Maranhão foi crucial para o livro Torto Arado, revela Itamar Vieira Junior
O autor, que morou no maranhão nos anos 2000, disse que a história ganhou profundidade a partir desse momento.
O escritor baiano Itamar Vieira Junior revelou que o Maranhão foi fundamental para dar vida ao livro Torto Arado, fenômeno editorial com mais de 500 mil exemplares vendidos. A declaração aconteceu em entrevista ao jornal Le Monde Diplomatique, publicada na última segunda-feira (13).
De acordo com o autor, a ideia para o livro surgiu ainda em sua adolescência, há mais de 25 anos, quando ele viveu brevemente em Pernambuco. Porém, foi apenas depois dele morar durante mais de três anos em São Luís, na segunda metade dos anos 2000, e viajar pelo interior do estado a serviço do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) que a história ganhou “densidade e profundidade”.
Itamar citou a Baixada Maranhense, os Lençóis, a Floresta dos Guarás e a Amazônia Maranhense para afirmar que nessas regiões teve contato com um Brasil que lhe marcou profundamente.
“Nosso corpo e nossas vidas são atravessados pela História com H maiúsculo. A gente não se dá conta porque a única coisa que nos resta para saber sobre nós mesmos é a própria história, o que a gente lê. O que é muito diferente de você ir para uma paisagem como essa, do interior do Maranhão, e ali estão os resquícios desse país fundado numa situação de violência, de extrema violência, de conquistas, invasões, genocídio”, observou.
“Tudo isso está muito marcado e muito presente na maneira como as pessoas vivem no campo. Um campo cada vez mais moderno, com equipamentos que aumentam a produtividade, e você encontra casarões que pertenceram aos senhores donos de escravos, aquela crueza da vida, aquela desigualdade que atravessa os séculos e ainda se mantém. Essa experiência foi fundamental para me ensinar mais sobre esse país”, disse.
Lançada em 2018, Torto Arado venceu os renomados prêmios literários Leya (Portugal, 2018) e Jabuti (Brasil, 2020), além de ter sido absorvida pela cultura popular: se transformou em peça de teatro, atualmente em turnê na Europa, música interpretada pelos artistas Rubel, Liniker e Luedji Luna, além de ter tido os diretos adquiridos pela HBO para se virar em série, já em fase de produção.
Questionado se foi no Maranhão que ele teve contato com pessoas vivendo em situação de servidão pela primeira vez, o autor não titubeou. “Foi sim. Hoje, pensando bem, na cidade eu já encontrava pessoas vivendo dessa maneira, porém eu não tinha a leitura crítica para dizer ‘essas pessoas vivem numa forma de servidão’. E, infelizmente, é muito comum, a gente passa por inúmeros lugares e encontra isso. Mas, sendo mais direta, e o que me fez fazer uma associação com o nosso passado, foi no Maranhão.”
“O Maranhão não influenciou a minha escrita, ele influenciou quem eu sou, minha percepção de mundo, de vida, me marcou profundamente. E [a história de Torto Arado] era uma coisa que eu precisava falar, precisava encontrar uma maneira de contar. Pensando nesse sentido, eu posso dizer que a minha convivência com os camponeses me ensinou a ter um olhar muito apurado, acurado para aquilo que é contado”, completou.
Depois da passagem pelo Maranhão, Itamar voltou para a Bahia, sua terra natal, onde continuou trabalhando a serviço do INCRA. Essa vivência, disse o autor, fez com que ele deslocasse a história de Torto Arado para a Chapada da Diamantina.
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