BANDEIRAS

A onda conservadora

A experiência histórica da Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal, convergiu na direção do fracasso dos partidos socialistas, criados após a Segunda Guerra nesses países, durante o processo de ressurgimento da Democracia no continente europeu, após a derrota do nazi-fascismo. Reforçou-se então a crença nas possibilidades da construção de sociedades que conciliassem o Socialismo e a […]

A experiência histórica da Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal, convergiu na direção do fracasso dos partidos socialistas, criados após a Segunda Guerra nesses países, durante o processo de ressurgimento da Democracia no continente europeu, após a derrota do nazi-fascismo. Reforçou-se então a crença nas possibilidades da construção de sociedades que conciliassem o Socialismo e a Democracia. Cada partido socialdemocrata tem a sua explicação peculiar para o resultado. Na América Latina, o Chile é o caso típico, fracassou a tentativa de Salvador Allende, derrubado pelo golpe militar em 1973, que entronizaria por 20 anos no poder o general Augusto Pinochet. Acusado da prática de graves infrações contra os Direitos Humanos, teve ordem de prisão expedida pelo juiz espanhol Baltazar Garzón.
O Brasil assiste desde 2013 à repetição de manifestações populares contra o governo do Partido dos Trabalhadores-PT, organização partidária de natureza socialdemocrata, tal como a sua opositora o Partido da Social Democracia Brasileira-PSDB. Acresça-se o fato de que a vigente Constituição Federal de 1988 é ideologicamente socialdemocrata, programaticamente comprometida com redistribuição da renda e a justiça social. Os analistas buscam as causas na perda da capacidade financeira dos estados nacionais, após a extinção da União Soviética. Todos os governos tornaram-se reféns dos mercados, especialmente do financeiro. Seria o fim das possibilidades da existência de regimes conciliadores da Democracia com o Socialismo?
A Espanha, após a morte do ditador Francisco Franco, iniciou o processo de redemocratização, em 1982, o Partido Socialista Operário, liderado por Felipe González chegou ao poder. Governou até 1996, período em que o país experimentou desenvolvimento econômico aliado a concessão de direitos sociais. No final do governo, estouraram os escândalos de corrupção, possibilitando a vitória dos conservadores. O mesmo se deu na França, com François Mitterrand; na Alemanha de Willy Brandt; na Itália de Bettino Craxi; em Portugal de Mário Soares. Seria uma maldição, a atingir os socialistas, na Europa e América Latina? Mas a corrupção não é privilégio dos socialistas, atinge igualmente os partidos conservadores e os liberais.
A atenção volta-se para os socialistas pelo fato de em suas campanhas eleitorais enfaticamente içarem as bandeiras éticas. Por princípios não deveriam ligar-se aos esquemas de enriquecimento ilícito. Os que assim avaliam esquecem-se do sustentado pelos iluministas no século 18: todo poder corrompe, quanto mais tempo no seu exercício, maiores serão as chances de locupletamento indevido. Aplausos, portanto, para o fim da reeleição, aprovada pela Câmara Federal.
Sempre, no final dos governos socialistas, após a eclosão dos escândalos de corrupção, reaparece a onda conservadora, retornam os partidos com esta conotação ideológica ou de cunho liberal. Agora, há um dado novo, os partidos conservadores e liberais desfrutam também de reduzida credibilidade diante do eleitorado. Os espanhóis resolveram fundar novos partidos, formados a partir do movimento de indignação popular que ocupou as ruas e praças públicas do país.
O sociólogo paulista Michael Lowy, residente na França, lançou em conjunto com o norte-americano Robert Sayre, o livro “Revolta e Melancolia”, em que examina a onda conservadora que ora avassala o continente europeu, traça paralelos entre o que ocorre lá e cá. Para ele, o elemento mais preocupante é o saudosismo com a ditadura militar, o considera o aspecto mais sinistro das recentes agitações conservadoras das ruas brasileiras.
Enxerga semelhanças com os países europeus na dimensão da ideologia repressiva; no culto à violência policial nos parlamentos, e na intolerância com as minorias sexuais. Particularmente, em relação ao PT, assegura que a sua crise se relaciona com a perda do horizonte radical; a distância das bases populares; a adesão ao neoliberalismo e o desaparecimento da tese socialista no programa do partido. Mas não é tudo. A vida política sujeita-se a ciclos. Após a onda socialista seguiu-se a conservadora. Os partidos socialistas aplicaram de forma bem-sucedida a política de distribuição da renda, mas enfrentaram dificuldades na eficiência administrativa e no combate a corrupção.
E o mais importante, atrelaram o projeto socialista a ideologia estatizante, e o pior, se contaminaram com a maldição do dinheiro, fatal para a manutenção das suas identidades. A onda conservadora passará, os partidos socialistas deverão reformular as suas concepções, voltar-se mais para a sociedade, trilhando outras modalidades de organização. Afinal, as utopias nunca morrerão. Tal como o sonho do Socialismo com Democracia.
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