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Põe a live e traz o copo!: consumo de álcool aumenta durante quarentena

Shows ao vivo na internet impactam indústria de bebidas alcoólicas, que registram aumento de consumo durante isolamento social

O álcool foi a substância mais encontrada em pessoas internadas por trauma. (Divulgação).

Varandas viraram bar, terraços e quintais se transformaram em pistas de dança e até mesmo os quartos da casa se revelaram excelentes camarotes. Isoladas no confinamento para combater o avanço do novo coronavírus, plateias ávidas por um pouco de diversão e lazer se dividem em uma febre que não tem nada a ver com nenhuma doença: são as mais diversas lives de artistas e bandas que têm se reinventado para continuar na ativa, de alguma forma, ainda que virtualmente.

Grande parte dos shows ao vivo nas redes sociais ocorre no fim de semana, porém, existem as lives do meio da semana também, como foi a da dupla Sandy & Jr, um revival que pegou em cheio quem foi adolescente na década de 90 e, por isso, acompanhou o sucesso dos irmãos. O show virtual de Sandy e Junior ocorreu em plena terça-feira, dia 21 de abril e teve nada menos que 2 milhões de visualizadores simultâneos no YouTube. No “cardápio musical”, tem ritmo para todo gosto: sertanejo, axé, MPB, samba, pagode, música eletrônica, etc.

Fato é que, seja quem for o artista no palco da TV ou dos smartphones, para além de divertir os espectadores, essa onda das lives têm atingido proporções inimagináveis. “O ser humano é feito para o movimento. A mente humana é inquieta. Sem poder sair de casa para espairecer ou encontrar os amigos, a alternativa de muitos tem sido acompanhar as lives, ver os artistas que gostam, que admiram, isso é como uma válvula de escape para a tensão do momento”, atesta a psicóloga Celiane Chagas.

Psicóloga Celiane Chaves

A especialista comenta, ainda, que as pessoas estão redescobrindo espaços de casa com mais atenção e criatividade, onde elas podem encontrar o prazer de estar ali. “Com mais tempo dentro de casa, as pessoas observam mais os detalhes. O quintal que só servia como depósito recebe uma faxina e vira um ponto de encontro; a varanda vira o local do café da manhã em família; a sala vira a pista de um show, e por aí vai”, pontua Celiane.

Brindes e mais brindes

Consultora de imagem e influenciadora digital apaixonada por vinhos, Rafaela Albuquerque

Com bares e restaurantes fechados, a diversão, principalmente nos fins de semana, costuma ganhar a companhia dos brindes com bebidas alcoólicas. Influenciadora digital, consultora de imagem e empresária, Rafaela Albuquerque (38) costumava viver dias intensos com compromissos sociais, regados sempre a um espumante ou vinho, antes da pandemia chegar ao Maranhão. Agora, sem poder sair, Rafaela preparou a adega com os rótulos preferidos e confessa: quase todo dia tem um momento dedicado ao brinde com a bebida. “Quando não tínhamos compromissos e ficávamos em casa, não costumávamos beber. Agora, não teve jeito. Quando chega o fim de semana, eu sempre tento arrumar uma mesa especial e aí a bebida está presente. Eu prefiro sempre o vinho, meu marido ainda varia um pouco e aprecia algumas cervejas. Mas com certeza a gente passou a beber mais nessa quarentena”, revela.

Além do estoque renovado em casa para os momentos especiais em família, Rafaela tem outro fator que contribui para o hábito: em parceria com a franquia maranhense de uma importadora de vinhos, ela apresenta um quadro semanal sobre o tema no seu perfil, no Instagram. Na loja, o faturamento não teve impactos, o que chamou a atenção da importadora nacional, uma vez que as vendas caíram em outras localidades.

Uma das razões apresentadas pelos licenciados da marca em São Luís foi a continuação dos investimentos em mídia, com as divulgações dos produtos vistas sob um novo aspecto. “O quadro fala de etiqueta, desmistificando o universo dos vinhos e acabando com muitos preconceitos. Daí, vou ler a respeito das bebidas para falar sobre o assunto, experimento, e acabo ficando com mais vontade ainda de continuar consumindo. Eu incentivo as pessoas a apreciar e acabo também apreciando até demais”, brinca Rafaela.

O que a importadora de vinhos identificou também já foi percebido em outros estabelecimentos da capital maranhense – e não apenas com os vinhos. Em uma rede de supermercados e São Luís, o aumento nas vendas de vinhos chegou a 60% no último mês. “Ou seja, podemos dizer que consumidores das classes A e B, que talvez possuam alguma reserva financeira, estão comprando além do essencial e, por isso, apostam nos vinhos como bebidas interessantes para esses dias de isolamento”, comenta Raquel Aciole.

A sommelière Raquel Aciole

Nas demais lojas da rede, também houve aumento nas vendas de bebidas, mas de outro tipo: as cervejas. “O consumo de cervejas já vinha com um crescimento acima de 50% antes da pandemia. As indústrias, de um modo geral, achavam que haveria uma queda, que as pessoas comprariam só ítens essenciais da alimentação. Então, houve um movimento com as indústrias para que oferecêssemos esses produtos com preços mais atraentes e dentro da realidade das pessoas, já que as mídias digitais favorecem esse consumo durante o isolamento”, comenta Emanoel Meireles, coordenador de compras de bebidas da empresa.

Lá, de um modo geral, o crescimento no consumo de cerveja se mantém na casa dos 45% aos 50%, em comparação às outras médias mensais. Boa parte desse volume é incrementada pela venda de cervejas premium e especiais, nacionais e importadas. “Quem aprecia cerveja gosta de experimentar novos sabores, e a indústria está de olho nessa ‘gourmetização’ das cervejas, o que tem gerado bons resultados”, finaliza Emanoel.

Sem exagero

A rotina de Vinicius Miranda (32)  tinha um espaço reservado para a diversão. Depois de uma semana cheia de trabalho, o redator publicitário sempre reunia com amigos em casa para beber, conversar e ouvir música. “Era um encontro semanal sagrado. Cada um trazia uma bebida e algum tira-gosto e assim fazíamos a festa. Com o isolamento social eles pararam de vir e eu passei a beber sozinho”, confessou. O problema é que o isolamento social passou a ser gatilho para que muitos passassem a exagerar na bebida.

“Alguns bebiam apenas socialmente, outros já tinham uma predisposição para abusar da bebida alcoólica. De um jeito ou de outro, tudo isso foi agravado com uma rotina que agora passa a ser toda em casa. O exagero no consumo de álcool e até de outras drogas pode ser uma espécie de compensação para a ansiedade, e aí mora o perigo”, comenta Celiane Chagas.

Foi o que aconteceu com Luan Marques (34). Ele só reparou que estava exagerando na bebida em casa quando teve a atenção chamada pela mãe, com quem vive o isolamento. O contador trabalha em home office desde o início da quarentena. “Mamãe perguntou de onde tinha surgido tanta garrafa de vinho, foi aí que eu percebi que a quarentena me fez exagerar um pouco, mas já voltei ao normal”, garantiu Luan.

Exagerar na bebida pode trazer complicações a médio e longo prazos, e também deixa o organismo vulnerável a outras doenças, além da COVID-19. “Não há problema em beber, tudo é uma questão de equilíbrio, a questão é controlar a ansiedade para não fazer da bebida um motivo de preocupação, até porque já temos coisas mais importantes nesse momento”, conclui Celiane Chagas.

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