Os atos polêmicos do deputado Waldir Maranhão que anularam as sessões do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados (e depois a sua revogação na madrugada), repercutiram negativamente nas redes sociais tanto para o político quanto para seu estado natal.
As piadas e memes espalhados no Twitter, Facebook e também em grupos de WhatsApp foram uma constante desde o anúncio da primeira decisão de Waldir. Mas, juntamente com as brincadeiras, também vieram os atos de xenofobia contra os maranhenses.
O publicitário maranhense Fred Cunha, que mora em Brasília, conta que ouviu muita discriminação com o estado. “Onde fica o Maranhão?”, “Tinha que ser terra do Sarney” e “Obrigado aos eleitores maranhenses” foram algumas das frases que ele teve que ouvir/ler.
“Minha reação foi retaliar. Sou do tempo que bullying era rebatido com ironia proporcional (ou não) à ofensa”, afirmou. Fred completa dizendo que as pessoas de quem partiram a maioria das piadas xenófobas são pessoas esclarecidas e muitas vezes até conhecidas dele.
“É inadmissível que pessoas esclarecidas, formadores de opinião, não consigam viver com opiniões políticas contrárias e partam para agressões, tanto ao parlamentar quando ao povo que ele representa”, afirmou. “Tenho orgulho de ser maranhense e nada, nem ninguém, mudará isso”, finalizou.
“Infelizmente as pessoas confundem a opinião delas para criticar um estado inteiro, tentar denegrir a imagem das pessoas”, George Marques, jornalista
O jornalista George Marques, também maranhense residente na capital federal, foi outro que presenciou casos de xenofobia em grupos de WhatsApp.
“Infelizmente as pessoas confundem a opinião delas para criticar um estado inteiro, tentar denegrir a imagem das pessoas”, afirmou.
Marques, assim como Cunha, fez questão de defender a liberdade de posições políticas e afirmar que não existe explicação plausível para qualquer tipo de agressão xenófoba.
“Por mais que não concordemos com as posições políticas, preconceito, racismo e xenofobia são atitudes que não correspondem à nossa democracia, de respeito às leis e ao próximo”, completou.
Memes
Acompanhando em tempo real o que acontece no país, as redes sociais tiveram como tema quase único a repercussão das ações de Waldir Maranhão, gerando diversos memes de todos os tipos.
O principal foco das brincadeiras era na possibilidade de Maranhão conseguir anular qualquer coisa, desde o casamento de todas pessoas até a vitória de 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa do Mundo de 2014. Além disso, houve lembranças aos apresentadores João Kléber e Sérgio Mallandro.
A presidente Dilma Rousseff também foi ilustrada em muitas imagens, passando do Big Brother Brasil até a ressurreição do personagem Jon Snow, da série Game of Thrones.
Vergonha nacional
Apesar das mensagens com conteúdos preconceituosos, a maioria acabou sendo solidária aos maranhenses e criticando os atos de Waldir Maranhão. O sentimento dominante foi de pena por conta dos atos do representante estadual.
No twitter, onde Waldir Maranhão liderou os assuntos mais comentados por dois dias seguidos, muitos usuários o chamavam de vergonha nacional, mostrando seu apoio ao povo maranhense, excetuando os que votaram no deputado.
PP quer renúncia de Waldir Maranhão
Em reunião da bancada do PP na Câmara na manhã de ontem, os deputados do partido decidiram marcar uma reunião com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), para tentar convencê-lo, inclusive, de renunciar à presidência da Câmara, cargo que ocupa interinamente desde o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Integrantes da Mesa Diretora também pressionam pela renúncia do deputado.
“É uma possível saída negociada com o próprio parlamentar para que se possa encontrar uma forma, inclusive, uma possibilidade até da própria renúncia se for o caso para o partido substituir o parlamentar em uma nova eleição como prevê o regimento da Casa”, disse o líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB).
A bancada do PP quer expulsar Maranhão por ele ter ido contra a posição do partido de apoiar o impeachment, de maneira “reincidente”, segundo Ribeiro. O presidente em exercício, que já tinha votado contra o impeachment após seu partido fechar questão a favor, decidiu anular a sessão de votação -e, consequentemente, o impeachment- na Câmara, na última segunda-feira. Mais tarde, Maranhão recuou e revogou essa decisão. Ribeiro disse que a posição de anular o impeachment foi tomada “sem nenhum tipo de consulta ao partido”.
Além disso, a bancada decidiu enviar um pedido à executiva do partido para que trate do processo de expulsão de Maranhão do PP, segundo Ribeiro.
Ribeiro afirma que a tentativa de convencimento é para que a saída de Maranhão seja mais rápida, para o “funcionamento da Casa”, já que o processo de expulsão pode demorar.
