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Coronavírus: como a reação exagerada fez do Vietnã um caso de sucesso contra o vírus

Com 300 casos registrados e nenhuma morte, o país asiático começou a adotar medidas de isolamento em janeiro, tomando medidas extremas

Aos poucos o país está voltando a normalidade

Apesar de uma longa fronteira com a China e uma população de 97 milhões de habitantes, o Vietnã registrou apenas pouco mais de 300 casos do coronavírus e nenhuma morte.

Quase um mês se passou desde que a última transmissão foi registrada no país, que já está começando a funcionar novamente. Especialistas dizem que, ao contrário de outros países que agora veem infecções e mortes em grande escala, o Vietnã viu uma pequena janela para agir desde o início e a usou totalmente, com medidas rígidas, porém eficazes.

Olhando o exemplo do país asiático, especialistas dizem que pode ser tarde demais para a maioria dos outros países aprender com seu sucesso contra a expansão do coronavírus.

Medidas “extremas, mas sensatas”

“Quando você está lidando com esse tipo de doença desconhecida, patógenos especialmente perigosos, é melhor exagerar”, diz Todd Pollack, da Parceria para a Promoção da Saúde de Harvard, no Vietnã, em Hanói.

Reconhecendo que seu sistema médico logo ficaria sobrecarregado pela disseminação leve do vírus, o Vietnã escolheu a prevenção cedo e em grande escala. No início de janeiro, antes que houvesse casos confirmados, o governo estava iniciando uma “ação drástica” para se preparar para essa misteriosa nova pneumonia, que naquele momento havia feito duas vítimas fatais em Wuhan, na China.

Quando o primeiro caso de vírus foi confirmado em 23 de janeiro – um homem que viajara de Wuhan para visitar seu filho na cidade de Ho Chi Minh – o plano de emergência do país já estava em ação.

“Ele (o governo) agiu muito rapidamente, de maneiras que pareciam bastante extremas na época, mas posteriormente se mostraram bastante sensatas”, diz o professor Guy Thwaites, diretor da Unidade de Pesquisa Clínica da Universidade de Oxford (OUCRU) na cidade de Ho Chi Minh, que trabalha com o governo em seus programas de doenças infecciosas.

O Vietnã promulgou medidas que outros países levaram meses para seguir adiante, introduzindo restrições de viagens, monitorando de perto e eventualmente fechando a fronteira com a China e aumentando os exames de saúde nas fronteiras e em outros locais vulneráveis. As escolas foram fechadas para o feriado do Ano Novo Lunar no final de janeiro e permanecerão fechadas até meados de maio. Uma vasta e intensiva operação de rastreamento de contatos foi feita.

“Este é um país que já lidou com muitos surtos no passado”, diz o professor Thwaites, de Sars em 2003, à gripe aviária em 2010 e grandes surtos de sarampo e dengue.

“O governo e a população estão acostumados a lidar com doenças infecciosas e as temem, provavelmente muito mais do que os países mais ricos. Eles sabem como responder a essas coisas”.

Em meados de março, o Vietnã estava enviando todos os que entravam no país – e qualquer pessoa do país que tivesse tido contato com um caso confirmado – para os centros de quarentena por 14 dias.

Os alunos já estão retornando para as escolas (GETTY IMAGES)

Proteção contra os assintomáticos

O professor Thwaites diz que a quarentena em grande escala é essencial, pois há evidências de que metade da população infectada é assintomática. Todos na quarentena foram testados, doentes ou não, e ele diz que está claro que 40% dos casos confirmados no Vietnã não tinham ideia que estavam contaminados, se não tivessem feito o exame.

Como a maioria dos vietnamitas que retornavam eram estudantes, turistas ou viajantes de negócios, eles tendiam a ser mais jovens e saudáveis. Eles tinham uma chance melhor de combater o vírus, sem colocar parentes idosos em risco, o que significava que o sistema médico poderia concentrar seus recursos nos poucos casos críticos.

Embora o Vietnã nunca tenha tido um bloqueio nacional total, ele mergulhou no isolamento urgente.

Em fevereiro, após um punhado de casos em Son Loi, norte de Hanói, mais de 10.000 pessoas que vivem na área circundante foram isoladas. O mesmo aconteceria com 11.000 pessoas na comuna de Ha Loi, perto da capital, e com a equipe e os pacientes de um hospital. Ninguém poderia entrar ou sair até duas semanas sem nenhum caso confirmado

Esse confinamento localizado – que provavelmente será usado novamente se o vírus reaparecer – significa que o país não fez uma quantidade enorme de testes na comunidade em geral.

“Inicialmente, parecia que essa era uma estratégia de alto risco. Mas acabou por ser absolutamente bom, pois eles foram capazes de isolar e manter um controle completo sobre esses casos”, diz Thwaites.

O país investiu em mensagens pelo celular e todos os tipos de mídias para alertar a população

Uma mensagem pública clara

Mesmo em um estado de partido único como o Vietnã, foi preciso garantir que a população respeitasse as medidas para que uma estratégia tão abrangente funcionasse.

Mensagens de SMS regulares estão sendo enviadas a todos os telefones desde os estágios iniciais do coronavírus e informavam às pessoas o que elas poderiam fazer para se proteger. O Vietnã fez uso da propaganda para realizar uma ampla campanha de conscientização, utilizando imagens e retóricas da época da guerra para unir o público na luta contra um inimigo comum.

Podemos realmente confiar nos dados do Vietnã?

Os dados do governo em relação ao número de infectados são tão baixos que inevitavelmente há perguntas sobre se são precisos, mas o consenso esmagador da comunidade médica e diplomática, afirma que não há razão para duvidar disso.

A equipe do professor Thwaites está sediada no principal hospital de doenças infecciosas do país. Ele diz que se houvesse casos não relatados, não diagnosticados ou perdidos “nós os teríamos visto na enfermaria – e não o teremos”.

Sua equipe também realizou quase 20.000 testes e ele diz que seus resultados correspondem aos dados que o governo está compartilhando.

Mesmo se houve alguns casos perdidos, ele diz que “o que não houve foi um encobrimento sistemático de casos – estou muito confiante nisso”.

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