DIA DAS MÃES

Amor retribuído: Ontem, mães; hoje, filhas

Elas dedicaram a vida a cuidar dos filhos. A retribuição de todo o amor ofertado é terem o mesmo carinho e cuidado quando quem precisa de cuidado são elas

Foto: Honório Moreira/ O Imparcial

Ser mãe com certeza é um dom. É colocar os filhos em primeiro lugar dentre as prioridades. É dar amor, carinho, mas também um bom puxão de orelha quando necessário. É fazer o possível e o impossível para atender às necessidades deles, abrindo mão do que for preciso para isso.

Dizem que o trabalho de mãe não acaba nunca. Mesmo depois que os filhos crescem e seguem seus caminhos, o coração dela continua devotado a buscar fazê-los felizes e plenos. Mas, assim como dois e dois são quatro, a certeza que temos é de que todos envelhecem e, acompanhado disto, vêm a inversão dos papéis, pois agora é a hora dos filhos dedicarem seu tempo e amor em retribuição a tudo que foi feito por eles.
Cuidar de uma pessoa que sofre com o mal de Alzheimer é como cuidar de um filhinho pequeno. Todas as necessidades dela envolvem cuidado, atenção e paciência. Assim como as crianças, é preciso estar de olhos bem abertos a todo instante e deixar aquele sexto sentido de mãe agir em favor da própria mãe.

Aos 85 anos, dona Maria Cavalcante de Alencar, ou dona Branca, como é conhecida, já não consegue lembrar-se de tudo com perfeição. De vez em quando uma coisinha ou outra desaparecem das lembranças e a memória parece pregar peças em uma vida inteira de dedicação à criação dos seus 10 filhos. Hoje são eles que retribuem o carinho na forma de presença constante na vida dela.
A advogada Solange Alencar, de 54 anos, uma das filhas de dona Branca, mudou-se para a casa da mãe para acompanhar o dia a dia dela e poder estar presente em todos os momentos necessários. Mas dona Branca não é de ficar parada. Ela tem uma vida bastante ativa e toda a semana vai para a casa de um dos filhos, estando sempre com alguém da família por perto. “A mamãe já depende da gente para banho, para fazer a alimentação e já não faz mais coisas sozinha. Ela tem duas cuidadoras todo tempo com ela, mas todos os filhos se revezam para ficarmos com ela. Nós nunca pensamos em deixar ela só em uma casa apenas com os cuidadores. Em relação a ela, sempre tem alguém acompanhando”.

O filho mais velho, o contador José Cavalcante de Alencar, lembra que a presença dos filhos faz tanta diferença na vida da mãe que, quando ela passou por uma internação complicada em um hospital, foi a presença deles que ajudou em sua melhora. “Na época, exigimos que tivesse sempre um filho, 24 horas, com ela na UTI. Os médicos disseram que isso contribuiu muito para sua melhora”. Ele lembra com bom humor como a relação com a mãe é semelhante à que ela tinha com ele. “Eu apanhei porque não gostava de comer arroz com feijão e quiabo. Ela não apanha, mas é uma novela para a gente alimentar ela, tem que botar na boca quando ela cisma”.

A relação filhos-mãe tem seus momentos comoventes quando a progenitora passa a se sentir sob os cuidados de quem ela já cuidou, começa a se proteger sob as asas de quem ela confia. “Um detalhe que me emociona muito, de uma vez que estava cuidando dela e fui arrumá-la para dormir e ela perguntou: ‘tu és minha mãe né, por isso cuida tão bem de mim’. Isso me deixou muito emocionada”.

Família Alencar Foto: Honório Moreira

Filha, mãe dedicada

Dedicação é a palavra que classifica a professora aposentada Maria de Oliveira Amaral que, com apreço e ternura, é uma verdadeira mãe para sua mãe. Com a idade avança, Maria Lapa de Jesus, de 91 anos, sofre com diversos problemas de saúde, além do Alzheimer, que fez com que ela esquecesse a maior parte das pessoas. Agora, cabe a Maria Amaral, mais conhecida como Mariazinha, cuidar da mãe e também do marido, que também sofre com problemas de saúde. “Ela tem limitações de locomoção, com alimentação, na visão, memória, audição, entre outras coisas. Eu passei a cuidar dela como filha mesmo, e ela me chama de mãe. Eu estou sempre auxiliando nas coisas que ela precisa fazer e cuidando sempre dela”.

Mariazinha mostra a força que tem ao cuidar da mãe praticamente sozinha, e, mesmo sem muito auxílio dos outros familiares, não deixa se abater e diz que o cuidado com a mãe é o mesmo que teve com os seus três filhos, hoje adultos e morando em outros estados. “Existe uma dificuldade na falta de colaboração dos familiares, mas eu não deixo de cuidar dela e vejo nisso um dever que tenho para com ela. Trato como se fosse uma criança. Às vezes quando ela não quer banhar, por exemplo, converso, explico para ela que precisa, para ficar cheirosinha, e a convenço como se fosse minha filha mesmo”.

A consciência de tudo que foi feito por ela só não supera o amor que Maria Amaral tem por sua mãe. Para ela, os valores gravados em sua memória jamais serão esquecidos, e a lembrança está guardada onde mais importa, no coração. “Essa retribuição eu faço muito consciente de que tenho esse dever com ela, por ser minha mãe, e não é por uma obrigação, é pelo reconhecimento de tudo que ela também já fez por mim. È um amor recíproco. Eu acho que ela não lembra mais o que eu fui para ela, mas eu lembro o que ela é para mim”.

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