OPINIÃO

Leia ‘No Maranhão nada passa’, artigo do empresário Carlos Gaspar

Passa em mim a sensação de distanciamento da nossa cidade, como se dela estivesse me separando em definitivo ou por um longo tempo.

Estou deixando São Luís para trás. Percebo isso no decolar do avião em que me encontro, com os primeiros metros se apartando da pista, aos poucos também ganhando altura, a velocidade crescente. Passa em mim a sensação de distanciamento da nossa cidade, como se dela estivesse me separando em definitivo ou por um longo tempo.
Ausento-me por duas semanas, para recompor as forças do corpo e da mente, tão exauridas se acham pelas tribulações de um cotidiano surpreendente, antes nunca experimentado por mim. Por longos meses, dois anos ou mais, sem saber o que significa dormir em plenitude, sinto-me em descompasso com o tempo.
Tão marcantes são as noites, que chego a temê-las. Não se trata de medo da escuridão, que torna mais vivo o clarão dos raios que cortam os céus, quando as preces dos homens se voltam para Deus. Nem dos fantasmas que saem da minha mente, substituindo os sonhos que não pude ter, tão necessários ao repouso do corpo.
O avião continua a subir, a cidade mais distante. Talvez eu possa agora relaxar um pouco, imagino, ao quebrar a minha desgastante rotina, com o início desse pequeno período de férias. Todavia, penso novamente na cidade, de repente volto no tempo e dou conta de que a quadra eleitoral findara, confirmando o atual prefeito para o exercício de mais um período de quatro anos, a esta altura já reempossado no cargo.
Lembro-me, alguns comentaristas chegaram indicar a possibilidade do pleito se resolver com a derrota do ocupante do Palácio de La Ravardière, que buscava a renovação do seu pálido mandato. Ocorre que o eleitor novamente mostrou a cara, na afirmação de que sua vontade ainda está em harmonia com os caprichos dos velhos políticos, ou dos políticos que, embora novos na idade, já envelheceram porque ainda incorporam métodos que se perderam na dinâmica do tempo.
De fato, os votos confirmaram o nome do atual prefeito, para mais um mandato. Diferentemente do que aconteceu em quase todas as grandes e médias cidades brasileiras, em que prevaleceu a promessa da prática de um novo conceito de gestão pública. Assim, o fator determinante da vitória do candidato à reeleição de prefeito de São Luís limitou-se às obras que ele realizou no último ano de sua administração, pois nos três primeiros nada fez de expressivo. Cingiram-se elas notadamente ao asfaltamento de inúmeras ruas, totalizando quilômetros de pavimentação.
Há quatro anos, cumprindo a missão de pretenso cronista, fiz comentários sobre o momento em que o jovem Edivaldo Holanda Júnior havia sido investido no cargo de prefeito de São Luís. Dizia eu que passaríamos a viver uma nova era na história política da capital maranhense. É que a disputa pelo cargo, naquela altura, se dava sob a proposta da mudança do velho pelo novo, a mesma onda que havia se espalhado pelo país.
Equivoquei-me, ou melhor, certamente deixei prevalecer em mim o sentimento da esperança, pois tudo continuou como antes. Busco, então, na memória, certa apreciação que eu havia feito, também numa das minhas crônicas, acerca do estado em que se encontravam as ruas de São Luís e do asfalto que elas certamente receberiam, logo que se aproximassem as eleições. Entretanto, como na administração municipal só falavam em falta de recursos, por menor que fosse a necessidade, eu mesmo não me achava totalmente convencido do que escrevera, embora já corresse a notícia, à boca pequena, de que o governador estaria disposto a ajudar o prefeito. Coisas de política.
De fato, foram iniciados e sequenciados de modo intenso os trabalhos de asfaltamento de vários bairros desta capital. Assim, ficou público e notório que o governador havia aberto os cofres do Estado, com vistas a um programa de asfaltamento abrangendo vários municípios, mas que beneficiava, sobremodo, o senhor Edivaldo Holanda Júnior, na disputa que concorria para permanecer no cargo de prefeito de São Luís. O que hoje não sei é se o senhor Flávio Dino irá se beneficiar dessa ajuda, quando se candidatar à reeleição de governador, no próximo ano. De qualquer modo, para o cidadão ludovicense, valeu.
O avião segue, em voo de brigadeiro, para o seu destino, que já está próximo. Observo os ponteiros do meu relógio, asseguro-me de que estou em uma aeronave e logo reflito que me acho em gozo de férias. Nada de pensar no que passou, porque no Maranhão nada passa, tudo permanece estático: Vivas aos velhos métodos e morte ao moderno conceito de gestão pública!

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