ENTREVISTA RICARDO CAPELLI

“É natural que as pessoas não pensem todas da mesma maneira”

Em entrevista exclusiva a O Imparcial, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) Ricardo Capelli falou sobre eleições municipais em 2024, Flávio Dino, Governo Lula e seu futuro político

foto: reprodução

A cerca de um mês, Ricardo Capelli, figura conhecida no cenário político maranhense, assumiu a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Ele, que foi secretário do Governo Flávio Dino no Maranhão e, depois, secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, esteve em São Luís para cumprir agenda institucional. Em conversa com a equipe de O Imparcial, Capelli falou sobre as eleições municipais em 2024, a ida e duração da permanência de Flávio Dino no Supremo Tribunal Federal (STF) e outros assuntos ligados à política do Maranhão e do Brasil. Também comentou sobre suas pretensões no futuro político.

O Imparcial – Qual a agenda aqui no Maranhão?

RC – É uma agenda institucional. Tinha aqui um pleito da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Estive com o secretário José Rinaldo Tavares, para que pudéssemos conversar um pouco sobre a questão da ZPE [Zona de Processamento de Exportação], que é uma batalha antiga do Estado e que deve ficar onde seria a Refinaria Premium de Bacabeira. Tem um terreno com uma posição muito privilegiada, porque tem ferrovia, tem rodovia, está a 800 metros do Rio [Itapecuru] e a ZPE do Maranhão já ultrapassou todas as fases técnicas e burocráticas. Agora, é realizar a reunião do conselho da ZPE, que é presidido pelo vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin. Na reunião, a ZPE do Maranhão vai para a pauta e tem tudo para ser aprovado. José Reinaldo Tavares nos apresentou o projeto, toda equipe e nos pediu ajuda para fazer o processo andar.

Eu fiz uma reunião com o governador também para discutir a transição energética, a descarbonização, a questão dos créditos de carbono, que o Maranhão tem um potencial muito grande. O mercado de crédito de carbono tem crescido muito e vai explodir nos próximos anos em função de uma exigência cada vez maior dos países para que as empresas façam compensações ambientais e reduzam a emissão de gases e efeito estufa. A gente apoia o Estado nesse esforço.

E quanto a Margem Equatorial?

RC – Nós não tratamos sobre o assunto, mas essa é uma questão de muito interesse para o Estado. A Petrobras é referência em perfuração em águas profundas e nunca houve um vazamento no pré-sal brasileiro. Vale dizer, também, que, na mesma rota da Margem Equatorial, onde o Brasil está discutindo explorar, a Total [empresa francesa] está explorando, tem empresa norte-americana explorando. Então, não há motivos para que o Brasil, na minha opinião, não explore.

Claro que foram colocados alguns condicionantes ambientais, acho que a Petrobras já tá conseguindo superar. Agora, o desafio é como você organiza isso, monitora, consegue a certificação, coloca isso no mercado. Colocando no mercado, cumprindo todo esse processo, com certeza tem demanda. Isso pode trazer recursos para o Estado, além de colocar o Estado no patamar de equilíbrio ambiental e sustentabilidade, que pode atrair outros investimentos. Você cria ambiente para fazer a atração de empresas também. Veja bem: a pior captação de energia solar no Brasil é melhor que a melhor da Alemanha. O Brasil tem um potencial muito grande.

(foto: João Carvalho)

A vinda ao Maranhão foi só por questões institucionais ou tem alguma orientação da direção nacional do PSB para tratar sobre as eleições de 2024?

A minha vinda é institucional. Eu assumi, a cerca de um mês, a Agência e ainda não tinha vindo ao Maranhão. Vim fazer o alinhamento com o Governo aqui. Agora, claro, que eu, como membro da direção nacional do PSB, estou totalmente alinhado com o projeto do partido para este ano. O partido vai ter candidaturas a prefeito nas capitais, pode ser um pouco mais, um pouco menos. Estamos vendo ainda o processo. Onde não tem candidatos, a gente vai compor frente no âmbito da base do Governo Lula. Essa é uma orientação geral.

Aqui no Maranhão, a gente tem o privilégio de ter um deputado com a qualidade do Duarte [Jr], jovem, se constituiu como uma referência da cidade de São Luís, tem feito um bom mandato de deputado federal, virou referência em pouquíssimo tempo. Então, nos anima muito ter uma candidatura do PSB aqui em São Luís, uma candidatura com a maior frente de partidos, liderados pelo governador Carlos Brandão.

