Incômodo

A invasão dos mosquitos na área nobre de São Luís

Moradores dos bairros Ponta d’Areia, Lagoa da Jansen e Renascença têm que conviver com os intrusos nada agradáveis. A população de mosquitos aumenta proporcionalmente com a poluição

Reprodução

As pragas já foram quase a ruína de império, segundo contam os escritos bíblicos, sobre as dez pragas do Egito antigo. Nos dias de hoje, em um centro urbano como São Luís, as pessoas talvez não temam gafanhotos ou moscas como em 1200 aC, mas existem aqueles que podem atormentar a vida delas, e causar vários transtornos, como os mosquitos da espécie Chironomidae, que tem incomodado a vida de moradores de bairros nobres da capital.

Como o nome popular sugere, ‘pragas’, os mosquitos de várias espécies são assim chamados pelo incômodo que causam à vida das pessoas. Esses pequenos, mas desagradáveis, insetos têm tirado o sono de muitos moradores em bairros considerados nobres na Grande Ilha, e também alertam para o nível de poluição que existe nestas regiões.
Na Ponta d’Areia, vários moradores estão tendo que conviver com uma espécie de mosquitos de cor esverdeada, que causa uma imensa sujeira, por formar quase que um tapete quando mortos e que precisam ser limpos constantemente nos apartamentos e áreas comuns dos prédios.

Morador de um dos prédios na região, o médico Sylvio Batista conta que o problema está presente em vários condomínios na área da Península, em São Luís. “Em meados do mês de abril, uma quantidade absurda de mosquitos verdinhos aparentemente inofensivos e que se depositam no chão e no teto começaram a aparecer todos os dias por essa região”.

Segundo ele, todos os dias aparecem mais mosquitos, e o incômodo só aumenta, além da sujeira que causam geralmente pela manhã, quando aparecem mortos no chão. No fim da tarde, já é possível ver uma grande quantidade voando por lá, atrapalhando a circulação de pessoas.

O motoboy Luís Carlos Alves pontua que é muito mais delicado para quem anda de moto. “Você passa até pela Avenida dos Holandeses e às vezes de tardezinha já vem esses mosquitos passando por perto do seu rosto. Isso é perigoso porque, se entrar no olho, é provável acontecer um acidente”. Ele acrescenta que quando circula na área da Península sempre tenta ter atenção para que não entrem mosquitos em seu capacete. “A gente fecha a viseira né, mas nem sempre andamos com ela fechada, porque atrapalha olhar, principalmente de noite, e é nesses horários que esses mosquitinhos aparecem”, completa.

“Esperamos que as autoridades se manifestem e nos mostrem a solução para este problema, principalmente, tendo em vista os prejuízos que a poluição pode causar para nossa comunidade”, pontua Sylvio Batista.

Intervenções

Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) informou que realiza constantemente vistorias na região e que, diante da denúncia, enviará uma equipe do Laboratório de Análises Ambientais para verificar a água, assim como uma equipe de fiscalização. A Sema informou também que, semanalmente, vistoria questões relativas ao lançamento de esgoto e aplica medidas cabíveis aos responsáveis em casos confirmados de poluição.

A Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) informou em nota que, desde 2015, executa o programa ‘Mais Saneamento’, que objetiva aumentar de 4% para até 70% o índice de esgoto tratado da capital até 2018.

A companhia destacou que importantes ações já foram realizadas, trazendo resultado direto na melhora dos índices de balneabilidade, tais como a despoluição dos rios Claro e Pimenta, e a entrega da ETE Vinhais, uma das maiores estações de tratamento de esgoto do Nordeste e que tem capacidade de tratar 700 litros de esgoto por segundo, de 350 mil moradores de 48 bairros da capital.

Ainda sobre a Lagoa da Jansen, a Caema esclareceu que tem realizado uma série de intervenções na área, visando a despoluição da Lagoa. Tais intervenções consistem na retirada de pontos de lançamento de esgoto in natura, que são interceptados e interligados à rede existente, que também está passando por obras de ampliação.
Segundo a companhia, somam-se a isto fatores importantes como intensidade das chuvas e ligações inapropriadas ou clandestinas de água pluvial na rede de esgoto, uma anomalia técnica que contribui grandemente para o estrangulamento do sistema.

Investigação
Um laudo realizado em um condomínio na Ponta d’Areia atesta que os mosquitos que aparecem em grande quantidade são da família Chironomidae, da ordem Díptera, que colonizam todos os ambientes aquáticos como rios, riachos, lagos, poças de água temporárias, estações de tratamento de esgoto, entre outros. O fato de todos os dias uma grande quantidade deles aparecer mortos no chão está ligado ao seu ciclo de vida que é bem curto, assim como sua reprodução rápida. Nesse período, sua proliferação é maior devido às chuvas aliadas ao aumento da temperatura.

O documento ressalta ainda, que os insetos são inofensivos, mas o que chama a atenção é que eles são bioindicadores de áreas poluídas, ou seja, a aparição desses insetos está diretamente ligada à poluição existente nessa área.
A preocupação com a poluição nessa região tem provocado um sentimento de frustração nos moradores com relação ao cuidado e à atenção dados a estas áreas, especialmente à Lagoa da Jansen, local onde os níveis de contaminação estão altíssimos.

Um trecho do laudo realizado no condomínio atesta: “A Ponta d’Areia está localizada muito próxima à Lagoa da Jansen e as duas fazem parte do Parque Estadual da Lagoa da Jansen por causa da ecologia da região. Atualmente, a Praia da Ponta d’Areia se encontra em quase toda a sua extensão com placas de avisos sobre os índices altíssimos de coliformes fecais, que estão acima do permitido. Esses resultados foram dados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Maranhão (Sema), que realizou pesquisas em todas as praias de São Luís. Outra grande questão quanto aos impactos ambientais é o lançamento de esgoto e dejetos in loco na Lagoa da Jansen, causando transtornos à saúde pública e ao ambiente aquático ao comprometer os teores de oxigênio da água. Assim sendo, reforço que a espécie em questão é um problema ambiental, são indicadores de poluição e é ocasionado por falta de políticas públicas e infraestruturas sanitárias adequadas”.

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