ANDAR COM FÉ

Fé ajuda pessoas a driblar efeitos adversos da quarentena

Veja histórias de quem tem buscado se fortalecer espiritualmente em meio às incertezas e saiba como a fé pode ser uma importante aliada nesse momento

Divulgação

“Andar com fé eu vou, que a fé não costuma ‘faiar’!”. A conhecida letra do cancioneiro popular nacional é de 1982, mas nunca esteve tão atual como agora. Em meio ao isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, muitas pessoas buscam o fortalecimento espiritual e o reforço da fé como antídotos importantes contra o medo, a ansiedade, os desafios e a falta de respostas sobre o futuro.

Naturalmente, grande parte da população está em busca de tranquilidade, paz, conforto, esperança e segurança – espirituais e emocionais. Contudo, diante do atual cenário, essa busca não somente tende a aumentar, afinal, as pessoas estão sob um momento de extrema pressão.

“Isso ocorre por não sabermos a quem recorrer, por não termos, até o momento, algo que resolva [a Covid-19], algo palpável para acreditar, como um medicamento ou uma vacina. Nesse sentido, a fé se traduz em esperança e otimismo. Por isso, acredito que a busca pela fé aumentou, para que as pessoas tenham mais equilíbrio e conforto”, comenta a psicóloga Jailma Corrêa. Dessa forma, cada um busca enfrentar a “montanha-russa de emoções” provocadas pela pandemia revisitando as próprias convicções e às vezes até as ressignificando para fortalecer a fé e melhorar a espiritualidade.

Foi o que fez a costureira Luzineide Rocha (51), que sofreu um susto recentemente. Com diagnóstico de uma forte anemia e a consequente necessidade de sair de casa para tomar a medicação adequada duas vezes por semana na farmácia, Luzineide conta que se sentiu apavorada, com medo de contrair a Covid-19.

O sentimento negativo fez brotar um novo desejo no coração da costureira, que sentiu a necessidade diária de orar, ler a Bíblia e acompanhar transmissões ao vivo de uma comunidade evangélica pelo YouTube. “Adoeci e fui parar no consultório em meio ao grande perigo de contrair a Covid-19. A medicação só poderia ser aplicada na farmácia, que fica longe da minha casa. Com medo, foi nesse período que me agarrei à fé, orando, lendo e estudando a Bíblia todos os dias”, revela.

O vírus, a fé e as Igrejas

Diversas pessoas tem se apegado a fé nesse momento de pandemia

De acordo com o psicanalista e bispo Renato Chaves (60), a fé contribui com a jornada do ser humano nesses tempos de pandemia. “A fé atua na subjetividade humana, trazendo certezas, esperança, segurança e paz, que são elementos fundamentais. Estamos vivendo a pandemia do coronavírus e a pandemia do mal-estar; a fé é um elemento de pacificação do ser humano, por isso, ela contribui nessa jornada”.

Com a imposição do isolamento social, a igreja liderada pelo bispo Chaves, na capital maranhense, teve que se reinventar. “A compaixão, a convivência virtual, os aconselhamentos por telefone e pelos meios de comunicação aumentaram, tivemos que nos reinventar de várias maneiras. Não estávamos acostumados, porque tínhamos relações presenciais constantes”, relata Renato.

Organizações das mais diferentes religiões e doutrinas buscaram se reinventar também, como forma de dar continuidade às missões que desempenham. Diversas Igrejas, por exemplo, passaram a fazer lives (transmissões ao vivo) de missas e cultos pelas redes sociais. Exemplo disso é o que faz o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, que tem à frente o pároco Pe. Carlos Paris, também conhecido como Padre Carlinhos.

Além de celebrar as missas sem público ao vivo, o sacerdote interage com seguidores, faz lives com temas motivacionais e envia diariamente a uma lista de contatos mensagens edificantes. “Acredito que temos um propósito cristão. Se Jesus Cristo não foi impedido de espalhar o bem e as boas novas mesmo com todo um império ali em perseguição, nós também não podemos permitir que o coronavírus abale a nossa fé e a nossa missão”, reflete o padre com bom humor.

Mas não são somente os líderes das congregações que encaram esse desafio com dedicação. No bairro do Anjo da Guarda, Jadson Borba (35), que é coordenador arquidiocesano de pastoral da Igreja Nossa Senhora da Penha, comenta que nunca antes buscou tantos alimentos para a própria fé. “Alimento a minha fé pela sacristia, leitura orante, meditação do terço e reunião com a minha família. A Igreja está se reunindo virtualmente. As famílias estão se reunindo em suas casas e muitas pastorais estão usando as redes sociais”, compartilha Jadson.

A necessidade de ajustar a realização das missas, reuniões, confissões e outras atividades mexeu com a comunidade de fiéis. “Hoje, os meios de comunicação nos dão uma ferramenta para aproximar as pessoas quando o distanciamento é solicitado. Temos realizado as missas e cursos de formação bíblica durante a semana, por meio de lives, e isso tem surtido efeito significativo”, atesta o coordenador pastoral, que testemunha diariamente os efeitos adversos provocados pela pandemia nos lares.

Ao entrar em contato com as famílias, Jadson diz identificar nas vozes sinais de ansiedade, depressão e tristeza. “Tudo isso vai passar e, certamente, sairemos mais fortalecidos. Muitos valores já estão se ressignificando, como o olhar de compaixão com o outro, o cuidado. Mas, enquanto Igreja e sociedade, teremos que nos questionar ‘Como vamos pensar em cada um na pós-pandemia, em suas consequências?’ Temos que dar respostas a isso. Estamos sendo afetados, mas a nossa missão é ter esperança e não podemos sucumbir ao medo, à dor e à angustia”, defende.

Boas energias

Jornalista Felipe Falcão

Engana-se quem pensa que somente nas Igrejas se busca o fortalecimento da fé. O jornalista Luís Felipe Falcão (36), que hoje mora em Juiz de Fora (Minas Gerais), buscou na meditação o caminho para se manter em equilíbrio e, de quebra, ajudar outras pessoas nessa jornada também. Espiritualizado, Felipe criou um grupo no Whatsapp para “desafiar” os amigos a se juntar a ele na meditação.

A ferramenta propõe aos membros a releitura de suas vidas e de pessoas próximas, a dedicação a si, ao fortalecimento da autoestima e, sobretudo, o autoconhecimento. “Com a meditação, comecei a observar outras coisas em mim, ficar mais calmo, reduzi minha ansiedade e pensei ‘Por que não passar para outras pessoas?’”, revela.

A estratégia tem dado certo. No grupo que reúne dezenas de amigos espalhados pelo Brasil, Felipe Falcão conseguiu exercitar a solidariedade e, ainda, diminuir as distâncias entre as divisas de diversos estados do Brasil.

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