Nesta semana, o MDB confirmou apoio à candidatura do prefeito Eduardo Braide. Que leitura faz deste movimento?

RC – Eu vejo com naturalidade. O MDB quando acolheu o Cléber Verde [presidente municipal da legenda], ele [Cléber] deve ter colocado as suas questões. Uma parte do MDB tem reagido. O Duarte vai ser candidato de uma frente com mais de 10 partidos, no mínimo, coisa que ele nunca teve. Claro que o MDB é importante, mas não vai ser a saída de um partido que eventualmente vai mudar a nossa rota. O nosso projeto aqui é em torno de uma frente para apoiar o Duarte. Nós estamos entrando na famosa TPE, que é a famosa Tensão Pré-Eleitoral. Isso aí, até junho, julho, até fechar as convenções todas, é natural.

Eu estive mais cedo conversando com o Duarte e ele me disse que ele vai até o PRD, que está declarando apoio a ele hoje [quinta-feira, 14].

E a relação com o PT?

RC – Nossa relação com o PT é de casamento. A chapa é Lula-Geraldo Alckmin, PT-PSB. Existe um casamento natural. É natural que, nas eleições municipais, cada partido tenha seu candidato. O Brasil é muito grande, é um país continental. Os partidos têm seu projeto também. 2024 acaba sendo um termômetro importante para a eleição de bancadas em 2026. Então, a gente, a medida do possível, vai estar junto à base do presidente Lula.

Quanto a vice-prefeitura, o PSB em São Luís prefere o PT?

RC – Quando você constrói uma frente com muitos partidos, como é a que a gente acredita que vai construir em torno da candidatura do Duarte, a regra é você debater com todos os partidos. O PT é o maior partido, é o partido do presidente Lula. É natural que apareça com força a ideia do PT ter a vice. Mas isso vai ser construído no processo. Não tem nada previamente decidido porque precisa se consultar todos os partidos que compõem a frente.

(foto: João Carvalho)

Tem ocorrido algumas divergências dentro da base do governo estadual. Vocês têm observado isso?

RC – É uma base muito grande, muito ampla. É natural que as pessoas não pensem todas da mesma maneira. É preciso você ter paciência, sabedoria, firmeza, resiliência, para entender que essas eventuais divergências não nos desviam da rota principal, que é dar continuidade ao projeto que foi iniciado pela chapa Flávio Dino-Carlos Brandão, que teve como desdobramento a chapa Brandão-Felipe Camarão e que a gente espera que isso continue para o bem do Maranhão. O Ceará conseguiu dar um salto importante em educação, em desenvolvimento econômico, quando conseguiu construir um ciclo longo de governadores do mesmo campo político. Aqui, nós temos projetos em processo de consolidação, que trazem mudanças estruturais de médio e longo prazo. Eu acredito que isso é o nosso horizonte estratégico. A gente não pode perder o horizonte estratégico em função de uma ou outra divergência. O desafio no momento é ajudar o governador Carlos Brandão a fazer um grande governo, para que o vice-governador Felipe Camarão, mais à frente, possa dar continuidade a esse projeto.

Com a saída de Flávio Dino para o STF, iniciou-se uma disputa por liderança. Naturalmente, quem ocupou o posto foi o governador Carlos Brandão, mas ainda existe quem pense em uma liderança diferente. Como você vê isso?

RC – Eu não vejo disputa. Primeiro que Flávio Dino continua vivo. É claro que ele não tem mais atuação política partidária, mas o legado que ele construiu, a referência política dele ainda é muito forte. Flávio Dino virou uma página na história política do Maranhão. E essa virada de página projetou um conjunto de novas lideranças. É um privilégio você poder contar com várias lideranças que nem sempre pensam da mesma forma, mas que estão unidas em um objetivo estratégico maior. Eventualmente, tem um olhar mais para cá, outro mais para lá, mas, no centro, a gente segue muito unido em torno desse desafio, que é fortalecer o governo liderado pelo Brandão e pelo Felipe.

É possível o Flávio voltar à política em 2026 ou mais à frente ou não se toca nisso?

