EFEITOS DA PANDEMIA

Como cuidar do bem estar mental

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial e cedida à BBC News, 53% dos brasileiros apontam piora do bem-estar mental neste período.

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Medo, angústia, solidão. São muitos, e diversos, os sentimentos de brasileiros, bem como de pessoas do mundo todo, em meio à pandemia de COVID-19, o isolamento social e o risco iminente de adoecimento e morte. Não à toa, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial e cedida à BBC News, 53% dos brasileiros apontam piora do bem-estar mental neste período.

Os dados são preocupantes, já que o Brasil é o quarto pior país nesse quesito – só perde para Itália (54%), Hungria (56%), Chile (56%) e Turquia (61%), respectivamente.

“A pandemia afetou a vida de todos, independentemente da idade e classe social. De repente, nos vimos obrigados a mudar rotina, hábitos e costumes. Passamos a viver isolados em casa, com incertezas do futuro profissional e financeiro e, também, com medo de contrair o vírus e perder pessoas próximas.

Muita gente passou a trabalhar dentro de casa e outros viram-se receosos ao pensar que poderiam levar o COVID-19 para seus familiares, já que fazem parte dos serviços essenciais. Crianças e adolescentes, que antes conviviam com os colegas na sala de aula, hoje são obrigados a realizar tarefas e deveres on-line.”

É o que descreve o psiquiatra Lucas Bifano. E por aí vai, afinal, muita coisa mudou desde março de 2020, de uma forma que muita gente sequer imaginou um dia. E, além de todas as mudanças, as preocupações mexeram com diversos fatores de qualidade de vida das pessoas, como sono, alimentação e prática de atividades físicas.

“Uma noite bem dormida se tornou artigo de luxo. Estamos descontando nossas emoções na comida e quase não movimentamos mais nosso corpo. Tudo isso tem forte influência no emocional das pessoas, principalmente porque ainda não sabemos por quanto tempo teremos de permanecer dessa forma”, diz.

O bem-estar mental, então, sofre e muito. Mas o que quer dizer o bem-estar mental? Quer dizer que as pessoas estão ansiosas e depressivas – transtornos psicológicos e psiquiátricos? Não necessariamente.

Isso porque, de acordo com Lucas Bifano, o bem-estar mental pode ser entendido por quando a mente humana trabalhe de forma harmônica, independentemente dos sentimentos positivos ou negativos e das exigências externas. Tudo de forma equilibrada.

“É saber das nossas limitações e como lidar com as situações adversas, sem desespero ou euforia demais. Segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde –, diversos fatores colocam a saúde mental das pessoas em risco, como estresse, mudanças sociais bruscas, estilo de vida não saudável, entre outros.

Atualmente, com a pandemia, além do medo do contágio, estamos lidando com o enfrentamento de problemas financeiros e sociais. Soma-se a isso a piora nos hábitos alimentares e o aumento do sedentarismo”, explica Lucas Bifano.

Dessa forma, segundo o psiquiatra, “não conseguindo ter bem-estar mental para lidar com tudo o que está acontecendo, a saúde física e mental das pessoas tende a ficar prejudicada, por mais que elas tenham ausência do que consideramos como transtornos mentais ou deficiências. A saúde mental e bem-estar andam juntos e são fundamentais para que consigamos exercer nossas funções enquanto indivíduos perante a sociedade”, aponta.

Assim sendo, Lucas Bifano explica que a piora do bem-estar mental não significa, necessariamente, que haverá o aparecimento de transtornos mentais. Isso até pode ocorrer, mas não é uma regra.

“Todos nós fomos afetados de alguma forma pela pandemia e isso pode acarretar no desenvolvimento de transtornos, como ansiedade e depressão. E mesmo que não haja a presença desses transtornos, estamos preocupados, com medo, passamos a dormir menos, a comer de maneira equivocada, praticamos menos ou nenhuma atividade física e tudo isso influencia no bem-estar físico e mental, trazendo consequências negativas.”

O QUE FAZER?

Ao menor sinal de que algo não está indo bem, é preciso agir. E isso inclui, segundo Lucas Bifano, a ajuda médica especializada, haja vista a importância de um diagnóstico preciso e de um tratamento adequado, seja ele com terapia ou uso de medicamentos em caso de transtornos mentais.

“Já os que não têm nenhum transtorno de ansiedade ou depressão, mas que tiverem o bem-estar afetado pela pandemia, é importante entender que o momento está sendo diferente em todo mundo e que isso pode gerar sentimentos e emoções que antes não estávamos acostumados a lidar com tanta frequência.”

Além disso, é importante se atentar aos hábitos: “Temos de nos cobrar menos, limitar o tempo gasto com notícias negativas, realizar atividades físicas, buscar alimentação equilibrada, evitar o consumo excessivo de álcool como válvula de escape, ter uma boa noite de sono, praticar técnicas de relaxamento, ter tempo de qualidade gasto com nós mesmos, além de fortalecer os laços de amizade e família, mesmo que a distância”, recomenda Lucas.

Isso é essencial, haja vista que, conforme o psiquiatra Diego Tinoco, “o nosso emocional é resultado de diversas situações ambientais e de como reagimos.”

“Assim, considero fundamental nos atentarmos para algumas questões, que, infelizmente, muitos de nós, estamos neglicenciando. É muito importante, portanto, termos estratégias para lidar com o sentimento de solidão. Muitos estão se sentindo sozinhos, sentem falta de uma pessoa para conversar, pedir ajuda, compartilhar os medos e angústias do dia a dia. E, nesse momento, é importante não acanhar e ligar por vídeo ou por telefone mesmo para nossos amigos e familiares. Não tenha receio ou medo de ligar e querer conversar com outra pessoa que era próxima a você”, indica.

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