EUA ameaçam cancelar acordo de Alcântara se Brasil mantiver China no leilão 5G
Bolsonaro diz que a China “cada vez mais faz parte do futuro do Brasil”
O governo dos Estados Unidos está ameaçando acabar com o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) para uso da base de Alcântara, no Maranhão, caso o Brasil mantenha os chineses no leilão 5G, que está previsto para o segundo semestre de 2020.
Os americanos temem espionagem e alegam que não vão utilizar sua tecnologia espacial em um país no qual as redes de tecnologia da informação são controladas por seu rival comercial, a China.
O acordo, que foi aprovado no Senado em 12 de novembro, permite o uso comercial da base de Alcântara para o lançamento de satélites, mísseis e foguetes americanos. Em contrapartida, o Ministério da Defesa estima um faturamento de até US$ 10 bilhões (cerca de R$ 41 bilhões) por ano com o aluguel do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Desde que foi aprovado, um grupo que reúne 13 ministérios tem trabalhado para a implementação do acordo.
O brigadeiro do ar Rogério Veríssimo, disse que “Não há a menor chance de o AST ser prejudicado por conta da China. Fake news. AST já está aprovado por lei”.
Apesar da alegação do brigadeiro Veríssimo, que dá a entender que não há como voltar atrás no acordo, há trechos no texto do próprio AST que abrem espaço para os EUA colocá-lo em suspeição, em especial sobre a questão de troca de tecnologia.
A mensagem com a ameaça da suspensão foi enviada de maneira informal pela diplomacia dos EUA à brasileira dias após a realização da cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizada em Brasília em meados de novembro. O evento, monitorado de perto pelo governo americano, contou com várias sinalizações de Bolsonaro aos chineses. O presidente brasileiro disse que o país [China] “cada vez mais faz parte do futuro do Brasil”.
Um dos objetivos da aliança que o Brasil vem tentando fortalecer com a China é aumentar o valor agregado das exportações brasileiras, atualmente concentradas em commodities. Há uma demanda crescente pela carne suína, bovina e de frango brasileira, motivada pela febre aftosa africana, que reduziu os rebanhos. De janeiro a outubro de 2019, o país exportou 3,86 milhões de toneladas do produto, aumento de 44% na comparação com o mesmo período do ano passado. Outro foco é atrair investimentos em infraestrutura, fato sinalizado pelo presidente chinês Xi Jinping durante a cúpula dos Brics. A China colocou à disposição do governo Bolsonaro mais de US$ 100 bilhões de ao menos cinco fundos estatais.