EDITORIAL

Agiotagem: o que fazer com ela?

Ao revelar na Assembleia Legislativa que “quase 100%” dos prefeitos do Maranhão estão nas mãos de agiotas, o deputado Raimundo Cutrim (PCdoB) espantou a todos. Afinal ele passou 10 anos como secretário de Segurança dos governos Roseana Sarney e José Reinaldo Tavares e é um formidável arquivo policial vivo. Além passar tanto tempo como secretário […]

Ao revelar na Assembleia Legislativa que “quase 100%” dos prefeitos do Maranhão estão nas mãos de agiotas, o deputado Raimundo Cutrim (PCdoB) espantou a todos. Afinal ele passou 10 anos como secretário de Segurança dos governos Roseana Sarney e José Reinaldo Tavares e é um formidável arquivo policial vivo. Além passar tanto tempo como secretário de segurança, o deputado é também delegado licenciado da Polícia Federal. Portanto, sabe o que está dizendo, mesmo sem apresentar provas sobre revelação tão bombástica.
Cutrim mostra o tamanho do poder de fogo da agiotagem na política do Maranhão. Quando diz que quase 100% dos 2017 prefeitos as autoridades deveriam prestar mais atenção nisso. Ele bem que poderia estender a sua afirmação a outros segmentos políticos. Afinal, o agiota que financia campanha de prefeito faz o mesmo em outras campanhas. O município de Marajá do Sena, listado pelo IBGE como o mais pobre do Maranhão e entre os 10 de pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil, é o símbolo de quanto a agiotagem é nefasta à população.
Naquele distante município, um dos 81 criados num autêntico festival de emancipações de povoados na década de 90, o prefeito atual e o antecessor foram presos pela Polícia Civil, acusados de pagar com recursos públicos empréstimos a agiotas no tempo das campanhas eleitorais. Se Raimundo Cutrim estiver certo, a força-tarefa da Polícia do Maranhão não terá cadeia suficiente para colocar tantos políticos que estão nas mãos da agiotagem. Até vereadores de São Luís foram acusados da prática de agiotagem transversalizada com um banco.
A agiotagem sempre esteve de mãos dadas com a política. É na política que os agiotas fazem seu negócio prosperar, dentro de regras que escapam à fiscalização do sistema financeiro e tributário, mais funciona a todo vapor no lado clandestino das campanhas. São conhecidos casos clássicos de políticos que perderam mansões, fazendas, carros e outros bens e até a vida, para os agiotas. São incontáveis os assassinatos de políticos no Maranhão e em outros estados por pistoleiros contratados por agiotas. São os crimes mais misteriosos, portanto de difícil solução da polícia e da justiça.
Há quanto tempo a Polícia do Maranhão vem investigando a agiotagem nas prefeituras e ainda hoje consegue descobrir parte da rede que a opera. É sinal inegável de que as negociatas são tão volumosas que nem os operadores da agiotagem conseguiram esconder todas as provas. Elas existem aos montes, mas os deputados torcem o nariz toda vez que o “comunista” Raimundo Cutrim vai à tribuna falar do assunto. Ele até que tentou criar uma CPI da Agiotagem, mas não reuniu o número de 14 assinaturas necessárias. Falta, agora, ele apresentar as provas dos “quase 100%” dos 217 prefeitos nas mãos dos agiotas.
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