No Maranhão, chuvas intensas devem durar até o mês de março
Em 12 municípios, a chuva já deixou cerca de 1.178 famílias desabrigadas ou desalojadas.
Se as previsões climatológicas se confirmarem, teremos até o mês de março, na região sul do estado, um período intenso de chuvas, como o que está sendo agora. A chuva que cai desde o final do ano passado na região já deixou cerca de 1.178 famílias desabrigadas ou desalojadas, segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA).
Até ontem, 12 municípios já decretaram situação de emergência, são eles: Mirador, Grajaú, Barra do Corda, Jatobá, Paraibano, Formosa da Serra Negra, Imperatriz, Vila Nova dos Martírios, Fortuna, São Luís Gonzaga, Parnarama e Buriti Bravo. Outros cinco municípios também já registraram danos causados pelas chuvas intensas e pelo aumento dos níveis dos rios. Ao todo, 27 municípios estão sendo monitorados pela Defesa Civil.
A quantidade de famílias desabrigadas ou desalojadas por município é: Mirador (167 famílias), Grajaú (265 famílias), Imperatriz (245 famílias), Vila Nova dos Martírios (250 famílias), Buriti Bravo (92 famílias). Os demais munícipios, segundo o Corpo de Bombeiros, não registraram, até o momento, famílias que se encontrem nessa situação no Sistema Integrado de Informação de Desastres (S2ID).
“O CBMMA também tem acompanhado e auxiliado famílias afetadas em outras cidades que, no momento, se encontram em estado de alerta. Nas regiões mais afetadas, o CBMMA mantém equipes operacionais que auxiliam a retirada de famílias das áreas de risco. Militares também trabalham no auxílio humanitário às vítimas, com a entrega de alimentos, cestas básicas, água potável, colchões e o transporte de profissionais de saúde. A operação é realizada com auxílio das prefeituras, Centro Tático Aéreo, Força Estadual de Segurança e Secretarias do Governo do Estado”, disse o órgão.
Segundo o meteorologista e Mestre em Meteorologia, Gunter de Azevedo Reschke, o fenômeno La Niña é o responsável pela chuva intensa, especialmente na região sul do estado e deve atuar pelo menos até os meses de abril e maio.
A principal característica desse fenômeno de grande escala, que muda toda a circulação atmosférica do planeta, é que ele causa como maiores consequências chuvas acima da média na região Nordeste e chuvas abaixo da normalidade no extremo Sul do país.
“Esse fenômeno favorece a atuação de alguns sistemas meteorológicos tais como a zona de convergência do Atlântico Sul que já vem atuando na região central do Brasil desde a segunda quinzena de outubro, favorecendo assim as chuvas na região sul do estado do Maranhão. Esse é o principal sistema causador de chuvas nessa porção do estado. Além disso, nós temos a também a atuação dos vórtices ciclônicos de altos níveis: um sistema meteorológico mais ou menos com ventos mais intensos em torno de 10.000m de altitude onde o centro dele provoca uma alta pressão atmosférica, e inibe a formação de nuvens nessa região do centro”, disse Gunter.
O conjunto de sistemas meteorológicos atuando simultaneamente provocam as chuvas no setor norte do Maranhão, que é a Zona de Convergência Intertropical.
“Em resumo, a região Centro Sul do estado do Maranhão já está dentro do período chuvoso desde a segunda quinzena de outubro, chuvas estas que estão acima da média climatológica e que se intensificaram bastante agora neste início do ano devido ao conjunto de sistemas meteorológicos”, completou Gunter.
Já o setor Norte do Maranhão, no qual São Luís está localizada, segundo Gunter, ainda está no período de transição entre a estação seca para o início da estação chuvosa, porém, ao que tudo indica, o período vai ser intenso para os próximos três meses.
Nas últimas previsões climáticas de consenso elaboradas para os três próximos meses, com todos os centros de meteorologia do Nordeste, Instituto Nacional de Meteorologia e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o indicativo das chuvas acima da média já era previsto e foi confirmado, segundo Gunter.
Dezembro foi o mês com chuva acima da média, onde o setor Sul foi o mais atingido, principalmente a região Tocantina, onde está Imperatriz e municípios circunvizinhos.
Consequências da chuva
O que se viu nos últimos dias foram inundações de cidades causadas pelas cheias dos rios Itapecuru, Mearim e Tocantins, que deixaram milhares de pessoas desabrigadas ou desalojadas.
A população ribeirinha está sendo a mais atingida, mas em algumas cidades a água invadiu as ruas, como foi o caso de Mirador que amanheceu debaixo de água nos primeiros dias de janeiro.
“Essas chuvas em excesso na cabeceira tem uma consequência mais grave porque não apenas na região Tocantina, mas também na região da cabeceira do rio Itapecuru, na região de Mirador, e na nascente do Mearim, perto de Grajaú e Sítio Novo, devido o relevo ser mais elevado nessa região, os municípios que ficam abaixo dessas cabeceiras, é que vão sofrer as maiores consequências porque essas aguas além de prejudicar, como já aconteceu na nascente de Mirador, elas também escorrem. Elas entram na bacia, no caso do Itapecuru e vão aumentando o nível do rio pra municípios que ficam abaixo da cabeceira”, explica Gunter.
As previsões meteorológicas climáticas para os próximos três meses indicam chuvas ainda bastante intensas.
“Março deve continuar até no Sul, e no Norte até maio, com chuvas acima da média. Ainda tem muita água para acorrer, e essas informações já foram passadas ao governo para que ele possa promover ações preventivas para evitar situações piores, como possíveis rompimentos de estradas, inundações de casas e cidades, ou seja possível retiradas de famílias de suas casas… Então, os órgãos como Corpo de Bombeiro, Defesa Civil, Polícia Militar são importantes porque orientam a população e é bom que a população ouça essas orientações para assim prevenir principalmente a perda de vidas humanas, que é o mais importante”, assegurou Gunter.
Semana de trégua
O Núcleo faz um monitoramento diário das condições atmosféricas, ou seja as previsões de tempo, e para a semana que vem, a indicação é de que a chuva vai dar uma trégua. O monitoramento diário antecede a vinda de outros sistemas ou atuação de outros sistemas em conjunto, que podem aumentar o volume de chuvas.
“Por exemplo, o vórtice que é um sistema transeunte que dura 4/5 dias, pode vir logo o aparecimento de outro, ou não, então esses avisos meteorológicos são de suma importância sobre as possíveis atuações e excessos de chuva que poderão surgir, visto que ainda temos um trimestre pela frente de chuva bastante intensa. Essa previsão diária do tempo serve para alertar essas condições que podem surgir novamente. A gente está monitorando as atividades atmosféricas mais intensas que possam surgir”, finalizou Gunter.