Natal

O medo da brincadeira faz pessoas pensarem duas vezes antes de participar

A tradicional confraternização que permite a troca de presentes entre amigos e parentes já foi uma unanimidade

Foto: Reprodução

Não tem jeito. É começar o mês de dezembro – às vezes, até mesmo no fim do mês de novembro – que os preparativos para a noite de Natal começam. Orçamento da ceia, compra das roupas que serão usadas durante a festa natalina, as brincadeiras para divertir a família, os nomes que serão sorteados no amigo-secreto… Amigo-secreto.

Na manhã da última terça-feira (12), a hashtag #DeAmigoSecretoQuero era o quarto assunto mais comentado no Brasil, no Twitter. O que chamou atenção foi a quantidade de tweets zombando da brincadeira ou revelando o fato de que muitos internautas não participariam dos amigos secretos promovidos pela família, pela escola ou pela empresa em que trabalhavam.

A confraternização – chamada também de amigo-invisível ou amigo-oculto –, que permite a troca simples de presentes entre parentes, amigos ou colegas de trabalho, já foi uma unanimidade. Hoje, muitos pensam duas vezes antes de aceitar participar da brincadeira.

O tremor na mão na hora de sortear o papelzinho é sempre presente. Cogitar a possibilidade de dar algo bacana e não receber um presente à altura também tira o sono de quem já disse “sim” para a brincadeira. Isso piora quando não é estipulado o valor para o presente. São muitas indagações que permeiam a mente, até mesmo dos mais amantes da tradicional troca de agrados.

O Imparcial foi às ruas para entender o que tem levado as pessoas a declinar do convite de participar do amigo-secreto. Durante a pesquisa, encontramos muitos que afirmam não querer mais participar por conta de decepções quanto aos presentes.

Pela tradição

Mas alguns, mesmo sabendo das “peculiaridades” da brincadeira, preferem manter a tradição. É o caso da Zezi Marluce, de 37 anos. Ela comentou que vai passar as festas de fim de ano no município de Governador Nunes Freire, por conta de sua mãe, que agora está morando na cidade. “Este ano, vamos passar as festas do fim do ano lá em Governador Nunes Freire, pois queremos passar junto da mamãe. Já estamos organizando o amigo-invisível porque é tradição, não tem como não fazer”, diz.

“Eu já tive várias experiências ruins com amigos invisíveis na escola. Mas, apesar de tudo, eu sempre gosto de participar, principalmente na família. Eu penso que o que importa não é o presente, mas o carinho, a dedicação dada quando se pensa em dar um presente para alguém”, declara.

O estudante Kristian Nascimento revela que, a contragosto, vai participar de dois amigos invisíveis, um da família do pai e outro da família de sua mãe. “Tenho que participar, para não ser antissocial. Eu não gosto muito da brincadeira. Confesso que já gostei muito, mas hoje não chama mais atenção por vários fatores”.

Decepcionados

Quem revela esses fatores é a Karla Thalita, de 19 anos. “Não participo porque nunca é uma sensação boa você comprar um presente legal, que a gente ‘racha a cuca’ para pensar no melhor e, então, você ganha algo bem abaixo do esperado. A sensação é de tristeza total”, reclama.

A vendedora ambulante Luísa Melo mostra certo equilíbrio ao falar sobre a brincadeira. Para ela, se deixar de participar, que se tenha um bom motivo. “Eu acho normal a pessoa dizer que não quer participar, mas pode parecer grosseria ou falta de simpatia. Eu mesmo participei de um amigo-invisível na família poucos dias atrás. Não foi um grande presente, mas jamais diria não sem dar um bom motivo”.

Já a servidora pública Rosimeyre dos Santos revela que já negou sua participação no amigo-invisível do trabalho. “Eu mesmo não gosto de me decepcionar, então, já disse não para o amigo que vai ter no meu trabalho. É sempre a mesma coisa”, resigna-se.

Como dizer “não”

A gerente de Recursos Humanos Priscilla Marques indica que não soa bem negar a participação na brincadeira, principalmente no âmbito ocupacional. No entanto, se o colaborador não sentir a mínima vontade de participar, que negue com discrição e educação.

“A brincadeira em sua essência tem por objetivo aproximar pessoas, confraternizar, descontrair e oportunizar conhecer melhor os colegas que muitas vezes ocupam ambientes compartilhados, mas que não têm contato constante no dia a dia por suas atividades não serem diretamente interligadas. E caso o colaborador não possa participar, ele deve explicitar seus motivos, mas sem muitas explicações”, pontua.

“É bom participar, para se permitir troca de experiências, conhecer melhor os colegas e confraternizar, mas, se por algum motivo não puder participar, não existe a obrigação em entrar na brincadeira, é bem democrática. Assim, fica leve e se evita aborrecimentos por qualquer pessoa que se sentir obrigada a participar de algo que não deseja!”, observa a especialista.

De onde vem o receio?

Uns alegam falta de dinheiro. Outros confirmam que não querem se decepcionar novamente. Há também aqueles que não acreditam na brincadeira. Também tem aqueles que preferem se abster de comprar presentes para usar o dinheiro em algo mais urgente. Na verdade, as motivações são várias e dependem das experiências e prioridades de cada um.

“Existem alguns fatores que contribuem para isso. Abaixo podemos citar como exemplos: a questão financeira, que repercute sobre a adesão à brincadeira, e o fator motivacional, pois o clima no ambiente corporativo é algo muito sensível e pode implicar diretamente na satisfação e comportamento de um colaborador. Outro fator também muito relevante tem sua origem em ter participado de brincadeiras em anos anteriores e ter ocorrido alguma frustração e insatisfação”, analisa Priscilla Marques.

Sem gafes, por favor!

Como, então, lidar com o fato de ter dado um presente mais elaborado e não ter recebido algo à altura do que foi entregue? Priscilla Marques aconselha que “a expectativa em receber algo compatível com o que foi dado é uma incógnita, por isso, melhor não arriscar e ficar na margem do preço estipulado. Mas, se isso acontecer, seja simpático e educado. Se puder trocar, o faça, mas não demonstre sua frustração e evite comentários sobre o fato com os colegas para não gerar entraves e comprometer o momento”.

Mas, e se eu sortear alguém que não gosto? A saída é, segundo a analista de RH, “trocar de forma imediata, para evitar constrangimentos posteriores na confraternização. Pior que ganhar algo que não gostou, é ganhar de quem você não gosta e vice versa!”.

Na hora de sortear os papéis, acabei tirando o nome do meu chefe. O que fazer? A especialista enfatiza: “Proceda de maneira natural, afinal, é um momento de descontração. Não deve exceder o valor máximo do presente por tirar o chefe”, pondera.

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