ESSE TEM HISTÓRIA

“Seu Zeca”, morador mais antigo do Centro

Um dos moradores mais antigos do Centro conta sua trajetória de mais de 70 anos no bairro

Seu Zeca mora há 71 anos no Centro Histórico

O Centro Histórico de São Luís está sendo revitalizado com obras de recuperação de antigos prédios, pelo poder público, que estão sendo direcionados para moradia coletiva, com apartamentos abrigando moradores da região, que viviam em quartos alugados, em condições precárias.

Entre estes moradores está o comerciante aposentado José Henrique Pinheiro, conhecido como “Seu Zeca”, 71 anos, nascido e criado no Centro Histórico, sendo o seu mais antigo morador. Nascido de tradicional família do Bairro do Desterro, filho do comerciante e guarda livros (contador) Roque França Pinheiro – “Roque Sabão” e Dona Anunciação Pinheiro, viveu desde a sua infância no Beco Feliz, vizinho da casa onde residia o maestro João Carlos Nazaré, pai da então menina Alcione, que se tornou eclética cantora e a maior sambista do Brasil. Seu Zeca foi um dos fundadores da União dos Moradores e do Conselho Cultural do Centro Histórico e a mutios anos é diretor da Escola de Samba Flor do Samba, agremiação carnavalesca fundada e sediada no Bairro do Desterro. Saudoso, Seu Zeca lembra de uma infância de muitas alegrias com as brincadeiras próprias da época, como as “peladas” de futebol que se realizavam na margem do igarapé do Portinho, onde eram depositados os resíduos das serrarias, que deixou de existir desde o aterro que acabou com o Rio Bacanga, nas áreas de Fonte do Bispo e Desterro, dando lugar a uma avenida.

Seu Zeca mora há 71 anos no Centro Histórico

As incursões pela croa que surgia sempre que a maré vazava e era a atração preferida da meninada, que ali buscava carvão de pedra, que o quitandeiro José Cupertino dos Reis comprava e revendia para as pequenas metalúrgicas e fundições; e daqueles que iam pescar siri ou extrair sarnambi. Para matar o tempo, um jogo de futebol enquanto a maré não enchia.

Celeiro de craques

Conta ele que o Desterro, foi celeiro de grandes jogadores de futebol, exemplificado seus contemporâneos Djalma Campos, que foi jogador profissional e político, Santana, Pompeu, Enemê, João Bala, Bedeu, o goleiro Campos e Valber, que celebrizou-se como lateral do Sampaio Correa. Seu Zeca lembra que no adro da Igreja do Desterro aconteciam shows artísticos e que do bairro surgiram artistas como Alcione, José Pereira “Godão”, o próprio Valfredo Jair e o cantor/compositor Joãozinho Ribeiro, que nasceu na Coréia, mas sempre manteve raízes no Desterro, sendo neto do mestre Mundico Carvalho, dono de uma oficina onde fabricava qualquer peça pra todo tipo de motor.

Só tinha concorrência da oficina de Boca Rica, na Rua Formosa (Afonso Pena). Na Rua da Saúde, já próximo da Avenida Magalhães de Almeida, moravam o jornalista Geraldo Castro e o radialista Carlos Henrique –o “ Galinho”, já falecido. Na Praça do Desterrovia-se constantemente dois moradores do bairro conhecidos como “Seu Lúcio” e “Zé Colé”, especialistas em consertar velas de embarcações e redes de pescar. Na esquina era estabelecido o relojoeiro e ourives “ Seu Ary”.  

No Beco da Caela, morava Gaudêncio, que era massagista de times de futebol, mas não era querido da meninada do bairro, visto que costumeiramente sentava-se à porta da sua casa e quando a bola caia para o seu lado, cortava-a.

Vivia do futebol mas era intolerante com os peladeiros do Largo do Desterro. Ele recorda o tempo que a Baixada era o celeiro da capital, e que da região vinham todos os gêneros alimentícios consumidos na capital, produtos da lavoura e da pecuária que desembarcavam nos extintos Praia do Desterro e Igarapé do Portinho e eram comprados para revenda pelos comerciantes da região e de outros bairros, destacando-se os estabelecidos no Desterro como João Lemos, Camarão, Ribamar Castelo, Capitão, Juracey, Amadeu Pinto, Zé Reis, Satiro, João Gia, Máximo, Júlio Careca, Zezinho Pereira, Luís Sabão, Cara de Onça, Raimundo Castelo, Zé Veras, Zé Soeiro, Manoel dos Anjos, “Seu Caminhão”, especializado em vender tripas e toucinho de porco e outros quitandeiros.

Lembra Seu Zeca, que os desembarques de produtos manufaturados vindos de outras unidades da Federação, se davam na Praia Grande, conduzidos em alvarengas que os coletavam dos navios que ficavam fundeados na Baia de São Marcos. Era na Praia Grande, no entorno da Casa das Tulhas, que se concentravam grandes lojas de tecidos, ferragens, implementos agrícolas e especiarias.

Na região da Zona do Baixo Meretrício se concentravam os melhores lupanares chamados de boites na Rua da Palma e os de segunda categoria na Rua 28 de julho, enquanto que no Desterro, as mulheres mais decadentes eram recebidas no cabarés Espoca, Mata Homem, Couro Grosso, Vacaria, Vitoriana e Boite Maracanã, onde mais de produziam pacientes para o farmacêutico “Seu Zequinha”, especializado em DSTs e em pediatria, estabelecido com  a Farmácia do Povo, na Rua Jacinto Maia.

Na área do Centro Histórico se concentravam bares e restaurantes que fizeram história na vida boêmia da  cidade, como o Bar 3-15, localizado na Rua da Saúde, onde estava também o bar de Chico Bicicleta, Maria Camelinho, Bomfim. Na Rua 28 de Julho, o Bar do 29,  Hildemar, Gregório, Crescêncio, Benedito Sorveteiro.

Na Rua da Palma eram o bar do Galvão, Maracangalha, de Domingos Espanhol; Quitandinha, de Dona Luzia, Bar do Dico e o bar de Mário Sena, que mudou para a Rua 28 de Julho e que resiste em atividade, com o nome de “Bar Meu Bem”. Com o seu falecimento, o bar passou a ser comandado pela sua viúva, Dona Socorro Sena.Na Rua da Palma trabalhava, também, um engraxate muito conhecido na cidade, identificado como Orlando Dias, que era uma pessoa muito bem “informada” dos bastidores da ZBM.

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