Entre a política e a maternidade

Quando precisa, elas ouvem. Depois falam sobre o que acham e tentam agir com serenidade. Se necessário for, chamam atenção para os erros cometidos e procuram mostrar que estão sempre preocupadas com aqueles que precisam do seu amparo. Neste dia, a descrição acima cabe bem ao papel de mãe, mas falamos de mulheres que, além da maternidade, exercem o papel de “mulheres públicas na política”.

São parlamentares que, no dia a dia das casas legislativas, estão sempre tentando fazer a diferença frente ao número majoritário de homens nas cadeiras da Assembleia Legislativa, Câmara Municipal e Federal. Para isso, cedem horas e horas para pensar projetos, reivindicar serviços e ouvir a quem as procura em seus gabinetes.

E como fica a vida em família? A dedicação aos filhos, o acompanhamento nas atividades escolares, o desenvolvimento deles? Como se diz por aí, elas se desdobram em quatro, mais dão conta.

Benefícios para mães

Está tramitando na Assembleia Legislativa um projeto de lei (nº 077/2016), de autoria do deputado Bira (PSB), que concede passe livre às mulheres gestantes no estado do Maranhão, nos transportes coletivos intermunicipais. A justificativa é que muitas mulheres maranhenses, que estão em condição de pobreza extrema, não conseguem ter o acompanhamento devido durante a gravidez. Para que isso ocorra, elas precisam buscar as maternidades de cidades mais desenvolvidas, mas nem sempre têm como se deslocar, devido à falta de recursos.

O objetivo, segundo o socialista, é assegurar o direito de assistência médica durante o período da sua gestação. O benefício estende-se a todo transporte coletivo intermunicipal, incluindo o ferryboat e todo o sistema oficial de transporte público do estado do Maranhão.

Mudando de endereço

Quando foi eleita para seu primeiro mandato de deputada estadual, Valéria Macedo (PDT) teve que fazer uma mudança muito grande em sua vida. Ela é da cidade de Porto Franco, onde atuava como enfermeira e chegou a ser secretária municipal de Saúde. Em 2010, concorreu a uma vaga na Assembleia Legislativa e foi a 27ª mais votada, com 33.362 votos. Teve que mudar para São Luís e trouxe os seus bens mais preciosos junto.

“Realmente não é fácil. Mas é gratificante a gente ter nossos filhos”, Valéria Macedo, deputada estadual (PDT)

Gabriel (16), Luíza (14) e Miguel (11) são filhos de Valéria. O contato com a mãe não é tão difícil quanto parece, pois procuram encaixar o tempo da melhor forma possível, para estarem juntos. De terça-feira a quinta-feira, Valéria está na Assembleia pela manhã; na segunda-feira, à tarde. Antes de ir para o Parlamento, toma café com os filhos e, sempre que possível, almoçam juntos.

Os filhos estudam à tarde e Valéria faz questão de buscá-los na escola. Só não o faz quando realmente não dá – às vezes, os trabalhos no gabinete varam a noite. “Realmente não é fácil. Mas é gratificante a gente ter nossos filhos. Chegar em casa, depois de um dia cansativo de trabalho, e receber nossos filhos”, diz a deputada.

Quando chega o fim de semana, a agenda parlamentar é que determina como vai ser o contato com a família. Se tiver viagem marcada, são poucas horas para se curtirem. Se os dois dias estão vagos, o tempo é todo dedicado aos filhos. Por serem grandes, os meninos entendem e até admiram a mãe pelo papel que exerce.

Ponte Brasília – São Luís

Se a distância dentro do estado já parece grande, imagine quando é preciso sair daqui, com mais da metade da semana comprometida com os trabalhos parlamentares na capital federal. Essa é a nova rotina de Eliziane Gama (PPS), desde quando foi eleita deputada federal em 2014.

Ela sabe que alcançou um desafio muito grande e que só aumenta a sensação de responsabilidade estando longe da família, principalmente das duas filhas, Renata e Lídia. “Esse é sem dúvida o maior desafio. Mas não posso negar que cumprir minha prioridade absoluta, minhas filhas, é, sobretudo, a tarefa mais prazerosa da minha vida.”

É nas herdeiras que Eliziane encontra forças para não desistir do trabalho político, que, segundo ela, é de constante tensão. “Dormir com minhas filhas, deixá-las na escola, viajar com elas e estar com elas é como se fosse meu combustível para suportar o enfrentamento diário do desafio da vida política, que é um ambiente tão hostil. Minhas filhas deixam a vida mais leve para mim”, diz Eliziane, com os olhos brilhando.

Veterana mãe

Entrar na política na terceira idade é algo incomum, mas aconteceu com a vereadora Eidimar Gomes (PSDB), que, desde fevereiro de 2015, tem uma cadeira como titular na Câmara Municipal de São Luís. Ela era suplente do então vereador Sérgio Frota (PSDB), mas com a ida deste para a Assembleia Legislativa, ganhou titularidade.

É tratada no Parlamento com grande respeito por todos os vereadores, pois tem idade tranquilamente para ser mãe de qualquer um deles. E sua origem lhe credencia isso.

Natural de São João Batista, a vereadora Eidimar mora em São Luís há mais de 40 anos. Até hoje trabalha com a produção e distribuição de remédios caseiros para a população mais carente. “Ela tem esse carinho de mãe para o povo”, diz Fredson Gomes, um dos 21 filhos dela – 12 sanguíneos e nove adotivos.

Fredson diz que ela não se contenta em ajudar apenas os de casa. Talvez tenha sido aí que nasceu o desejo de fazer mais pelo povo da área Itaqui-Bacanga. “A casa dela vive cheia. Ela trata todos como filhos.”