ENTREVISTA

Eliziane faz balanço da CPI da Covid

“Existe una expressão que gostaria de utilizar aqui: não vamos cair com o barulho do tiro. Os crimes do presidente são tão visíveis que podem ser tocados”, disse a senadora

Foto: Reprodução

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) oficialmente não esteve entre os 18 membros da Comissão Parlamentar de Inquérito, CPI, da Covid. Mesmo assim, se destacou pelas intervenções inauguradas pelo enfrentamento ao machismo dominante que durante seis meses tentou intimidar a parlamentar

“Só não entendo o por que de tanto medo das vozes femininas”, lapidou a senadora maranhense com direito de fala apenas nas oitivas.

Em entrevista a O Imparcial, Eliziane Gama faz um balanço dos trabalhos que acompanhou pari passo e acredita que a unidade reinante na condução da comissão resultou em um episódio destacável na história republicana do Senado.

Confira a entrevista:

O Imparcial – Embora sem integrar o comando, a senhora teve uma participação ativa na CPI da Covid. Os trabalhos caminharam na direção imaginada no início ou ganharam contornos mais nítidos sobre os vários crimes cometidos na esteira da crise sanitária da pandemia?

Eliziane Gama – Toda CPI se sabe como começa, não como termina. E essa da Covid-19 não foi diferente. É notório que o desenvolvimento dos trabalhos foi definindo melhor as investigações, apurando os fatos, separando aspectos principais e secundários, obrigando a comissão a corrigir rumos, porém sem se distanciar do escopo original. Talvez estejamos diante da CPI mais eficaz e sólida de toda a história republicana. O Congresso assume nova estatura institucional.

O Imparcial – Os governistas acreditam que há crise na comissão (CPI da Covid) por conta da antecipação do relatório a ponto de causar fraturar no comando e assim favorecer o presidente Jair Bolsonaro?

Eliziane Gama – Sonho de verão do governo. A comissão é composta por representantes de vários partidos, de vários Estados, cada parlamentar com a sua cabeça e entendimento do Brasil. Portanto, divergências são naturais e diria, necessárias. 

O mais importante: ela manteve durante vários meses e sob muita pressão política uma grande unidade. Nenhuma narrativa do governo, nenhum fake news conseguirá quebrá-la. A história já está feita, e uma história profundamente a favor do Brasil e dos brasileiros.

O Imparcial – Há clima de desconfiança entre os membros da CPI sobre recompensas do Palácio do Planalto em troca do abrandamento das responsabilidades criminais imputadas ao presidente contidas no relatório?

Eliziane Gama – Existe una expressão que gostaria de utilizar aqui: não vamos cair com o barulho do tiro. Não vejo nenhuma desconfiança no ar, os membros da CPI, em sua vertente majoritária, estão conscientes de suas responsabilidades políticas e históricas. Os crimes imputados ao presidente são clarividentes, visíveis, é possível tocá-los com os dedos tamanha é a sua materialidade. 

Não há recuo quanto ao núcleo principal das imputações, e uma delas é o crime de responsabilidade. Depois do relatório é torcer e se empenhar democraticamente para que a Justiça, o Congresso e a pressão popular cumpram com as suas competências e desígnios.

O Imparcial – Caberá ao Procurador Geral da República aceitar ou não o indiciamento do presidente Bolsonaro. Quais são as suas expectativas em relação ao posicionamento do procurador Augusto Aras sobre acolhimento ou não dos crimes amputados ao presidente?

Eliziane Gama – Ao longo de todos esses meses de trabalho realizamos 68 sessões, dezenas de depoimentos, foi um trabalho minucioso, portanto todos os indiciamentos apresentados estão amparados por amplo material probatório que comprovam a materialidade dos crimes cometidos. 

Minha expectativa é de que não apenas o Senado, mas o próprio Supremo Tribunal Federal, e até mesmo a sociedade pressionem, o Procurador Geral da República a analisar os fatos e propor as medidas cabíveis. Não há como simplesmente engavetar, o Brasil não irá aceitar.”

As fake news foram destacadas nos trabalhos da CPI

O Imparcial – Qual a contribuição que o Senado Federal tem fornecido para que seja criminalizada essa onda de inverdades dolosa (fake news)?

Eliziane Gama – Fake News são instrumentos nefastos e que foram usados abusivamente num cenário extremamente grave, como a pandemia, em que notícias falsas trouxeram consequências muito graves para a população e custaram a vida de alguns brasileiros. Em geral, as fake News costumavam destruir reputações, o que vimos na pandemia, foram fake News destruindo vidas, principalmente dos mais pobres. Foi demonstrado de forma clara pela CPI a existência de um financiamento pesado e criminoso em torno da divulgação de medicações ineficazes e contra as medidas sanitárias que preconizavam, por exemplo, o distanciamento social, a eficiência das vacinas. As falas do próprio presidente da República contra o lockdown e o uso de máscaras são provas de fake News. Isso precisa ser responsabilizado penalmente.

O Imparcial – Como a senhora enxerga o indiciamento do ministro Paulo Guedes no rol dos que cometeram dolo contra saúde pública e a retomada da economia do país nessa fase pós-covid?

Eliziane Gama – Acho que houve uma orquestração clara da cúpula do governo para evitar o lockdown, ainda que isso custasse vidas. A estratégia era privilegiar a economia, como se fosse possível separar vidas de economia. Ao governo federal pouco interessava os riscos que a não adoção de medidas preconizadas pela OMS pudessem trazer para a população. Caso não houvesse uma resistência de outros Poderes, do Supremo Tribunal Federal e dos próprios governadores, a população brasileira teria sido lançada ao vírus sem nenhuma proteção. Os resultados disso seriam catastróficos. O ministro Paulo Guedes foi mais um a compactuar com essa conduta.

O Imparcial – Concluídos os trabalhos a senhora acredita que a CPI conquistou o apoio da população brasileiro, incluíndos eleitores de Bolsonaro que refletiram sobre seu posicionamento condenável de chefe de estado?

Eliziane Gama – Acredito que a CPI deixa um legado importante. A partir da instalação da comissão parlamentar de inquérito fica claro o aumento no ritmo da vacinação dos brasileiros contra a covid. O trabalho da CPI lançou luz sobre um dos episódios mais sombrios da nossa história recente, era preciso, em nome das 600 mil vitimas da covid e de todos os brasileiros esclarecer as responsabilidades. 

“Conseguimos mostrar a falta de gestão, a negligência dolosa e intencional no atraso das compras de vacinas, o conluio de autoridades do ministério da Saúde com empresas de fachada para realizar negociatas e garantir um esquema de superfaturamento às custas de vidas das vítimas. Em relação a percepção do comportamento do presidente da República, a cpi deixa claro que crimes foram cometidos. Sua conduta negacionista e em defesa da imunidade de rebanho levou o país a essa tragédia e sem dúvida, contribuiu e muito para o enorme número de vitimas da Covid que tivemos no Brasil.”

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