precisamos de mais pessoas para trabalhar”, lamenta.

Desde o início da pandemia, vários colegas de Nicacio tiveram que fazer quarentena depois de terem se infectado, sem necessariamente ser substituídos.

“As pessoas ficam desmotivadas, o SUS não oferece plano de carreira, existe uma desvalorização muito grande do profissional da saúde”, acrescenta.

Nicacio destaca outro problema importante: “a corrupção em diversas esferas”.

Vai “do político que é corrupto, desvia verba destinada para compra de material, até o usuário do SUS que vem simulando uma doença para poder pegar um atestado”, enumera.

Nas últimas semanas, escândalos de corrupção têm surgido em vários estados, particularmente relacionados ao superfaturamento de respiradores ou à instalação de hospitais de campanha.

“Problema crônico”

Para Guilherme Werneck, médico e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, a corrupção é um “problema grave, que precisa ser enfrentado de forma clara”, mas “não é o principal problema que se encontra no financiamento do SUS”.

“O dever do Estado é financiar o SUS. O que a gente vê é que o financiamento público do SUS é muito insuficiente, cronicamente insuficiente”, acrescenta.

Segundo um relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) do final de 2019, o Brasil está entre os últimos do grupo de países desenvolvidos ou emergentes em investimento em saúde, com um gasto per capita 30% abaixo da média.

O gasto do Brasil representa apenas 4% de seu PIB, menos da metade do percentual que a França investe em saúde pública.

“Nesses últimos 30 anos, a saúde não ocupou um espaço estratégico na agenda nacional”, denuncia Luciana Dias Lima, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A pesquisadora cobra “uma atuação mais expressiva do governo federal” na coordenação dos serviços de saúde pública.

Para que o SUS funcione, estados e municípios dependem do apoio financeiro do governo federal, que os especialistas consideram insuficiente.

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