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7 em cada 10 pessoas estão endividadas

De acordo com a pesquisa, o principal acúmulo de dívidas dos brasileiros são provenientes de compras feitas com cartão de crédito.

Foto: reprodução

O segundo semestre de 2021 começou com 71,4% das famílias brasileiras endividadas, segundo a  Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Na prática, este percentual quer dizer que no Brasil sete em cada dez famílias estão com dívidas acumuladas.

 Os dados são da Pesquisa Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), que avaliou o cenário no mês de julho passado e constatou que foi o pior da série histórica desde 2010.

O empreendedor Apolidoro Corrêa, 30, faz parte das estatísticas dos endividados. Ele precisou mudar de ramo para conseguir pagar o que devia e voltar a ter equilíbrio nas finanças. 

“As minhas dívidas chegaram a R$ 25 mil, e isto mesmo depois de eu ter vendido o meu carro para pagar outras. O que me salvou foi a pizzaria artesanal que consegui abrir. Tudo o que eu ganho é para pagar as dívidas, estou há dois meses sem dizer que tenho salário”, comentou.

Ele tinha duas barbearias, mas precisou fechar uma delas por causa dos custos de manutenção, aluguel e folha de pagamento dos funcionários. Os empreendimentos ficam em Belém, cidade que teve dois lockdowns desde o início da pandemia de covid-19. “Foi nesses períodos de fechamento das atividades não essenciais que as dívidas aumentaram. O cenário já estava complicado. Eu já enfrentava crise, porque meu caixa deixou de registrar qualquer entrada de dinheiro. Apenas saía, porque as contas chegavam”, lembrou Apolidoro. “Os prejuízos financeiros viraram uma bola de neve. Fiz empréstimos, renegociei dívidas e aos poucos estou me reerguendo porque consegui me reinventar no meio da crise”, destacou Apolidoro.

Para o pesquisador Reis Rocha, que é professor do curso de Ciências Contábeis da Estácio, não há dúvidas de que a pandemia de covid-19 tem uma relação muito forte com o endividamento de grande parte da população brasileira. “Podemos atribuir como a causa principal da inadimplência à crise pandemia de Covid-19, associada a outros fatores como a  inflação elevada, a redução de auxílios sociais por parte do governo que foi no pico da pandemia de coronavírus muito relevante para as pessoas de baixa renda”, cita. 

“Os níveis de desemprego cresceram e tivemos uma drástica diminuição da oferta do trabalho formal e informal”, acrescenta.

Reis ressalta ainda que não se pode esquecer das famílias que foram acometidas pela infecção do coronavírus. Muitas perderam o ente que era responsável pela renda da casa e as que conseguiram se recuperar da covid-19 tiveram gastos com pós-tratamento, que inclui as despesas com remédios, fisioterapia e acompanhamento psicológico por causa da ansiedade.

Cartão de crédito é o grande vilão das dívidas

De acordo com a pesquisa, o principal acúmulo de dívidas dos brasileiros são provenientes de compras feitas com cartão de crédito. Exatos 82,7% dos endividados alegam que chegaram a este ponto porque tiveram de deixar de pagar pelo menos uma fatura ou fizeram o pagamento mínimo, que acumulou juros em cima do valor. “O cartão de crédito apresenta-se como o maior vilão nas opções de crédito de curto prazo”, frisa Reis Rocha. “As famílias estão precisando readequar suas dívidas para períodos mais longos com menor parcela de amortização”, comentou.

Os demais endividados alegam ter ficado endividados por conta do cheque especial, cheque pré-datado, empréstimo e prestações de carro e da casa. “Estes dados revelam que o brasileiro, em sua maioria, não faz o planejamento do orçamento doméstico e acaba acumulando dívidas”, disse o pesquisador.

Planejamento

Para o professor de Ciências Contábeis, o brasileiro precisa adotar a cultura da elaboração do orçamento familiar. 

Essa falta de planejamento leva muitas famílias ao endividamento, pois elas vêm acrescidas de compras por impulso, falta de um fundo de reserva para situações emergenciais. “O caminho mais apropriado para encerrar o ciclo de mau endividamento, primeiramente é aprender a equacionar melhor seus gastos partindo do quanto a família tem de renda mensalmente e o quanto possui de dívidas”, orienta Rocha.

Segundo ele, o planejamento começa com uma lista simples, mas que contenha todos os compromissos financeiros que vai permitir saber as receitas e despesas familiares.

 “É um registro de tudo o que entra no orçamento, como salários, pensões, rendimentos de aplicações; e de tudo o que tem a pagar, como contas, aluguel, impostos e supermercados”, explica.

“Com essa lista, a pessoa terá uma visualização ampla de como poderá lidar com seus custos mensais, elaborando uma estratégia para a quitação das dívidas mais velhas e buscando acabar com os débitos que possuem encargos financeiros mais elevados, procurando o seu gerente de banco, trocando dívidas  como o cheque especial por dívidas mais baratas a exemplo do crédito consignado”, recomenda o contador.

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