PREGOEIROS DE SÃO LUÍS

A resistência de uma história

Os pregoeiros ou vendedores são figuras presente no cotidiano da população de São Luís.

Por meio da oralidade, os pregoeiros anunciam seus produtos para comprar ou vender e abastecem os clientes com produtos diversos.

Figuras presente no cotidiano da população de São Luís, os pregoeiros ou vendedores ambulantes, percorrem as ruas e bairros da cidade, oferecendo seus produtos literalmente no grito. Muitos deles ficaram muito conhecidos como pregoeiros a partir do século XIX. Por meio da oralidade, anunciam seus produtos para comprar ou vender e abastecem os clientes com produtos diversos. Para chamar a atenção fazem até rimas para atrair a clientela por meio de pequenas canções ritmadas, poéticas e criativas.

Personagem tradicional de uma São Luís, que acompanha as transformações históricas, o pregoeiro tem sua importância histórica reconhecida na literatura, música, pintura e já inspirou pesquisas e documentários e ainda resiste as transformações de hábitos e costumes, embora em menor quantidade.  Nas comemorações dos 409 anos da Ilha do Amor, O Imparcial conta a história do vendedor de quebra-queixo George Alisson Maranhão e do vendedor de sorvete de casquinha Cipriano Sabino Vale, que ainda carregam essa tradição.

Localizado há 23 Anos com uma banca fixa na Rua de Nazaré no Centro, em frente à unidade da Secretaria Municipal de Desportos e Lazer (Semdel), George Alisson, de 41 anos, vende o tradicional doce “Quebra-queixo”. O vendedor pode ser encontrado de segunda a sexta-feira, com expediente das 8h às 16h e revelou como aprendeu a fazer a iguaria que vem em barras, cortadas em tiras pequenas, e negociada a R$ 1,00 a unidade. Em média, o faturamento varia entre R$ 30,00 e R$ 50,00. E, dependendo do movimento, o valor pode chegar até o valor de R$ 100,00. O vendedor de quebra-queixo aprendeu o ofício por intermédio do pai, e por interferência de Padeiro, o famoso comerciante do produto na Praia Grande. “Tudo começou quando eu tinha 18 anos e ele me chamou para ajudar a fazer e vender o doce. Depois que ele faleceu, eu comecei a vender por contra própria”, contou George Alisson que mora no Piancó, área Itaqui-Bacanga.

George Alisson, vendedor de quebra-queixo no Centro Histórico de São Luís. (Foto: Marcos Caldas/O Imparcial)

Em entrevista a O Imparcial, George Alisson diz sentir-se orgulhoso de ser um pregoeiro e que não pensa em deixar o ofício. “Mais da metade da minha vida passei aqui vendendo esse doce que é uma tradição aqui em São Luís e tão cedo não penso em me aposentar. Espero que alguém da minha família dê continuidade quando eu não puder mais vender”, explicou o vendedor, Apesar de ter revelado a receita George Alisson, afirmou que é necessário apenas água, coco ralado e açúcar refinado. E que o verdadeiro segredo está no ponto de “quebrar o queixo” para que o doce esteja pronto para ser apreciado. “É só colocar na panela a água com o açúcar, e após caramelizar a mistura, adiciona-se o coco ralado e mexer com uma colher até ficar pastoso. Em seguida a mistura é colocada em uma travessa para solidificar. Depois é só cortar e servir. Mas tem um segredo que não posso contar”, disse ele em tom de mistério.