RC – Flávio acabou de entrar no Supremo Tribunal Federal, né? Essa pergunta que você fez, só ele pode responder. Não creio que uma eleição em 2026 seja razoável para quem acabou de entrar no Supremo. Flávio Dino é muito jovem. Ele pode ainda voltar a jogar algum papel [político] no Brasil. É natural (e é bom para o Brasil) que o Brasil tenha alternativas de líderes do nosso campo democrático-progressista, mais jovens, que podem vir a jogar no papel de destaque no futuro. Flávio Dino conseguiu uma coisa que é muito rara. Em apenas um ano, como ministro da Justiça e Segurança Pública, ele se tornou uma liderança nacional. Quando você pega as pesquisas hoje, Flávio Dino conseguiu chegar no patamar de liderança, no conhecimento do povo brasileiro, que só conseguiu alcançar aqueles que foram candidatos à Presidência da República. Quem tá nesse patamar hoje? O vice-presidente Geraldo Alckmin, a ministra Simone Tebet, a ministra Marina Silva, o ministro Fernando Haddad. Esses quatro já foram candidatos à Presidência da República. Se você pegar todos os ministros que foram indicados pelo presidente Lula, só tinha um ministro que foi para esse patamar sem ter sido candidato a presidente da República, que é o Flávio Dino. Foi um feito extraordinário que mostra toda a capacidade do Flávio Dino. Agora, o futuro, a Deus pertence. Temos que cuidar do agora.

Com a experiência de quem conviveu por muito tempo com a Flávio Dino, podemos dizer que a indicação dele para o STF foi para barrar uma liderança em crescimento no país?

RC – Flávio Dino, para qualquer cargo que você fala hoje no Brasil, ele é lembrado. Para presidente da República, ele é lembrado. Quando surge uma vaga para a Suprema Corte, que está tendo um papel fundamental de garantir a democracia no Brasil, é absolutamente natural surgir o nome do Flávio. Eu prefiro ver pelo lado positivo. Não tem dois nomes com a história do Flávio, com a capacidade, com a formação dele, para ocupar e brilhar no Supremo como eu tenho certeza que ele vai brilhar. Eu prefiro ver que ele foi escolhido pelas qualidades dele e tenho certeza que ele vai brilhar no Supremo.

Na eleição de 2022, você foi o primeiro a dizer que a polarização nacional poderia influenciar na eleição estadual, o que acabou acontecendo. Acha que essa polarização ainda vai refletir na eleição municipal deste ano?

RC – A polarização sempre se manifesta, principalmente nas eleições nacionais para presidente e para governador. A eleição para prefeito é muito localizada. A pessoa vota ali pelo sentimento concreto de melhor ou não, de questões que afetam o seu dia-a-dia, como transporte, educação, saúde. Claro que o Brasil segue muito polarizado, mas eu não acredito que isso seja o vetor para definir vencedores e perdedores nas eleições municipais.

(foto: João Carvalho)

Capelli tem planos políticos?

RC – 2026 tá muito longe. Muita coisa vai acontecer até lá. No momento, o nosso foco tem que ser trabalhar pelo êxito do Governo Lula. Porque qualquer projeto eleitoral em 2026, vai estar vinculado ao sucesso do governo. Se o governo for mal, isso incide sobre qualquer projeto.

Me orgulha muito sempre ser lembrado, citado. Eu entendo isso como reconhecimento do trabalho que nós fizemos também em pouco mais de um ano. Quis o destino que eu tivesse em locais que me impuseram grandes desafios. Eu, quando embarquei de São Luís para Brasília em 1° de janeiro de 2023, jamais imaginaria que, sete dias depois, estaria no centro de um dia histórico para a vida nacional. Quis o destino que eu estivesse ali. Depois, assumi como ministro interino do GSI [Gabinete de Segurança Institucional]. Assumi, no governo, uma série de missões e isso acabou me expondo bastante, expondo trabalho. Mas é preciso ter paciência para não perder o foco do que é o principal no momento, que é trabalhar pelo êxito do governo do presidente Lula.

Agora, claro,… Ontem, eu estava na porta de um supermercado aqui em São Luís e uma senhora foi passando, me reconheceu, disse: “Seu Capelli”. Eu falei: “Sou eu”. Ela me parabenizou pelo trabalho, falou que acompanhava pela televisão e isso sempre nos anima, nos dá certeza de estar na direção certa. Agora, cada coisa no seu tempo. Não haverá nenhum projeto local ou estadual sem o êxito do governo Lula.

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