Foto: Marcos Caldas/O Imparcial

Outro pregoeiro bastante conhecido na ilha é o seu Cipriano Sabino Vale, de 65 anos de vida, que há 48 deles vende sorvete de casquinha. Natural de São Bento, a cada 15 dias ele vem a capital maranhense só para vender a iguaria no Centro Histórico. Seu Cipriano falou do orgulho de ser vendedor de sorvete de casquinha, pois foi com este ofício que conseguiu criar seus cinco filhos. “Foi com a venda do sorvete de casquinha que ajudei na criação dos meus filhos e graças a  Deus são tudo trabalhadores. Tenho orgulho de vender esse sorvete que faz parte do nosso patrimônio que é provado por turistas que vem até a nossa cidade”, disse o vendedor

Dona Corina a pregoeira mais antiga

O Imparcial também conta a história de Corina Serra da Silva Martins, conhecida carinhosamente por todos como Dona Corina. Natural de Itapecuru, é considerada a pregoeira mais antiga de São Luís (já passou dos 90 anos). Antes da Pandemia do novo coronavírus (covid-19) era comum vê-la vendendo seus pirulitos caseiros enrolados em papel manteiga pelas ruas do Centro Histórico de São Luís. Na época os pirulitos  com os sabores gengibre, caramelo e maracujá  eram vendidos a R$ 1 e em cada tábua ela conseguia  R$ 140.  Dona Corina é viúva há 30 anos e casou-se com 14. Mãe de cinco filhos, um deles falecido, tem ainda oito netos e quatro bisnetos. Mora com uma filha e complementa a pensão com a renda dos pirulitos. A equipe de O Imparcial tentou diversas vezes falar com Dona Corina, mas infelizmente não obteve sucesso.

História registra na literatura e artes visuais

No livro “Pregoeiros: Novo Capítulo na História de São Luís” (2014) de Beatrice Borges, ela relata que os pregoeiros, que tinham esse nome porque gritavam pregões de seus produtos, se espalhavam por toda a cidade, e, com o tempo, ficavam conhecidos das donas de casa, se transformando até em amigos para a vida inteira. “Os pregoeiros mais comuns de que se tem notícia, no entanto, eram: padeiro, vendedor de frutas, principalmente bananas, jornaleiro, carvoeiro, verdureiro, peixeiro, vendedor de camarão, caranguejo e siri, sorveteiro, vendedor de pamonha, vendedor de pirulitos, vendedor de juçara, além dos vendedores de utensílios como pá de lixo, penicos, lamparinas, espanadores, vassouras e ainda compradores de ferro velho e garrafeiro. Eram todos homens fortes e dispostos, porque há de se reconhecer que era (e é) um trabalho árduo. Os produtos eram levados nas mãos e, quando muito, em carros de mão, que também dependiam da força humana para chegar até seus clientes”, diz a escritora em sua publicação.

Quem também fez questão de registrar o ofício dessas figuras folclóricas e tradicionais de São Luís foi o artista gráfico José de Ribamar Cordeiro Filho, na coleção “Pregoeiros e Praças de São Luís Antiga”.  Ele retratou o trabalho dos pregoeiros em 10 peças em formato A4, com desenhos mostrando oito pregoeiros em atividade, além de dois cenários marcantes de São Luís. Em seu trabalho, o artista visual fez uma releitura focada na valorização desses profissionais autônomos, que apesar das dificuldades, trabalham com bom humor e satisfação para ganhar a vida. Cordeiro Filho  já produziu quatro coleções com mais de 50 desenhos.

A primeira coleção saiu em 2000. O trabalho foi apresentado na  catálogo disponível na Feira do Livro de 2018 e  inclui dois desenhos de Galdêncio Cunha, paraense que viveu entre as décadas de 1890 e 1920 no Maranhão, tendo desenvolvido importantes registros fotográficos. As paisagens, retratando a cidade no século passado, foram coloridas por Cordeiro Filho. Maranhense da capital, formado em Desenho pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), aposentado da Funasa, José de Ribamar Cordeiro Filho trabalhou por décadas como desenhista na antiga Sucam, elaborando croquis para mapear o roteiro dos servidores “mata-mosquitos”. Atualmente, divide seu tempo entre o trabalho como diretor do departamento de Documentação da Câmara Municipal de São Luís e os desenhos, charges. Ele assina o site cordeiroart.com.br.

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